Listão da Semana,

Don DeLillo, a biografia de Stan Lee e mais 8 lançamentos

Quem somos sem a mediação e o estímulo permanente das telas?

02jun2021 | Edição #46

Em Silêncio, que chega nesta semana às livrarias brasileiras, o escritor norte-americano Don DeLillo aborda a dependência da sociedade contemporânea aos smartphones e às redes sociais e as consequências dessa conectividade irrestrita. Nessa toada, vale o conselho clichê: desligue o celular e vá ler um livro! Aqui seguem boas opções.

Completam a seleção da semana uma biografia de Stan Lee, ensaios de Jean-Christophe Bailly, dois infantis de Lázaro Ramos, biografemas de Leyla Perrone-Moisés, a história da Amazon, reedições de Marilene Felinto e Jarid Arraes e o primeiro romance do senegalês Boubacar Boris Diop publicado no Brasil.

Viva o livro brasileiro!

O silêncio. Don DeLillo.
Trad. Paulo Henriques Britto • Companhia das Letras • 112 pp. • R$ 49,90 

Em seu 17º livro, o ganhador de prêmios como o National Book Award e o PEN/Faulkner Award para Ficção constrói um romance no qual cinco personagens se reúnem num apartamento em Manhattan para assistir ao Super Bowl de 2022 quando as conexões digitais que unem o planeta desabam: as televisões, os telefones, os celulares, tudo ficou em silêncio. Após esse apocalipse cibernético, as pessoas refletem sobre a morte e o que nos torna humanos.

Trecho da resenha por Kelvin Falcão Klein: “A dimensão conspirativa da nossa realidade surge com força total na narrativa — desinformação, espionagem, roubo de dados, invasão de privacidade —, ao mesmo tempo em que é modulada por um envio permanente à banalidade do cotidiano. […] É mais fácil imaginar o fim do mundo do que o fim dos celulares (o ‘silêncio’ em questão marca o momento em que todas as telas se apagam). Como ‘a gente sabe quem é’ sem a mediação das telas, dos dispositivos, das redes sociais?”.

Leia na íntegra a resenha.

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A frase urbana. Jean-Christophe Bailly.
Trad. André Cavendish & Marcelo Jacques de Moraes • Apres. Margareth da Silva Pereira • Bazar do Tempo • 240 pp. • R$ 65,90

Nestes ensaios escritos ao longo de trinta anos (alguns deles recentes e inéditos), o filósofo, poeta e dramaturgo francês reflete sobre os aspectos estéticos e políticos dos centros urbanos e propõe que as cidades devem ser tratadas como frases, recursos linguísticos que possuem uma gramática. Cada cidade constitui um tipo de texto e é portadora de significados que se abrem para uma multiplicidade de interpretações. 


Jean-Christophe Bailly, por Hermance Triay

Trecho da resenha por Bianca Tavolari: “Em um sentido mais evidente, cidades são protagonistas de romances e contos; acessamos cores, caminhos e cheiros pelos relatos escritos, o que nos permite imaginar espaços onde nunca estivemos ou olhar aqueles que já conhecemos com uma perspectiva renovada. Em um sentido menos evidente, é a própria cidade que é texto, uma ordenação de signos linguísticos mais ou menos legíveis, com unidades de sentido que podem ser traduzidas e comunicadas como um argumento”.

Leia na íntegra a resenha.

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O pulo do coelho. Lázaro Ramos.
Ils. Lais Dias • Carochinha • 48 pp. • R$ 39,90

Edith e a velha sentada. Lázaro Ramos.
Ils. Edson Ikê • Pallas • 64 pp. • R$ 49

Com sete obras publicadas, o ator baiano tem dois lançamentos voltados para crianças: Edith e a velha sentada, reedição de sua segunda obra publicada, com texto revisado e novas ilustrações de Edson Ikê, e o inédito O pulo do coelho, finalizado durante o confinamento. O primeiro é protagonizado pela garota Edith, que não tira os olhos do computador e da TV e não consegue brincar com as outras crianças. A razão disso, segundo uma vizinha, seria por que Edith teria uma velha sentada em sua cabeça. A garota vai, então, em busca dessa estranha figura em uma jornada cheia de jogos de palavras que trata de autoconhecimento. Já O pulo do coelho aborda a liberdade e a autonomia pela história de Gusmão, um menino que sonha ser um coelho que passa os dias confinado numa cartola. Para quebrar a rotina, ele decide, então, fugir para se tornar um mágico.

À Quatro Cinco Um, Lázaro Ramos diz: “A cabeça da Edith é um pouco a minha cabeça também. Tenho uma velha sentada na minha cabeça! Ela fica aqui me cutucando: ‘Vai, pensa, anda, mexe!’. 

Leia na íntegra a entrevista.

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Vivos na memória. Leyla Perrone-Moisés.
Companhia das Letras • 248 pp. • R$ 69,90

Ganhadora dos prêmios Jabuti (1993), Alejandro José Cabassa (2002) e Bunge (2013), a professora emérita da USP (e ex-professora de Yale, da Sorbonne e da Universidade de Montreal) escreve sobre as pessoas com as quais conviveu e que a influenciaram, como Haroldo de Campos, Samsor Flexor, Décio de Almeida Prado, Antonio Candido, Osman Lins, Benedito Nunes, Tzvetan Todorov, Roland Barthes, Haroldo de Campos, Julio Cortázar, Paulo Leminski, José Saramago, Jacques Derrida, Claude Lévi-Strauss e Eduardo Lourenço.

Trecho do livro: “O que registrei aqui são ‘biografemas’, isto é, traços e gestos de pessoas, lembradas não apenas como personalidades dignas de biografia, mas como indivíduos extraordinários no cotidiano. Todas elas contribuíram, de uma maneira ou de outra, para que minha vida pessoal e intelectual tenha sido muito rica. Estes biografemas são, assim, uma forma de agradecimento”.

Leia também: Leyla Perrone-Moisés resenha livros de Michel LaubHaruki Murakami e Eduardo Lourenço.

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A espetacular vida de Stan Lee: a biografia definitiva do criador de Homem-Aranha, Homem de Ferro, X-Men, entre outros heróis icônicos da Marvel. Danny Fingeroth.
Trad. Flora Pinheiro • Agir/Grupo Ediouro • 488 pp. • R$ 79,90

A biografia reconta a trajetória de Stan Lee (1922-2018), que aos dezoito anos tornou-se editor-chefe da Marvel Comics, uma das produtoras de quadrinhos mais importantes dos Estados Unidos, e foi cocriador de personagens como Hulk, Thor, Homem de Ferro, X-Men, Demolidor, Doutor Estranho, Homem-Aranha e o Quarteto Fantástico. O autor do livro, Danny, Fingeroth trabalhou na Marvel por dezoito anos, como escritor e editor, e chegou a editar obras do próprio Stan Lee, com quem conta ter tido muitas conversas formais e informais.


Os quadrinistas Larry Lieber e Stan Lee no começo dos anos 50 (Foto: Cortesia de Larry Lieber)

Trecho do livro: “Embora eu não devesse dizer, a verdade é que o que tornou os quadrinhos da Marvel tão diferentes, mais do que os personagens coloridos fazendo estripulias, as cenas de ação crua e o universo unificado, foi que esses personagens eram infelizes, às vezes até pessoas desagradáveis — e eram os heróis! Eram pessoas problemáticas”.

Leia também: Art Spiegelman compara o rival do Capitão América a Donald Trump e tem ensaio censurado pela Marvel.

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As mulheres de Tijucopapo. Marilene Felinto.
Pref. Beatriz Bracher • Posf. Leila Lehnen • Ubu • 240 pp. • R$ 59,90

Ganhador do prêmio Jabuti, o romance de 1982 — escrito quando a autora tinha 22 anos de idade — narra uma jornada de autoconhecimento e libertação da protagonista Rísia, que retorna às suas origens em Tijucopapo, lugar fictício que remete à vila na qual as mulheres lutaram sozinhas contra os invasores holandeses e os expulsaram. A nova edição traz um prefácio inédito de Beatriz Bracher, um posfácio de Leila Lehnen, um ensaio de João Camillo Penna e textos críticos de Marilena Chaui, José Miguel Wisnik, Ana Cristina Cesar e Viviana Bosi. 

Trecho do ensaio de João Camillo Penna:As mulheres de Tijucopapo, primeiro romance de Marilene Felinto, narra a história da ‘guerra’ do feminino, declarada por uma tribo de insólitas mulheres amazonas vindas de Tijucopapo, a cidade pernambucana onde a mãe da narradora Rísia nasceu sem nunca ter nascido, que invadem São Paulo a cavalo bombardeando a capital. A origem diferente é aproximada pelo relato de regresso ao lugar de nascimento, que difere a cada capítulo a chegada ao término do périplo e ponto de partida da revolução feminina iniciada pelas mulheres de Tijucopapo que se dirigem a São Paulo pela BR”.

Leia também: Marilene Felinto fala com Raduan Nassar sobre velhice, política, maconha, Black Lives Matter, criação literária e agricultura.

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Murambi, o livro das ossadas. Boubacar Boris Diop.
Trad. Monica Stahel • Carambaia • 224 pp. • R$ 69,90

O primeiro livro do senegalês Boubacar Boris Diop publicado no Brasil — considerado “um milagre” por Toni Morrison — revisita o genocídio de Ruanda, ocorrido em 1994. O protagonista do romance decide visitar o único sobrevivente da família, um tio, em Murambi, onde 50 mil tútsis foram mortos em uma escola técnica, reunidos ali pelo prefeito e por um bispo sob a alegação de que seriam salvos por tropas francesas. O local abriga hoje um memorial com milhares de ossadas e corpos mumificados das vítimas. Em 2000, Diop recebeu o Grande Prêmio Literário da África Negra pelo conjunto de sua obra.

Leia também: Scholastique Mukasonga, que perdeu 27 integrantes de sua família no genocídio em Ruanda, narra as origens do massacre.

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Um buraco com meu nome. Jarid Arraes.
Alfaguara/Grupo Companhia das Letras • 176 pp. • R$ 39,90

A edição ampliada da antologia poética lançada pela escritora e cordelista cearense em 2018 traz sete poemas inéditos e ilustrações feitas pela própria autora. Criadora do Clube de Escrita para Mulheres, Jarid já recebeu os prêmios APCA e Biblioteca Nacional por seu livro Redemoinho em dia quente (2019). Os poemas de sua antologia tratam do corpo feminino negro e da resistência às opressões: “há tardes e pequenos espaços/ de tempo/ em que uma mulher pergunta/ de que adianta/ se as mãos dos homens/ dirigem o metrô e os ônibus/ os carros blindados/ as motos que serpenteiam/ entre corredores breves”.

Leia também: Jarid Arraes resenha livros de bell hooksMaria Firmina dos Reis e Toni Morrison.

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Amazon sem limites: Jeff Bezos e a invenção de um império global. Brad Stone.
Trad. Isabella Pacheco, Livia de Almeida e Regina Lyra • Intrínseca • 512 pp. • R$ 69,90

O autor de A loja de tudo: Jeff Bezos e a Era da Amazon (lançado em outubro de 2013 nos EUA e vertido para o português em 2019) reconstitui a história da companhia — que quase foi à falência após o estouro da bolha das empresas “ponto com” em 2001 — e as inovações que abriram caminho para sua enorme expansão a partir de 2003, mas também ressalta o crescimento da percepção negativa do público sobre suas práticas agressivas para eliminar os concorrentes e o impacto de suas atividades no meio ambiente.

Leia também: Editores brasileiros dizem não a aumento de descontos para Amazon. 

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Quem escreveu esse texto

Marília Kodic

Jornalista e tradutora, é co-autora de Moda ilustrada (Luste).

Mauricio Puls

É autor de Arquitetura e filosofia (Annablume) e O significado da pintura abstrata (Perspectiva), e editor-assistente da Quatro Cinco Um.

Matéria publicada na edição impressa #46 em junho de 2021.