Listão da Semana,
Novos livros da semana do 8M
Um romance inédito de Simone de Beauvoir, uma reflexão de Silvia Federici sobre o trabalho doméstico não remunerado, o diálogo entre as autoras negras Françoise Ega e Carolina Maria de Jesus e mais
12mar2021 | Edição #43Saudade de visitar uma livraria para ver as novidades, né, minha filha? Ainda mais neste 8 de Março, cheio de lançamentos incríveis de grandes autoras brasileiras e estrangeiras. Por isso nós criamos a newsletter Listão da Semana: ela é como aquela mesa de novidades que toda boa livraria física tem, logo na entrada.
Toda segunda, a newsletter traz uma curadoria dos melhores títulos que chegam às livrarias brasileiras ao longo da semana. E aos domingos o conteúdo da newsletter da segunda anterior será publicado no site da Quatro Cinco Um. Assine agora mesmo a newsletter para receber a edição da próxima segunda.
Estreamos em 8 de Março com um romance inédito (isso mesmo: inédito) de Simone de Beauvoir, inspirado em uma amizade da juventude que moldou sua visão sobre sexismo e igualdade de gênero; o novo romance da nossa colunista Djaimilia Pereira de Almeida; uma reflexão de Silvia Federici sobre o trabalho doméstico não remunerado, exercido sobretudo por mulheres; o diálogo entre duas autoras negras — Françoise Ega, da Martinica, e Carolina Maria de Jesus, do Brasil; e uma celebração dos quarenta anos do álbum Sorriso negro, de Dona Ivone Lara, estrela da música brasileira que fez história em um ramo tradicionalmente masculino. Receitas vegetarianas, uma viagem pelas ex-repúblicas soviéticas e como combater o negacionismo você também encontra aqui.
Sabemos como você, assim como nós, tem o incurável vício por livros. A newsletter, semanal, gratuita e aberta a todos, reúne informação em primeira mão e independente sobre os melhores livros que estão chegando, com curadoria e sinopses elaboradas pela nossa equipe, sempre com base nos livros e provas fornecidos pelas editoras, jamais com base em releases e textos de divulgação. Sempre que possível, adiantaremos trechos, resenhas e outros materiais.
Mais Lidas
Viva o livro brasileiro!
O patriarcado do salário. Silvia Federici.
Trad. Heci Regina Candiani • Boitempo • 208 pp. • R$ 49
Considerado ainda hoje uma suposta “vocação natural da mulher”, o trabalho doméstico é uma criação recente, surgida no final do século 19, quando as mulheres foram excluídas do trabalho nas fábricas. Nasceu então a concepção de que o salário do homem deveria sustentar a família, e a mulher tinha de se concentrar nos afazeres do lar. Nesse livro, a filósofa e ativista italiana mostra que o trabalho doméstico não remunerado tem papel central na sustentação do sistema capitalista, e aponta que é preciso ir além de Marx para superar a lógica da propriedade privada e desenvolver novas formas de cooperação social.
Em entrevista a Paula Carvalho quando esteve no Brasil, em 2019, Federici declarou: “É inaceitável que apenas o trabalho fora da casa deva ser remunerado, que existam trabalhos que possibilitam a sua sobrevivência e outros não. Fico escandalizada que muitas socialistas feministas aceitam a premissa da desvalorização do trabalho doméstico”. Na última quarta-feira (10), a filósofa participou da conversa Feminismo, comuns e ecossocialismo, ao lado da líder indígena Sonia Guajajara, no ciclo de debates gratuito Por um feminismo para os 99%, organizado pela editora Boitempo, viabilizado com a Lei Aldir Blanc e com apoio da Quatro Cinco Um. Veja aqui a programação completa. Leia também as resenhas de O ponto zero da revolução e Mulheres e caça às bruxas, de Federici.
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As inseparáveis. Simone de Beauvoir.
Trad. Ivone Benedetti • Record • 399 pp • R$ 39,90
Publicado trinta anos após sua morte e quase setenta depois de ser escrito, o romance inédito de Beauvoir é uma ode à amizade da autora com Elizabeth Lacoin, a Zazá, que morreu aos 21 anos. Na Quatro Cinco Um, a pscianalista e crítica literária Fabiane Secches faz um paralelo com a tetralogia napolitana de Elena Ferrante: “A amiga genial ficou conhecido como o primeiro romance a explorar com fôlego e complexidade a ambivalência que pode existir em uma relação de amizade entre duas mulheres. Agora, temos acesso a uma outra obra que já sondava literariamente o mesmo tema. Em Beauvoir, o que motiva a narrativa é a morte da amiga, enquanto em Ferrante a ausência que desencadeia a escrita se dá pelo desaparecimento”. Leia o texto aqui. As inseparáveis conta com fotos do arquivo pessoal de Beauvoir e cartas trocadas entre as duas amigas.
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Cartas a uma negra: narrativa antilhana. Françoise Ega.
Trad. Vinícius Carneiro e Mathilde Moaty • Todavia • 256 pp. • R$ 59,90
Filha de uma costureira e de um guarda-florestal da Martinica, a escritora migrou para a França em 1946, onde trabalhou como faxineira. Em 1962, leu uma reportagem na revista Paris-Match sobre o livro Quarto de despejo, da brasileira Carolina Maria de Jesus, com quem imediatamente se identificou. Começou então a escrever cartas tendo Carolina como “leitora ideal”, nas quais revela toda a violência e a exploração vivenciadas pelos antilhanos na Europa.
Trecho do livro: Maio de 1962: "Eu descobri você, Carolina, no ônibus. Levo vinte e cinco minutos para ir até meu emprego. Penso que não tem a menor serventia ficar se perdendo em devaneios no trajeto para o trabalho. Toda semana me dou o luxo de comprar a revista Paris Match; atualmente, ela fala muito dos negros. Foi assim que conheci a sublime sra. Houphouët com seu vestido de gala. Eu não iria lhe dedicar as minhas palavras, ela não teria compreendido. Mas você, Carolina, que procura tábuas para o seu barraco, você, com suas crianças aos berros, está mais perto de mim".
Fique ligado(a): Na próxima edição da Quatro Cinco Um, Fernanda Miranda, que compõe o conselho editorial responsável pela publicação da obra completa de Carolina Maria de Jesus pela editora Companhia das Letras, assina uma resenha do livro de Ega.
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Dona Ivone Lara: Sorriso negro. Mila Burns.
Trad. Alyne Azuma • Cobogó • 162 pp • R$ 46
“Dona Ivone Lara ficou conhecida como a primeira-dama do samba, um título que contradiz por completo seu trabalho pioneiro e sua independência como compositora, uma vez que sugere a presença de uma figura masculina forte ao lado dela”, escreve a jornalista e pesquisadora Mila Burns no livro que apresenta um perfil da cantora e compositora carioca e uma extensa análise do disco lançado em 1981. As letras sobre orgulho negro, empoderamento feminino e liberdade de Sorriso negro — que inclui canções de sucesso como “Alguém me avisou” ("Eu vim de lá/Eu vim de lá/Pequenininho…") e “Tendência”, além da faixa-título, que diz que “negro é a raiz da liberdade” — refletem as tensas relações do Brasil com questões de raça, gênero e democracia na época da derrocada da ditadura militar. Quarenta anos depois do lançamento do disco, muita coisa mudou, mas ainda há um longo caminho pela frente — e a voz de Dona Ivone Lara soa mais necessária do que nunca.
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Sovietistão. Erica Fatland.
Trad. Leonardo Pinto Silva • Âyiné • 520 pp. • R$ 109,90
A jornalista norueguesa Erika Fatland apresenta um relato de suas viagens por Turcomenistão, Cazaquistão, Quirguistão, Tadjiquistão e Uzbequistão, ex-repúblicas soviéticas. Dividido em capítulos dedicados a cada país, o livro procura mostrar a realidade dessas nações 25 anos após o colapso da União Soviética. Com formação em antropologia social e falante de oito línguas, Fatland demonstra interesse pelo cotidiano das pessoas comuns, pela situação das mulheres nesses países onde os homens podem ter mais de uma esposa e pelo absurdo de algumas cenas e personagens. O livro, ganhador do prêmio norueguês Booksellers de não ficção em 2015, é uma boa porta de entrada para conhecer a região do mundo onde prédios são feitos para se parecer com livros e ditadores caem do cavalo em frente às câmeras de TV.
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O espelho e a luz. Hilary Mantel.
Trad. Heloisa Mourão e Ana Ban • Todavia • 768 pp. • R$ 119,90
Como uma autora mantém milhares de leitores em compasso de espera para o fim de uma história que já conhecemos há 480 anos? “Antes de mais nada, uma certa reverência à própria história: Mantel é conhecida pela pesquisa minuciosa dos fatos, dos quais raramente se desvia. É nas lacunas que injeta nova vida a uma trama bem conhecida exatamente por conter o que seduz — poder, sexo, política, religião”, escreveu a jornalista Marina Della Valle ao resenhar a trilogia Wolf Hall na Quatro Cinco Um. Chega agora às livrarias brasileiras o volume final da saga, que explora a figura curiosa de Thomas Cromwell (1485-1540), plebeu que alcançou a posição de braço-direito do rei até perder a cabeça, fim um tanto corriqueiro na corte Tudor.
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A visão das plantas. Djaimilia Pereira de Almeida.
Todavia • 88 pp • R$ 49,90
Há quase um século, em 1923, Raul Brandão lançava Os pescadores, no qual descrevia o personagem capitão Celestino: “Tendo começado a vida como pirata a acabou como um santo, cultivando com esmero um quintal de que ainda hoje me não lembro sem inveja”. Pois é o mesmo Celestino o protagonista de A visão das plantas, de Djaimilia Pereira de Almeida, colunista da Quatro Cinco Um. Após regressar a sua casa, que se lhe apresenta bastante diferente, o pirata atormentado descobre no jardim uma nova razão para viver. “As plantas viam‐no como um olho de vidro vê a passagem das nuvens. Elas e o seu amigo eram seiva da mesma seiva, da mesma carne sem dó nem piedade. Atrás das costelas, no lugar do coração, o corsário tinha uma planta.” O romance conquistou o segundo lugar no prêmio Oceanos em 2020 — em 2019, Djaimilia foi a vencedora do mesmo prêmio, com Luanda, Lisboa, Paraíso.
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A ilusão da lua: ideias para decifrar o mundo por meio da ciência e combater o negacionismo. Marcelo Knobel.
Contexto • 160 pp. • R$ 39,90 • R$ 88
Não faltam mistérios no universo, e a ciência trabalha para estudar e entender esses fenômenos. Mas o trabalho científico (assim como o esclarecimento) demanda tempo e esforço, e isso leva muitas pessoas a escolher os atalhos da ignorância, que tem comandado diversas decisões empresariais, governamentais e individuais no Brasil e no mundo. Neste livro, o reitor da Unicamp reúne décadas de produção voltada ao público não especializado e analisa a natureza da ciência e como ela pode ser aproveitada nas tomadas de decisões da vida cotidiana, e o grande perigo apresentado pelas pseudociências.
Na Quatro Cinco Um, Sabine Righetti, professora e pesquisadora da FGV, faz uma resenha do livro: “Resgatar esse desejo pelo conhecimento, pela compreensão do mundo e das coisas, prega o autor, além de essencial para qualquer sociedade que se pretenda moderna, vai nos ajudar a enfrentar o negacionismo científico — esse fenômeno bastante atual, que faz com que muita gente, inclusive governantes, acredite por exemplo que um vermífugo pode prevenir Covid-19”.
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O som do rugido da onça. Micheliny Verunschk.
Companhia das Letras • 168 pp. • R$ 54,90
O quinto romance da escritora e historiadora pernambucana reconta a história de um casal de crianças indígenas, Iñe-e e Juri, levadas do Brasil em 1820 pelos naturalistas alemães Spix e Martius. Como não tinham imunidade contra doenças comuns na Europa, como a gripe, as crianças morreram dentro de um ano no clima de Munique. O livro entrelaça esse desfecho trágico ao Brasil contemporâneo quando uma jovem descendente dos kaiapós se reconhece em uma imagem de Iñe-e exposta em um centro cultural na avenida Paulista.
Spoiler: a edição 44 da Quatro Cinco Um trará uma resenha assinada por Luciana Araujo Marques sobre o livro: “Ao destrinchar os horrores cometidos em nome da empreitada colonial e da ciência a seu serviço, a obra desdobra-se em diferentes épocas, emaranha uma sucessão de outras histórias que têm nesse extravio original o seu anúncio agônico e opera uma inversão nessa sina ao vocalizar com impetuosidade vital o que enfim se escuta, como promete o título”.
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Alimentação natural para o dia a dia: 100 receitas vegetarianas com ingredientes simples. Sarah Britton.
Trad. Bruno Fiuza • Companhia de Mesa • 240 pp. • R$ 124,90
Sopa de ervilha com gengibre e limão, waffles de falafel, cuscuz com tangerina, biscoito picante de cenoura e cominho, picolé de mojito de melancia. Neste livro, a chef e nutricionista norte-americana, que é especialista em nutrição holística e comanda o blog My New Roots, apresenta cem receitas vegetarianas de sopas, saladas, pratos principais, acompanhamentos e petiscos, todas com ingredientes acessíveis e técnicas fáceis de dominar. Ao fim do livro, ela dá uma lista de ingredientes básicos e ensina o melhor modo de estocá-los. Um dos maiores sucessos do blog de Britton é o brownie cru, que ela desdobra no livro em três receitas — veja a nossa preferida abaixo.
Bolinhas de brownie com laranja e especiarias
Ingredientes: ¹⁄³ de receita (cerca de 165g) de massa de brownie, raspas de 1 laranja, ¼ de colher (chá) de canela em pó, 1 pitada de pimenta-caiena (opcional).
Receita: Misture a massa com as raspas de laranja, a canela e a pimenta-caiena usando as mãos para incorporar totalmente os ingredientes. Modele a massa em dez bolinhas. Mantenha-as no freezer até a hora de servir. Guarde por até um mês no congelador.
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Bichos malvados. Roald Dahl.
Ils. Quentin Blake • Trad. Angélica Freitas e Marília Garcia
Editora 34 • 40 pp • R$ 45
Nesse livro de poemas, um dos mais queridos e populares escritores de literatura infantojuvenil, autor de clássicos como Matilda e A fantástica fábrica de chocolate, mostra o lado malvado dos bichos. Entre eles estão “uma vaca voadora que faz cocô em pleno voo (azar de quem passar por baixo); um porco reflexivo que conclui, sem remorso algum (e por que deveria?), que é melhor devorar seu dono do que ser devorado por ele; e um monstro vivendo na barriga de um menino que exige pudim e paçoquinha”, como conta Samir Machado de Machado em resenha para a Quatro Cinco Um. As ilustrações são de Quentin Blake, que já ilustrou mais de trezentos livros, dezoito de Dahl, e a tradução é das poetas premiadas Angélica Freitas e Marília Garcia.
Você sabia? Roald Dahl teve uma carreira de sucesso paralela como escritor de contos macabros para adultos. Um dos mais famosos, "The Smoker" (também conhecido como "Man from the South"), foi filmado por Hitchcock na série televisiva Alfred Hitchcock Presents (1960) e por Quentin Tarantino no filme Grande hotel (1995). Dahl também escreveu o roteiro de Com 007 só se vive duas vezes (1967), quinto filme da saga de James Bond.
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Por uma revolução africana. Frantz Fanon.
Trad. Carlos Alberto Medeiros • Zahar • 272 pp. • R$ 64,90
O livro traz 28 ensaios e artigos escritos pelo psiquiatra martinicano entre 1951 e 1961, período em que escreveu os célebres Pele negra, máscaras brancas (1952) — leia resenha aqui — e Os condenados da terra (1961). Publicado em 1964, discute questões como a natureza do problema colonial, o racismo e a cultura, a posição dúbia dos intelectuais franceses em relação à Revolução Argelina, a função da tortura no regime colonial e a independência dos países africanos.
Matéria publicada na edição impressa #43 em fevereiro de 2021.
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