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Depois de dois Sete de Setembro críticos para a democracia, autores examinam a degradação política atual

Conrado Corsalette e pesquisadores do LAUT discutem o estado da política brasileira no lançamento de obras sobre a crise da última década e o colapso de modelos democráticos

11ago2023 | Edição #72

Dois anos depois do 7 de Setembro em que Jair Bolsonaro mobilizou seus apoiadores, fez ameaças golpistas contra o STF e disse que só sairia morto da presidência e um ano depois do feriado nacional ter sido instrumentalizado pelo então presidente para atacar novamente as eleições e instituições democráticas, “a crise chamada Brasil” dá sinais de recuperação, segundo autores de livros que examinam a política brasileira das últimas décadas.

“O Brasil desinflamou. Não porque os agentes inflamatórios deram um tempo, mas porque o remédio foi forte. Forte o suficiente pra evitar golpes. Forte o suficiente pra começar a pensar que talvez seja hora de dar uma aliviada no tratamento”, diz Conrado Corsalette, editor-chefe do Nexo Jornal e autor de Uma crise chamada Brasil.


O editor do Nexo Conrado Corsalette [Pablo Saborido/Divulgação]

No entanto, para os autores, se a responsabilização de Bolsonaro e seus aliados parece mais próxima a cada dia, o caminho da autocracia ainda não está totalmente fora do roteiro se não for realizada uma reforma no sistema eleitoral.

“Tudo o que a gente mais queria dizer é que o caminho foi interrompido. Mas infelizmente, a resposta não é tão simples assim, porque temos, ao invés de um, vários caminhos da autocracia”, explica Marina Slhessarenko Barreto, pesquisadora e co-autora de O caminho da autocracia. “A autocracia não se constrói só com instituições, ela se constrói também com o movimento civil autoritário forte e com políticos autoritários fortes.”

      

   
Os pesquisadores Adriane Sanctis, Conrado Hübner Mendes, Fernando Romani Sales, Mariana Celano de Souza Amaral e Marina Slhessarenko Barreto [Divulgação] 

Esse será um dos temas do debate de lançamento de Uma crise chamada Brasil: a quebra da Nova República e a erupção da extrema direita (Fósforo), de Corsalette; e O caminho da autocracia: estratégias atuais da erosão democrática (Tinta-da-China Brasil), de Adriane Sanctis, Conrado Hübner Mendes, Fernando Romani Sales, Mariana Celano de Souza Amaral e Marina Slhessarenko Barreto, pesquisadores do LAUT (Centro de Análise da Liberdade e do Autoritarismo), na Livraria da Travessa de Ipanema, no Rio de Janeiro, nesta terça-feira (15), às 19h.

   

O encontro será mediado pela jornalista Cristina Serra — autora de Nós, sobreviventes do ódio: crônicas de um país devastado (Máquina de Livros), coletânea de crônicas publicadas na Folha de S.Paulo entre 2020 e 2023. Em seguida, os autores participam de uma sessão de autógrafos e um coquetel com o público presente e convidados.

Passado recente, futuro próximo

Compilando 53 entrevistas com pesquisadores, políticos, juízes, ativistas e jornalistas, o livro de Corsalette é uma adaptação da minissérie de mesmo nome veiculada no podcast Politiquês, do Nexo Jornal, em que o jornalista busca compreender e interpretar a “quebra da Nova República” ocorrida entre 2013 e 2023.

Enquanto o livro recapitula os acontecimentos da última década, no debate de lançamento os autores vão falar sobre o presente e o que seria necessário para um futuro mais estável. “Se a gente quer um Brasil sadio, sem crises agudas, o caminho é fortalecer o diálogo, minimizar o papel de juízes heróis (para fortalecer intituições) e apostar na política, na concepção do conceito, em que esquerda e direita democráticas têm que ceder um pouco pra que as coisas funcionem coletivamente”, afirma Corsalette à revista dos livros. “Um adendo: os agentes inflamatórios, os extremistas, precisam ser punidos, pra gente não repetir a Anistia de 1979, o verdadeiro ovo da serpente brasileiro.”

O caminho da autocracia: estratégias atuais de erosão democrática, escrito a dez mãos por pesquisadores do Centro de Análise da Liberdade e do Autoritarismo — LAUT, compara o modus operandi de governos autocráticos ao redor do mundo, inclusive o brasileiro. Criado em 2018, o centro de pesquisa monitora a ascensão do extremismo no país e tem uma seção fixa na revista dos livros. Realizada no calor da hora como uma forma de alertar a sociedade sobre o risco de reeleger Bolsonaro, a pesquisa foi consolidada em forma de livro no início do ano e publicada pela Tinta-da-China Brasil, editora da Associação Quatro Cinco Um

“Temos, do lado institucional, atitudes bastante robustas de desmobilização da força do bolsonarismo, que vai muito além do ex-presidente e de seu entorno. Vimos a ilegibilidade há cerca de um mês atrás, a prisão do ex-diretor da Polícia Rodoviária Federal e a responsabilização pelo 8 de janeiro”, recorda Barreto, que acredita que nem todas as forças aliadas à autocracia foram extintas. “Do lado civil ainda existe o alinhamento de outros atores políticos ao bolsonarismo. Embora Tarcísio de Freitas tenha se descolado um pouco de Bolsonaro, vimos um movimento de reaproximação; assim como Romeu Zema tentando abocanhar o espólio bolsonarista.”


Pesquisadores debatem estratégias extremistas para dizimar as democracias na mesa O caminho da autocracia n’A Feira do Livro 2023 [Guilherme Rocha/Divulgação]

N’A Feira do Livro 2023, Conrado Corsalette e os pesquisadores Fernando Romani Sales, Mariana Celano de Souza Amaral e Marina Slhessarenko Barreto se encontraram na mesa O caminho da autocracia para discutirem os rumos da política nacional.

SERVIÇO

Lançamento: Uma crise chamada Brasil + O caminho da autocracia, com Conrado Corsalette, Fernando Romani Sales, Mariana Celano de Souza Amaral e Marina Slhessarenko Barreto, com mediação de Cristina Serra
Data: Terça-feira, 15 de agosto, às 19 horas
Onde: Livraria da Travessa – Ipanema (Rua Visconde de Pirajá, 572 – Rio de Janeiro)

Editoria especial em parceria com o Laut

LAUT – Centro de Análise da Liberdade e do Autoritarismo realiza desde 2020, em parceria com a Quatro Cinco Um, uma cobertura especial de livros sobre ameaças à democracia e aos direitos humanos.

Matéria publicada na edição impressa #72 em julho de 2023.