
Listão da Semana,
Alan Pauls e os delírios digitais e mais 5 lançamentos
‘A metade fantasma’, do argentino Alan Pauls, nos faz refletir sobre as ilusões que a conectividade traz
11mar2022 | Edição #56As armadilhas das relações amorosas vividas no meio virtual são tema de A metade fantasma, do argentino Alan Pauls, que chega nesta semana às livrarias brasileiras. No romance, o “simulacro de sincronia” vivido por um casal improvável nos faz refletir sobre as ilusões que a conectividade traz e a liquidez das conexões sustentadas por meio das telas, além da ansiedade provocada pelo uso excessivo da tecnologia.
Completam a seleção da semana um tratado sobre o universo invisível e a conectividade do mundo, uma coletânea de textos sobre cientistas geniais que fizeram sacrifícios pessoais para resolver enigmas de seu tempo, ensaios do artista plástico Nuno Ramos sobre a crise brasileira e outros temas, um ensaio sobre o liberalismo e direito por Fábio Ulhoa Coelho e o romance de estreia do poeta Tito Leite.
A metade fantasma. Alan Pauls.
Trad. Josely Vianna Baptista • Companhia das Letras • 328 pp • R$ 89,90/39,90
A vertigem da vida digital está no centro do novo romance do argentino Alan Pauls, autor de O passado (2003), vencedor do prêmio Herralde e adaptado para o cinema por Hector Babenco em 2007 com Gael García Bernal no elenco. O protagonista de A metade fantasma é Savoy, um homem de cinquenta anos que vive em apartamentos alugados e passa os dias visitando imóveis à venda ou para locação para perscrutar a vida dos seus moradores. Ele também faz compras pela internet, mas faz questão de buscar os objetos nas casas dos vendedores. É pela internet que se relaciona com Carla, uma nômade digital.
“Savoy tem o desejo do encontro, mas não o do envolvimento. Reconhece e admira a complexidade que reside nos outros, mas não tem interesse em aprofundar esse conhecimento — ele se satisfaz com a captura fugaz de uma miríade de fragmentos sem contexto”, escreve Kelvin Falcão Klein ao resenhar o livro para a Quatro Cinco Um. Leia aqui a resenha na íntegra.
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O universo invisível: matéria escura, dinossauros e a surpreendente conectividade do mundo. Lisa Randall.
Trad. Érico Assis • Companhia das Letras • 418 pp • R$ 109,90
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A física de partículas norte-americana Lisa Randall, professora de Harvard, analisa a história do universo, das galáxias e do sistema solar e propõe a hipótese de que existe uma conexão entre a matéria escura (que compõe cerca de 85% do universo) e a extinção dos dinossauros na Terra, ocorrida 66 milhões de anos atrás. Para ela, o objeto que aniquilou os dinossauros — e abriu caminho para o domínio dos mamíferos e o aparecimento do homem — era um cometa desalojado de sua órbita quando o sistema solar passou por um disco de matéria escura no plano da Via Láctea.
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Quando deixamos de entender o mundo. Benjamín Labatut.
Trad. Paloma Vidal • Todavia • 176 pp • R$ 59,90
Finalista do International Booker Prize de 2021, o terceiro livro do escritor chileno Benjamín Labatut (nascido na Holanda em 1980) traz textos sobre cientistas geniais — como Einstein, Heisenberg, Schrödinger, De Broglie e Schwarzschild — que fizeram imensos sacrifícios pessoais em seu esforço para solucionar os enigmas que ninguém conseguia decifrar. Uma das histórias contadas no livro é a do químico judeu Fritz Haber, inventor do pesticida Zyklon, que os nazistas utilizaram nos campos de extermínio para assassinar os membros da própria família de Haber.
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Fooquedeu: um diário. Nuno Ramos.
Todavia • 208 pp • R$ 69,90
Inspirado no pessimismo de Adorno (Minima moralia) e Lévi-Strauss (Tristes trópicos), o escritor e artista plástico paulistano Nuno Ramos analisa a crise brasileira e a ascensão da extrema direita a partir de episódios significativos do cotidiano nacional (como o mendigo que morreu eletrocutado na Praça da Liberdade, em Belo Horizonte, quando tomava banho), filmes (como O som ao redor, de Kleber Mendonça Filho, e Boi Neon, de Gabriel Mascaro), obras literárias (Melville, Kaváfis, Kafka) e o cenário político que conjugou a pandemia e o bolsonarismo. Os ensaios foram escritos a partir de abril de 2016, véspera do impeachment de Dilma Rousseff.
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Os livres podem ser iguais? Liberalismo e direito. Fábio Ulhoa Coelho.
WMF Martins Fontes • 272 pp • R$ 59,90
O advogado e professor de direito Fábio Ulhoa Coelho discute a tese liberal de que os livres não podem ser iguais, a qual ainda exerce grande influência nas esferas constitucional, administrativa, econômica e comercial do direito. Ele expõe o liberalismo como uma tradição de pensamento construída a partir dos escritos de John Locke e seus principais inimigos (os marxistas e os burocratas do Estado) e mostra que o princípio da igualdade proclamado pelas revoluções Americana (1776) e Francesa (1789) não era universal: iguais eram apenas os homens brancos, letrados e proprietários. O autor aponta ainda o giro conceitual do liberalismo em reação à Revolução Russa (1917) e à Grande Depressão (1929), em que deixa de ter foco nas liberdades políticas e se volta às liberdades econômicas e mostra que o Estado é apenas um gestor do capitalismo e de suas crises, aumentando ou diminuindo de tamanho conforme as demandas sociais. Mostra, por fim, que a evolução social aponta uma afirmação progressiva da igualdade.
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Dilúvio das Almas. Tito Leite.
Todavia • 112 pp • R$ 54,90
O primeiro romance do poeta de Digitais do caos (2016) e Aurora de cedro (2019) narra a história de Leonardo, um nordestino de espírito nômade que vive angustiado na São Paulo povoada por pessoas frias e preconceituosas. No início dos anos 90 ele retorna para sua cidade natal, Dilúvio das Almas, um local violento do semiárido nordestino, do qual fugiu às pressas em 1970. Ali reencontra as condições opressivas que o fizeram migrar e se vê novamente enredado nas velhas rixas com o latifundiário local e seus capangas, agora envolvidos em negócios estranhos.
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Matéria publicada na edição impressa #56 em abril de 2022.
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MARÇO, 2025