Listão da Semana,

O ‘Veado assassino’ de Santiago Nazarian e mais 11 lançamentos

Na forma de uma longa entrevista, o escritor Santiago Nazarian relata um assassinato ficcional envolto em provocações políticas e questões de sexualidade e genêro

28jul2023 | Edição #71

Adolescente não binarie mata presidente de extrema-direita. Ao menos na literatura, em que ousadia e imaginação são matéria-prima. É dessa premissa explosiva que Santiago Nazarian constrói Veado assassino, romance que chega nesta semana às livrarias. Com esse assassinato ficcional, relatado na forma de uma longa entrevista, o autor lança provocações políticas e discute questões de sexualidade e gênero. 

A semana também tem humor, delicadeza e memórias na coletânea da ensaísta Vilma Arêas; uma análise psicanalítica dos lutos, por Christian Dunker; Os perigos de fumar na cama (ou os horrores da ditadura militar nas tramas da argentina Mariana Enriquez); o ressentimento como ameaça à democracia no ensaio de Cynthia Fleury; um romance da cineasta paranaense Ana Johann e uma análise dos vestígios da presença negra escondia na História branca da acadêmica norte-americana Christina Sharpe, além de outras novidades.

Viva o livro brasileiro!

Veado assassino. Santiago Nazarian.
Companhia das Letras • 112 pp • R$ 69,90/37,90

No novo romance do escritor e tradutor paulistano – autor de Neve negra (2017) e Fé no inferno (2020), finalista dos prêmios Jabuti, Oceanos e Machado de Assis –, um presidente fascista é assassinado por um jovem não binário. Numa narrativa estruturada por meio de diálogos, o autor retrata toda uma geração engajada e individualista, enredada em questões raciais, sexuais e de gênero, que sabe o que precisa combater, mas não o que defender.

Leia também: Jornalista turca explica como países se perdem em múltiplos fascismos e oferece um jeito de buscarmos uma saída

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Todos juntos (1976-2023). Vilma Arêas.
Org. Samuel Titan Jr. • Fósforo • 560 pp • R$ 129,90

Contém os sete livros de ficção publicados pela professora titular aposentada de teoria literária da Unicamp, especialista na obra de Clarice Lispector. O volume apresenta desde Partidas (1976), seu livro de estreia, até o inédito Tigrão (2023), passando pelos vencedores do Jabuti Aos trancos e relâmpagos (1988), A terceira perna (1992) e Um beijo por mês (2018), em que a autora mistura ficção, memórias, poemas, cartas e um quê de ensaio.

Leia também: Contos breves de Vilma Arêas são retratos de momentos de afetividade e delicadeza escritos com humor e, em certos casos, gravidade

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Lutos finitos e infinitos. Christian Dunker. 
Paidós • 488 pp • R$ 119,90/79,90

Professor titular de psicologia da USP analisa o trabalho do luto – o processo de recomposição, simbolização e introjeção da perda (de uma pessoa, de um emprego, de uma época, de um sonho). Segundo Dunker, o luto é uma experiência solitária, terminada quando se interliga com outros lutos, próprios e alheios, que se reúnem e se rearticulam envolvendo reparações e mudanças.

Trecho da introdução
Essa é a ideia central deste livro. Um luto termina quando a perda se integra em uma cadeia de lutos que o precedeu e o tornou possível. Essa tarefa pode se afigurar terminável para alguns e infinita para outros. Assim como a análise, que apresenta um tempo terminável e interminável, o luto também é uma experiência de conexão e desconexão entre separações, envolvendo reparações e transformações futuras, e não apenas passadas. Mas uma análise interminada não pode ser confundida com a análise infinita. Aliás, uma das conquistas de uma análise bem terminada é a consciência de que toda análise é infinita.

Leia também: Coletânea de Christian Dunker convida a reinventar afetos cotidianos e a questionar nossos modos de sofrer

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Os perigos de fumar na cama. Mariana Enriquez.
Trad. Elisa Menezes • Intrínseca • 144 pp • R$ 49,90/34,90

Publicada originalmente em 2009, em espanhol, esta é a primeira coletânea de contos da argentina, autora de As coisas que perdemos no fogo (2017). Reúne doze narrativas nas quais os horrores da ditadura militar reaparecem em tramas sinistras, nas quais crianças desaparecidas voltam do mundo dos mortos e ossos desenterrados por uma menina no seu quintal carregam terríveis maldições.

Leia também: Mariana Enriquez politiza a literatura de terror ao povoar seus contos com feminicidas e desaparecidos da ditadura

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Curar o ressentimento: o mal da amargura individual, coletiva e política. Cynthia Fleury.
Trad. Milena P. Duchiade • Bazar do Tempo • 232 pp • R$ 78

A filósofa e psicanalista francesa, professora titular do Conservatoire National des Arts et Métiers, discute a questão do ressentimento no mundo contemporâneo, abalado pela emergência das redes sociais e de novas forças políticas. Fleury mostra que esse problema de saúde psíquica – um descontentamento que se transforma e se cristaliza em ódio – constitui a principal ameaça à democracia, e aponta os caminhos para identificar, diagnosticar, sublimar e curar esse sentimento sombrio. 

Leia também: No país do ressentimento — De Bernardo Carvalho a Chico Buarque, passando pelos quadrinhos de ‘Confinada’, a ficção traz as verdades desagradáveis do projeto suicida que o Brasil escolheu

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História para matar a mulher boa. Ana Johann.
Editora Nós • 256 pp • R$ 69

A cineasta e escritora paranaense, que na literatura tem se dedicado a temas como a sexualidade e a mulher, conta a história de Helena. Vinda de uma família conservadora do interior, a protagonista seguiu os caminhos das normas tradicionais, com estudos frustrados e sonhos interrompidos por uma gravidez. Coadjuvante de sua própria vida, ela anseia muito por uma ruptura, mas percebe que sua vida é um grande campo minado.

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No vestígio: negridade e existência. Christina Sharpe.
Trad. Jess Oliveira • Ubu • 264 pp • R$ 69,90

A acadêmica norte-americana, professora na York University de Toronto, ilumina os vestígios da presença negra escondida numa História branca. Recorrendo a documentos históricos, romances, poemas e outras obras de arte, ela desvela os impactos do sistema escravista nas vidas das pessoas negras e a estrutura de uma sociedade moldada para ignorar e explorar seu sofrimento.

Leia também: Cida Bento aponta a necessidade de romper com a ideia de universalidade como pertencente ao grupo branco e com seus silêncios e pactos de proteção

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Vapt-vupt
+ novidades quentinhas

Mulher preta na política. Olivia Santana.
Malê • 226 pp • R$ 58

Descreve sua infância sofrida – fome, doenças, barracos insalubres – e ressalta a importância da educação na transformação da vida das pessoas negras. 

O mundo é grande. Carlos Drummond de Andrade.
Raquel Cané • Record • 72 pp • R$ 79,90

Versão ilustrada pela compositora e artista visual argentina de um poema célebre sobre a imensidão do amor.

A ciranda das mulheres sábias: ser jovem enquanto velha, velha enquanto jovem. Clarissa Pinkola Estés.
Trad. Waldéa Barcellos • Rocco • 128 pp • R$ 49,90

A psicóloga junguiana – autora de Mulheres que correm com os lobos (1992) – analisa as formas de opressão sobre as mulheres e a importância da conexão corpo/alma.

O Rio de Prata: contos da trilogia de Daevabad. S. A. Chakraborty.
Trad. Jorge Ritter • Morro Branco • 304 pp • R$ 79,90

Quinze contos narrados por protagonistas da série: uma futura rainha arrisca seu reinado diante de uma ameaça mortal, e um guerreiro se arrepende de suas ações.

Freud e a descoberta do inconsciente. Octave Mannoni.
Trad. Lélia Gonzalez • Zahar • 192 pp • R$ 74,90

Traduzida pela intelectual e ativista negra Lélia Gonzales, esta biografia de Freud foi escrita pelo psicanalista francês autor de um estudo polêmico sobre a psicologia da colonização e um dos primeiros discípulos de Lacan.

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Quem escreveu esse texto

Iara Biderman

Jornalista, editora da Quatro Cinco Um, está lançando Tantra e a arte de cortar cebolas (34).

Mauricio Puls

É autor de Arquitetura e filosofia (Annablume) e O significado da pintura abstrata (Perspectiva), e editor-assistente da Quatro Cinco Um.

Matéria publicada na edição impressa #71 em maio de 2023.