Listão da Semana,

Itamar Vieira Junior e mais 9 lançamentos

Lançamentos da semana incluem coletânea de Hannah Arendt, reflexões sobre o afropessimismo, cem receitas de Patrícia Helú e os novos romances de Edney Silvestre e José Trajano.

11jun2021 - 02h56 | Edição #46

Após vender mais de 165 mil cópias com Torto arado, marca expressiva para um autor nacional contemporâneo, ainda mais em seu romance de estreia, e colecionar os importantes prêmios literários LeYa, Jabuti e Oceanos, Itamar Vieira Junior lança nesta semana a coletânea de contos Doramar ou a Odisseia: histórias. Terá a faceta contista do baiano o mesmo sucesso da romancista? A ver.

Completam a seleção da semana uma coletânea de Hannah Arendt, reflexões sobre o afropessimismo, ensaios de Beatriz Nascimento, uma peça de Yasmina Reza, a biografia de Euclides da Cunha, uma investigação sobre a humilhação nacional, cem receitas de Patrícia Helú e os novos romances de Edney Silvestre e José Trajano.

Viva o livro brasileiro!

Doramar ou a Odisseia: histórias. Itamar Vieira Junior.
Todavia • 160 pp. • R$ 39,90

O geógrafo, doutor em estudos étnicos e africanos e autor do aclamado Torto arado (2019) reúne doze contos, dos quais cinco inéditos e sete publicados em A oração do carrasco, que saiu em 2017 pela editora baiana Mondrongo. Os textos tratam da dor e giram em torno de personagens que representam a multiplicidade cultural do Brasil e que vivenciam heranças do passado escravocrata e colonial do país. É o caso da índia que vai rumo à terra de seus ancestrais; da família separada por fronteiras invisíveis; da mulher que destruiu o farol que orientava a chegada dos navios negreiros e do carrasco que ensina pacientemente seu ofício para os filhos. 
 


Itamar Vieira Junior Câmara Municipal da Póvoa de Varzim, 2019
 

Colaborador da Quatro Cinco Um, Itamar Vieira Junior já escreveu sobre Bernardine EvaristoMuryatan BarbosaYukio Mishima e Herta MüllerDoramar ou a Odisseia: histórias é o livro de junho do Clube 451, no qual todo mês os assinantes recebem a revista impressa e um livro recém-lançado escolhido por nossos editores.

Leia também: Narrado por irmãs negras, Torto arado trata de relações escravistas e do direito à terra.

Ouça também: No podcast 451 MHz, Itamar Vieira Junior conversa sobre religiosidade, a Chapada Diamantina e suas preferências literárias.

Assinantes da Quatro Cinco Um têm 20% de desconto no site da editora Todavia. Conheça o nosso clube de benefícios.

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Pensar sem corrimão. Hannah Arendt.
Trad. Beatriz Andreiuolo, Daniela Cerdeira e Pedro Duarte • Intr. Jerome Kohn • Bazar do Tempo • 640 pp. • R$ 92

Capa da Quatro Cinco Um de junho, Hannah Arendt tem publicada no Brasil uma reunião de ensaios, entrevistas e resenhas de 1953 a 1975 (ano de sua morte), incluindo alguns inéditos, em que discute o pensamento de Martin Heidegger, a poesia de W. H. Auden, a prosa de Nathalie Sarraute, Karl Marx e a tradição do pensamento político ocidental, a Revolução Húngara de 1956 e o imperialismo totalitário, o Estado e a democracia e a liberdade política.


Ilustração de Marina Quintanilha
 

Trecho de resenha por Heloisa Murgel Starling: “Alguém que não se encaixa entre o corrimão das ideologias, de um lado, e o das verdades inquestionáveis, de outro, é bem-vindo ao Brasil — especialmente nos dias atuais. A reflexão sobre a permanência das soluções totalitárias sobrevivendo à queda dos regimes nazista e stalinista e brotando de dentro das sociedades democráticas contemporâneas está no centro da obra de Hannah Arendt”.

Leia também: As fugas de Hannah Arendt em nova HQArendt e a crítica a totalitarismos à direita e à esquerda e a condição judaica segundo Hannah Arendt.

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Afropessimismo. Frank Wilderson III.
Trad. Rogerio W. Galindo e Rosiane Correia de Freitas • Todavia • 400 pp. • R$ 84,90

O escritor, cineasta e crítico norte-americano discute as raízes do racismo e por que a violência contra os negros ainda é um traço dominante em todo o mundo. Militante dos movimentos por direitos civis, em 1989 Wilderson se mudou para a África do Sul, integrando-se ao Congresso Nacional Africano de Nelson Mandela (e chegando a militar no braço armado do partido). Para ele, o afropessimismo — que vê a negritude pelo prisma da escravidão perpétua — é uma lente analítica que funciona como um corretivo para as teorias legadas pela civilização ocidental.

Trecho do livro: “O afropessimismo, assim, é menos uma teoria e mais uma metateoria: um projeto crítico que, ao utilizar a negritude como lente de interpretação, interroga a lógica tácita e presumida do marxismo, do pós-colonialismo, da psicanálise e do feminismo por meio da rigorosa consideração teórica de suas propriedades e lógicas presumíveis, como seus fundamentos, forma e utilidades; e o que faz, de novo, num nível mais alto de abstração do que aquele em que se dá a interrogação dos discursos e métodos das teorias”.

Leia também: Por que em todas as culturas a corda sempre arrebenta do lado mais escuro — e o que ainda podemos fazer sobre isso, por Kalaf Epalanga.

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Uma história feita por mãos negras. Beatriz Nascimento.
Org. Alex Ratts • Zahar/Grupo Companhia das Letras • 272 pp. • R$ 54,90

A coletânea reúne 24 textos da historiadora e ativista sergipana Beatriz Nascimento (1942-95), que em 1975 participou da criação do Instituto de Pesquisa das Culturas Negras. Os ensaios discutem os quilombos no Brasil, a contribuição do negro na construção da sociedade brasileira, o movimento negro e a diáspora e as relações raciais e de gênero. O livro aborda também a feitura do documentário Ôrí (1989), da cineasta Raquel Gerber, que narra a história dos movimentos negros no Brasil de 1977 a 1988 e tem pesquisa e narração de Nascimento.

Leia também: Biografia resgata trajetória de Sueli Carneiro, figura essencial para entender o feminismo e o movimento negro no Brasil.

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O deus da carnificina. Yasmina Reza.
Trad. Mariana Delfini • Âyiné • 156 pp. • R$ 49,90

Na peça escrita em 2006 pela atriz, dramaturga e escritora franco-iraniana, que já tinha vencido três vezes o prêmio Moliére, duas crianças brigam e uma delas sai com dois dentes fraturados. Os pais então discutem como resolver a situação de forma equilibrada, escancarando as dificuldades de comunicação e as incompreensões mútuas e mostrando a fragilidade do comportamento supostamente civilizado do ser humano. A peça estreou em Londres em 2008 e recebeu os prêmios Laurence Olivier e Tony. Em 2010, estreou no Brasil com Deborah Evelyn, Julia Lemmertz, Orã Figueiredo e Paulo Betti e foi sucesso de bilheteria. A versão cinematográfica veio em 2011, com direção de Roman Polanski e estrelada por Jodie Foster, Kate Winslet, Christoph Waltz e John C. Reilly.

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Amores improváveis. Edney Silvestre.
Globo Livros • 194 pp. • R$ 49,90

Ganhador do prêmio Jabuti com Se eu fechar os olhos agora (2009), o escritor fluminense conta a história de um casal de imigrantes sardos que chega ao Brasil em 1878 e se instala na fictícia cidade de Ourinho, onde cria suas quatro filhas. Centrado nos relacionamentos amorosos das garotas, o romance tem como pano de fundo a transição do trabalho escravizado para o assalariado, o golpe militar da Proclamação da República e o crescimento de São Paulo. Nos agradecimentos, o autor observa que entre suas fontes de inspiração estavam os antepassados de Fernanda Montenegro, que também vieram da Sardenha.

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Euclides da Cunha: uma biografia. Luís Cláudio Villafañe G. Santos.
Todavia • 390 pp. • R$ 89,90

O diplomata e historiador carioca estuda a produção jornalística e a prosa de Euclides da Cunha em uma chave histórico-biográfica, enfatizando o teor das ideias expressadas e as questões extraliterárias (incluindo a discussão das teorias científicas e históricas nas quais Euclides se baseava), tratando apenas marginalmente da análise textual e dos problemas estéticos. Santos é autor de O evangelho do Barão: Rio Branco e a identidade brasileira (2012) e Juca Paranhos, o Barão do Rio Branco (2018), este último ganhador do prêmio de melhor biografia pela APCA.

Leia também: Mostrando tragédia da seca, trabalho escravo e concentração de terras, Os sertões ainda reflete o Brasil atual.

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Complexo de vira-lata: análise da humilhação colonial. Marcia Tiburi.
Civilização Brasileira/Grupo Record • 195 pp. • R$ 34,90

A filósofa e artista plástica gaúcha analisa a humilhação nacional, argumentando que se trata de uma política que visa sustentar a desigualdade social por meio da violência física e simbólica. Tiburi é autora de dezenas de livros, entre eles Como conversar com um fascista (2015) e Feminismo em comum (2018), e foi candidata ao Governo do Rio de Janeiro em 2018 pelo PT.

Trecho do livro: “A humilhação é a categoria que permite compreender as práticas de poder em todos os tempos. Mais especificamente, ela estabelece como o poder é instaurado e mantido a partir de uma lógica de hierarquização em que se erigem superiores por oposição a inferiores. Não há violência simbólica ou física sem humilhação e sem apequenamento. A humilhação é uma tecnologia do poder comum no paradigma do homem-branco-capitalista-heteronormativo que representa bem o espírito e a letra, a teoria e a prática do colonizador. Humilhados sobrevivem envergonhados ou tímidos no magma do ressentimento e da ofensa que não podem ser elaborados”.

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Aqueles olhos verdes. José Trajano.
Alfaguara/Grupo Companhia das Letras  • 248 pp. • R$ 64,90

O jornalista e escritor carioca, autor do romance Os beneditinos (2018) e um dos fundadores da ESPN Brasil, narra uma história semificcional envolvendo os integralistas que preparavam um golpe de Estado em 1938. Vicente Meggiore, braço direito de Plínio Salgado na Ação Integralista Brasileira, pede ao seu irmão José Reis (avô do escritor) que esconda Plínio em uma fazenda no interior do Rio, caso alguma coisa dê errado durante o ataque. Na fazenda, Reis conhece Plínio (que acaba preso) e outras figuras da época, como Zizinho e Chiquinho do Acordeon, e entra em contato com a cultura local.

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Divina alquimia. Patricia Helú.
Companhia de Mesa/Grupo Companhia das Letras • 320 pp. • R$ 139,90

A chef especializada em culinária vegana apresenta mais de cem receitas nutritivas e saudáveis, com cardápios para ocasiões como um almoço na praia (ceviche de coco verde, tartar de banana e carambola, moqueca de cogumelos, sorvete de caramelo salgado) e um banquete árabe (torta de pistache, tahine e cacau, coalhada de castanha, homus defumado, kafta de funghi). Um capítulo é dedicado à massala, tempero feito da mistura de
duas ou mais ervas secas ou especiarias: “É o ingrediente-chave para transformar receitas simples em experiências inesquecíveis e está presente em quase todos os meus pratos”.

Receita de tartar de banana e carambola

Ingredientes: 
2 bananas-nanicas firmes em pequenos cubos de 2 cm (1 ½ xícara)
½ carambola em pequenos cubos de 1 cm (⅓ de xícara)
1 colher (sopa) de pimenta dedo-de-moça sem semente em pequenos cubos
3 colheres (sopa) de cebolinha-francesa finamente picada
3 colheres (sopa) de azeite
½ colher (sopa) de sumo coado de limão
½ colher (chá) de sal rosa

Prepare todos os ingredientes e deixe para cortar a banana apenas no final. Incorpore-os bem e mexa com delicadeza. Modele em um aro de metal e sirva imediatamente ou deixe em um recipiente fechado na geladeira até a hora de servir.

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Quem escreveu esse texto

Marília Kodic

Jornalista e tradutora, é co-autora de Moda ilustrada (Luste).

Mauricio Puls

É autor de Arquitetura e filosofia (Annablume) e O significado da pintura abstrata (Perspectiva), e editor-assistente da Quatro Cinco Um.

Matéria publicada na edição impressa #46 em abril de 2021.