Listão da Semana,

Novas cartas portuguesas, García Márquez e mais 15 lançamentos

Com prefácio de Tatiana Salem Levy, a edição brasileira de ‘Novas cartas portuguesas’ retoma os textos escritos por Maria Teresa Horta, Maria Isabel Barreno e Maria Velho da Costa, que ousaram contestar o autoritarismo de Salazar em Portugal

07mar2024

Neste início de março chega às livrarias Novas cartas portuguesas, coletânea de textos de contestação ao autoritarismo instalado por Salazar em Portugal, escrito por corajosas Marias: Maria Teresa Horta, Maria Isabel Barreno e Maria Velho da Costa. Publicado em 1972, o livro causou escândalo, tentativas de censura e um processo contra as autoras por ser “atentatório da moral pública”.

Também chegam ao leitor nesta semana um romance inédito de Gabriel García Márquez; ensaios de Ariana Harwicz; a estreia no romance de Caetano W. Galindo; um livro-reportagem sobre blocos afro, o axé e Daniela Mercury; a autobiografia de RuPaul; um romance de costumes do início do século passado, de Iracema Guimarães Vilela; um novo livro de Pablo Katchadjian; um ensaio sobre a indústria da vergonha, de Cathy O’Neil; o romance de estreia do ambientalista Pablo L. C. Casella; e mais novidades quentinhas.

Viva o livro brasileiro!

Novas cartas portuguesas. Maria Teresa Horta, Maria Isabel Barreno e Maria Velho da Costa.
Pref. Tatiana Salem Levy • Todavia • 352 pp • R$ 99,90

Escrito em 1971, durante o governo ditatorial de Marcello Caetano (que substituíra António de Oliveira Salazar em 1968), o livro reunia 120 textos que expressavam um sentimento de revolta contra o autoritarismo do regime, que se manifestava na esfera social pelo patriarcalismo e pelo marianismo (que pregava que as mulheres deveriam ser puras e obedientes ao marido). O livro saiu em abril de 1972 pela Estúdios Cor, então sob a direção editorial de Natália Correia, que publicou a obra integralmente apesar das pressões do governo. A censura recolheu e destruiu boa parte dos exemplares da primeira edição e instaurou um processo contra as autoras por terem escrito um livro “insanavelmente pornográfico e atentatório da moral pública”. O processo provocou uma onda de apoio internacional às “Três Marias”, mobilizando Simone de Beauvoir, Marguerite Duras e Doris Lessing. O julgamento das escritoras não foi em frente devido à Revolução dos Cravos.

No prefácio da edição brasileira, a escritora Tatiana Salem Levy escreve: “A única regra era a liberdade absoluta. Podiam escrever o que quisessem, do jeito que quisessem. E o resultado foi um livro inclassificável, que contém de tudo um pouco: poemas, cartas, ensaios, citações, contos, reunidos numa ordem que segue apenas a cronologia. Os textos são datados, mas não assinados. Também no que diz respeito aos temas, o livro é constituído dessa pluralidade. Embora a ideia central dele seja libertar a mulher das suas clausuras, redefinindo seu papel, tirando-a de um lugar subjugado e passivo, outras lutas também aparecem: a denúncia da guerra colonial, a emigração, o sistema judicial e a repressão. As ‘Três Marias’ entendiam que a luta feminista nunca está separada da luta por outras minorias. Eram muitas décadas de um regime fascista, que agora explodiam num só livro.” Leia na íntegra o prefácio de Tatiana Salem Levy para o livro Novas cartas portuguesas.

Leia também: Fascismo à portuguesa — Historiador mostra como Salazar instituiu regime próprio e duradouro, equilibrando nacionalismo e liberalismo

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Em agosto nos vemos. Gabriel García Márquez.
Trad. Eric Nepomuceno •  Record • 132 pp • R$ 59,90

Romance publicado postumamente do prêmio Nobel colombiano. Em todo dia 16 de agosto, Ana Magdalena Bach (aliás, o nome da segunda esposa do compositor Johann Sebastian Bach) viaja a uma ilha do Caribe para visitar túmulo de sua mãe. Nessa ocasião, uma vez por ano, ela se permite ser uma pessoa diferente. O texto inédito de Gabo será lançado no dia do aniversário de seu nascimento, 6 de março, neste ano em que se completam dez anos de sua morte.

Leia mais: O desgaste de um casamento é o tema do único texto para teatro de Gabriel García Márquez

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O ruído de uma época: aforismos, correspondências e ensaios. Ariana Harwicz.
Trad. Silvia Massimini Felix • Instante • 144 pp • R$ 69,90

Autora dos romances Morra, amor (2019) e Degenerado (2022), a escritora argentina radicada na França fala de suas experiências na esfera literária nos últimos anos e analisa a criação artística, hoje acossada pelo fantasma do cancelamento. Ela destaca a importância do artista tomar uma posição, mesmo com o risco de provocar inimizades por parecer elitista ou classista.

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Lia: cem vistas do monte Fuji. Caetano W. Galindo.
Companhia das Letras • 232 pp • R$ 69,90

Autor de Latim em pó (Companhia das Letras, 2023) e tradutor de James Joyce, T.S. Eliot, J.D. Salinger e David Foster Wallace, o poeta, ficcionista e linguista curitibano estreia como romancista com uma espécie de mosaico que vai narrando a vida de uma mulher a partir de 99 fragmentos não diretamente conectados.

Leia também: Caetano W. Galindo nos leva a um passeio pela formação do nosso português

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O canto da cidade: da matriz afro-baiana à axé music de Daniela Mercury. Luciano Matos.
Pref. Lauro Lisboa Garcia • Edições Sesc • 212 pp • R$ 40

Análise do álbum O canto da cidade, de 1992, que projetou nacionalmente a cantora, que lançaria a seguir os discos Música de rua (1994), Feijão com arroz (1996) e Sol da liberdade (2000). Com muitas entrevistas (Vovô do Ilê, João Jorge, Margareth Menezes, Herbert Vianna, Armandinho Macêdo, Letieres Leite), o livro-reportagem também narra a trajetória dos blocos afro na capital baiana (Ilê Aiyê, Olodum, Malê Debalê, Muzenza, Ara Ketu) e a evolução do samba-reggae a partir da música “Faraó (Divindade do Egito)”, lançada por Margareth Menezes.

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A casa dos significados ocultos. RuPaul.
Trad. Helen Pandolfi • Intrínseca • 288 pp • R$ 59,90

Autobiografia do multiartista californiano, o primeiro negro a ganhar doze prêmios Emmy, e que desde 2009 apresenta o reality show RuPaul’s Drag Race. No livro, a drag queen conta episódios de sua infância turbulenta, as dificuldades de relacionamento com seus pais, a evolução de sua carreira artística em Atlanta e Nova York, sua vida afetiva, as terapias, a conquista da sobriedade.

Leia também: Ensaio de Renan Quinalha mostra o papel dos espaços públicos e semipúblicos dos grandes centros na consolidação do movimento LGBTI+

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Belos fracassados. Leonard Cohen.
Trad. Daniel de Mesquita Benevides • Todavia • 280 pp • R$ 79,90

Romance experimental do músico, poeta e autor canadense. Escrito sob efeito de anfetaminas, numa ilha grega, em 1966, é uma tragédia envolvendo um acadêmico fascinado pela história de uma virgem indígena que se tornou uma santa cristã, e que, após a morte de sua esposa Edith e de seu mentor F., reflete sobre o amor, a sexualidade e a espiritualidade em uma série de flashbacks líricos e eróticos.

Leia também: A transformação do cantor e compositor Leonard Cohen de celebridade literária em ícone musical

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Nhonhô Rezende. Iracema Guimarães Vilela.
Carambaia • 400 pp • R$ 159,90

Publicado em 1918, o romance de estreia da escritora, que assinava seus livros com o pseudônimo Abel Juruá. A obra se inscreve na tradição dos romances de costumes e é ambientada no Rio de Janeiro e em Teresópolis, cidade serrana fluminense na qual as famílias ricas do final do Império iam passar suas férias de verão. A narrativa se concentra nas figuras da jovem senhora Nair, que, antes de se casar e ter uma filha, teve um breve caso amoroso com o dândi Nestor, o Nhonhô Rezende do título, um mau-caráter frívolo que, auxiliado por sua maquiavélica irmã, está de olho nas fortunas das jovens aristocratas.

Leia também: Em romance de Eliana Alves Cruz, os corpos reprimidos, adoecidos e normatizados do Brasil do século 18 ecoam os da atualidade

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Uma oportunidade. Pablo Katchadjian.
Trad. Bruno Cobalchini Mattos • DBA • 168 pp • R$ 64,90 

Publicado em 2022 pelo autor de A liberdade total (DBA, 2021), o narrador deste romance está convencido de que foi enfeitiçado, e que isso o impede de tomar algumas decisões importantes. Ele se torna frequentador de um bar que vende blends de vinhos e guarda no bolso um papel que uma amiga lhe deu, com os telefones de três feiticeiras que poderiam desfazer a maldição: uma bruxa às antigas, outra moderna e outra com métodos próprios.

Leia também: Dois livros de autor argentino Pablo Katchadjian, processado por viúva de Jorge Luis Borges, parecem rir das convenções do realismo literário

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A máquina da vergonha. Cathy O’Neil.
Trad. Rafael Abraham • Rua do Sabão • 312 pp • R$ 60 

Mostra como a indústria da vergonha se transformou em uma arma usada pelos governos e pelas empresas para transferir suas responsabilidades aos indivíduos: envergonhar as crianças por não terem dinheiro para pagar a merenda escolar e os adultos por não conseguirem um emprego tem servido para livrar essas instituições de responsabilidade. A autora traz histórias sobre clínicas de reabilitação, empresas farmacêuticas e plataformas de redes sociais que vêm lucrando ao humilhar pessoas vulneráveis.

Leia também: O ano da vergonha — A Nobel Annie Ernaux faz uma radiografia das relações entre pobreza, violência doméstica, cristianismo e a obsessão francesa pela etiqueta

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Contra fogo. Pablo L. C. Casella.
Todavia • 320 pp • R$ 79,90

Romance de estreia do escritor paulista, que trabalha como analista ambiental do Instituto Chico Mendes na Bahia. O livro narra a luta de alguns brigadistas voluntários que, munidos de equipamentos precários, arriscam suas vidas para combater os incêndios criminosos que devastam a fauna e a flora da Chapada Diamantina, e que precisam conciliar essa atividade não remunerada com seus compromissos familiares e profissionais.

Clube do Livro 451
Em março, os assinantes do Clube 451 vão receber o livro Contra fogo. Todo mês os assinantes recebem a revista impressa e um livro recém-lançado escolhido por nossos editores. Saiba mais sobre o clube e assine.

Leia mais: O premiado fotógrafo Lalo de Almeida conta o que encontrou e descobriu sobre o Pantanal desde o grande incêndio de 2020

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Vapt-vupt
+ novidades quentinhas

Negros na piscina: arte contemporânea, curadoria e educação. Diane Lima (org.).
Fósforo • 324 pp • R$ 169,90

A obra documenta o debate racial na arte brasileira ao longo dos últimos dez anos, reunindo textos inéditos, conversas, imagens, análises de práticas artísticas e projetos expositivos.

Ervas Daninhas. Dima Abdallah.
Trad. Sônia Gabilly • Paris de Histórias • 160 pp • R$ 69,90

Ganhador do prêmio France-Liban de 2020, o primeiro romance da arqueóloga libanesa descreve o impacto da guerra civil sobre uma família que acaba se separando — a mãe segue com os filhos para Paris, enquanto o pai fica em Beirute.

Sonhos de uma menina negra. Jacqueline Woodson.
Trad. Nina Rizzi • Baião • 336 pp • R$ 69,90

Ganhadora dos prêmios Hans Christian Andersen e National Book relata neste livro de versos sua trajetória  como uma garota afro-americana nas décadas de 1960 e 70, ainda marcadas pela luta por direitos civis em meio aos resquícios das leis de segregação racial.

Viver depressa. Brigitte Giraud.
Trad. Maria de Fátima Carmo • Tusquets/Planeta • 160 pp • R$ 49,90

Ganhador do Goncourt de 2022, este romance está centrado no esforço da narradora que, forçada a vender a casa em que vive e mortificada por sentimentos de culpa, dor e impotência, ainda tenta entender a morte do marido num acidente ocorrido vinte anos antes.

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