Listão da Semana,

J.K Rowling e mais 7 lançamentos

Fresquinhos nas livrarias brasileiras nesta semana estão os livros infantojuvenis de J.K. Rowling e Itamar Assumpção

13out2021 | Edição #50

edição de outubro da Quatro Cinco Um está repleta de dicas dos melhores lançamentos voltados para os pequenos, com temáticas que dialogam sobre isolamento, urbanismo, sustentabilidade, música, ciência e muito mais. Fresquinhos nas livrarias brasileiras nesta semana estão os livros infantojuvenis de J.K. Rowling e Itamar Assumpção. A autora de Harry Potter nos leva à terra dos objetos perdidos ao contar a aventura do menino Jack para reencontrar seu porquinho de brinquedo. Outro animal, o jabuti, é a estrela do livro de Assumpção, que fala aos pequenos sobre a busca pela paz e o respeito à natureza.

Completam a seleção da semana os novos romances de Colson Whitehead e Alejandro Zambra, a estreia de Zakiya Dalila Harris, uma análise sobre a revolta antineoliberal no Chile, três ensaios sobre a crise da sociedade contemporânea e o livro que inspirou o novo filme de Ridley Scott, que chega nesta semana às telas.

Viva o livro brasileiro!

O jabuti não tá nem aí. Itamar Assumpção e Dalton Paula.
Apres. Anelis Assumpção • Editora Caixote • 40 pp • R$ 52

O compositor, cantor e instrumentista Itamar Assumpção (1949-2003) fala carinhosamente do jabuti e o coloca nas mais diversas situações: e se o bicho tocasse sax ou bateria? E se ele fosse para a escola, para a missa ou jogasse bola? O livro foi ilustrado pelo artista plástico Dalton Paula, premiado artista visual e fã de Itamar — e ilustrador da capa da Quatro Cinco Um sobre Machado de Assis —, e o texto foi editado pela poeta Alice Ruiz S., amiga e parceira de trabalho do compositor. O livro é o segundo da coleção Itamar para Crianças. No ano passado, no dia da Consciência Negra, foi lançado o Museu Itamar Assumpção em homenagem à grandeza da arte vanguardista e afrofuturista do artista.

Leia também: Primeiro volume da coleção de Itamar Assumpção para o público infantil aborda antropomorfismo e negritude.

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Jack e o porquinho de Natal. J. K. Rowling.
Ils. Jim Field • Trad. Ryta Vinagre • Rocco • 320 pp • R$ 59,90

A autora de Harry Potter — saga que já vendeu mais de 450 milhões de exemplares ao redor do mundo — conta a história de um menino de sete anos que tem um porquinho de brinquedo desbotado, o Poto, que sempre está a seu lado, nos bons e nos maus momentos. Mas, numa véspera de Natal, acontece um desastre: o porquinho desaparece. Para compensar o ocorrido, Jack é presenteado com um novo Porquinho de Natal, que monta um plano audacioso para recuperar Poto em troca de um favor. Com 320 páginas, o extenso livro é uma boa pedida para ser lido por adultos junto com os pequenos.


Ilustração de Jim Field

Leia também: Livro infantojuvenil de J.K. Rowling tem capítulos disponibilizados on-line gratuitamente.

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Trapaça no Harlem. Colson Whitehead.
Trad. Rogerio W. Galindo • HarperCollins • 384 pp • R$ 54,90

O oitavo romance do escritor norte-americano Colson Whitehead começou a ser escrito antes de O reformatório Nickel (2019), que lhe rendeu seu segundo Prêmio Pulitzer de ficção (o primeiro foi com The Underground Railroad, de 2016), mas só foi concluído em meio à quarentena imposta pela pandemia. O protagonista é Ray Carney, um pacato dono de uma loja de móveis usados que tenta ascender socialmente e entrar para um clube renomado, mas acaba sendo envolvido por seu primo em um assalto no sofisticado Hotel Theresa. Ele adentra então em um Harlem subterrâneo, repleto de criminosos e policiais corruptos.

Trapaça no Harlem é o livro de outubro do Clube 451, no qual todo mês os assinantes recebem a revista impressa e um livro recém-lançado escolhido por nossos editores.

Leia também: O reformatório Nickel narra a prisão de um adolescente negro nos anos 60 para discutir o racismo no atual contexto político.

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Chile em chamas: a revolta antineoliberal. Coletivo Tinta Limón.
Trad. Igor Peres • Pref. Joana Salém Vasconcelos • Elefante • 416 pp • R$ 65

O livro reconstitui a história das transformações do Chile após um aumento na tarifa de metrô de Santiago. O presidente Sebastián Piñera mobilizou milhares de soldados para reprimir os protestos, mas eles cresceram e se espalharam por todo o país: as ruas foram ocupadas por estudantes, ativistas, aposentados, indígenas, trabalhadores, desempregados, pessoas endividadas. “Bem, se você tem quatro milhões de pessoas na rua, é preciso buscar uma saída”, disse à época o presidente da Renovación Nacional, o partido da direita. Piñera recuou, suspendeu o estado de emergência, pediu desculpas pela violência, demitiu um terço dos ministros e anunciou diversas concessões. Uma Assembleia Constituinte foi eleita para enterrar o neoliberalismo de Augusto Pinochet e seus economistas. A eleição, em 2021, foi vencida pela esquerda e pelos independentes — a direita conseguiu apenas 23% das cadeiras. O livro traz entrevistas com dezesseis líderes das manifestações. A autoria é da Tinta Limón, iniciativa editorial coletiva e autogerida sediada em Buenos Aires cujo nome se refere à “tinta de limão”, usada como modo de escrita clandestina.

Trecho do prefácio, por Joana Salém Vasconcelos: “Muito mais do que narrar perspectivas políticas e compartilhar imaginações radicais, as vozes das ruas que falam neste livro mostram que o Chile pode ser a fronteira de uma revolução epistemológica dos paradigmas anticapitalistas na América Latina. Ali, protagonizam as esquerdas que trocam o centralismo e o estatismo do século 20 pela diversidade, pelas economias do cuidado e pela recriação do comunitário; que dispensam as formas hierárquicas pelas horizontais; que apostam na pluralidade de vozes anônimas e desconfiam dos poderes excessivamente individuais; que disputam o Estado como poder popular destituinte, jamais para fazer pactos com as nuances brandas do sistema”.

Leia também: Para brasileiros ainda não lobotomizados e bolivianos humilhados, imagens do Chile são lembretes de que revolta pode ser sinônimo de sobrevivência.

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Poeta chileno. Alejandro Zambra.
Trad. Miguel Del Castillo • Companhia das Letras • 432 pp • R$ 74,90

O escritor chileno foca em seu novo romance o poderoso mito da poesia chilena, que já rendeu dois prêmios Nobel ao país (Gabriela Mistral em 1945 e Pablo Neruda em 1971). O protagonista da história é o adolescente Gonzalo, um aspirante a poeta que namora Carla. O casal se separa e reata o relacionamento anos depois, quando Carla já é mãe de Vicente. Gonzalo se torna um modelo para a criança, que também sonha em vir a ser poeta como o padrasto e por isso se recusa a ir para a faculdade. Zambra é autor de Bonsai (2006) e A vida privada das árvores (2007).

Trecho do livro: “Gonzalo não teve outra opção além de apostar todas as fichas na poesia: trancou‑se no quarto e em apenas cinco dias despachou quarenta e dois sonetos, movido por uma esperança nerudiana de chegar a escrever algo tão incrivelmente persuasivo que Carla não pudesse mais rejeitá‑lo. Em alguns momentos se esquecia da tristeza; ao menos por uns minutos prevalecia o exercício intelectual de consertar um verso coxo ou de acertar uma rima. Porém, a alegria de uma imagem que lhe parecia bem‑sucedida era logo suplantada pela amargura do presente. Em nenhuma dessas quarenta e duas composições havia, infelizmente, poesia genuína.”

Leia também: Alejandro Zambra e as lições de interpretação de escolha em Múltipla escolha.

Assinantes da Quatro Cinco Um têm 25% de desconto no site da editora Companhia das Letras. Conheça o nosso clube de benefícios

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O sistema e o antissistema: três ensaios, três mundos no mesmo mundo. Ailton Krenak, Helena Silvestre e Boaventura de Sousa Santos.
Autêntica • 80 pp • R$ 36,90/ 25,90

O livro reúne três visões sobre a crise do mundo contemporâneo. O sociólogo Boaventura de Sousa Santos expõe sinteticamente a natureza do presente sistema-mundo e os movimentos antissistêmicos de 1945 até a queda do Muro de Berlim e de 1989 até hoje, com a ascensão da extrema direita e as dificuldades para defender a democracia. A escritora e educadora Helena Silvestre sustenta que uma aliança antissistema e anticapitalismo é a única tarefa que dá sentido à esperança de viver em um mundo justo. E o líder indígena Ailton Krenak adverte que o debate político atual continua centrado no Estado e aponta que novas formas de fazer política, ainda invisíveis, estão emergindo nas comunidades, como uma espécie de contragoverno.

Ouça também: No podcast 451 MHz, Ailton Krenak fala sobre literatura indígena, capitalismo e os ataques do governo brasileiro aos povos da floresta.

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A outra garota negra. Zakiya Dalila Harris. 
Trad. Flávia Rössler e Maria Carmelita Dias • Intrínseca • 384 pp • R$ 69,90/46,90 

O romance de estreia da norte-americana Zakiya Dalila Harris retrata as aflições de Nella Rogers, uma ambiciosa assistente editorial da Wagner Books que está cansada de ser a única funcionária negra da empresa, vítima de pequenas agressões. A situação parece melhorar quando a editora contrata outra garota negra, Hazel, que passa a trabalhar a seu lado e a quem Nella toma como amiga e explica como lidar com os chefes. Hazel tem opiniões mais “palatáveis” para os colegas brancos e começa a ganhar influência no escritório, enquanto Nella vai sendo deixada de lado, até que passa a receber bilhetes ameaçadores para que peça demissão. Harris foi editora-assistente da Knopf/Doubleday e é formada em escrita criativa pela The New School.

Leia também: Grada Kilomba discute o racismo cotidiano relatado na voz de mulheres negras.

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O último duelo: uma história real de crime, escândalo e julgamento, que levou ao último duelo ocorrido na França medieval sob o decreto do Parlamento de Paris. Eric Jager.
Trad. Rodrigo Peixoto • Intrínseca • 320 pp • R$ 49,90/34,90

Professor da Universidade da Califórnia, o crítico literário norte-americano Eric Jager, especialista em literatura medieval, narra a história do duelo realizado em 1386 entre Jean de Carrouges, um cavaleiro normando recém-chegado à França da Escócia, e o escudeiro Jacques Le Gris, acusado pela esposa de Carrouges de tê-la estuprado. Segundo a decisão do Parlamento de Paris, se o marido perdesse o duelo, a mulher seria sentenciada à morte por falso testemunho. O duelo foi presenciado pelo próprio rei Carlos 6º e pela corte, e foi o último evento do tipo autorizado pelo Parlamento. Os duelos ainda continuaram sendo realizados em outras regiões da França fora da jurisdição de Paris, mas se transformaram em uma prática privada e furtiva, realizada à margem da civilização, e em geral com pistolas. O livro inspirou o filme O último duelo, de Ridley Scott, com Matt Damon, Adam Driver, Jodie Comer e Ben Affleck no elenco, que estreia nos cinemas nesta semana.

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Quem escreveu esse texto

Marília Kodic

Jornalista e tradutora, é co-autora de Moda ilustrada (Luste).

Mauricio Puls

É autor de Arquitetura e filosofia (Annablume) e O significado da pintura abstrata (Perspectiva), e editor-assistente da Quatro Cinco Um.

Matéria publicada na edição impressa #50 em agosto de 2021.