Edição de 2023 do Festival Literário Arena da Palavra, que homenageou o escritor, ator, diretor de teatro e jornalista Plínio Marcos, a livreira Cida Saldanha e a editora Gita K. Guinsburg (Divulgação)

Festival literário,

Festival Arena da Palavra aproxima autores e leitores das livrarias de rua em São Paulo

Durante nove dias, 22 autores vão circular por 18 livrarias e sebos da cidade; atividades incluem lançamentos, debates, shows e homenagens

26jul2024

Um autor chega à livraria e procura na prateleira algum livro que foi importante em sua vida. Na sequência, ele se acomoda e lê uma passagem do título selecionado para o público presente no local. Essa é a premissa da segunda edição do Festival Literário Arena da Palavra, que circula por 18 livrarias e sebos de rua, em São Paulo, desta sexta (26) até o dia 4 de agosto. 

Durante nove dias, os 22 autores presentes na programação, entre eles Mariana Salomão Carrara, Ave Terrena, Felipe Franco Munhoz, Alcimar Frazão, Aline Bei e outros, vão circular pelas livrarias para celebrar a literatura na cidade. As atividades incluem quatro lançamentos de livros, debates e shows, além de uma homenagem à Livraria Taverna, uma das afetadas pela catástrofe do Rio Grande do Sul.

Figura importante da literatura negra no Brasil, o poeta, crítico e historiador Oswaldo de Camargo também será homenageado durante o festival. Na terça-feira (30), ele estará na livraria Megafauna, na região central da cidade, para lançar a coletânea de poemas inéditos 30 poemas de um negro brasileiro e as reedições de O carro do êxito e A descoberta do frio, todos pela Companhia das Letras. Além disso, estará no encerramento, no dia 4 de agosto, na Sebo Pura Poesia. A programação completa pode ser acessada neste link

Aos 88 anos, o escritor ainda se emociona com a homenagem e com os livros. Durante entrevista coletiva realizada na terça-feira (23), na livraria Megafauna, ele contou que sua vida seria diferente se não tivesse se encontrado com a literatura.

“Tenho uma raiz de família de analfabetos, ninguém sabia ler. Perdi meu pai e minha mãe com sete anos. Acredito que se não fosse a literatura minha vida seria muito diferente. A literatura engrandece. É um caminho para revelar a força da palavra”, disse Camargo.

Nascido em Bragança Paulista, interior de São Paulo, Camargo viveu no campo até a morte dos pais. Ainda no interior paulista, entrou para o Seminário Menor Nossa Senhora da Paz, em São José do Rio Preto, onde teve contato com a poesia dos parnasianos e Carlos Drummond de Andrade. No entanto, parou os estudos de teologia e filosofia por conta do racismo. 

“‘Não aceitamos negros, porque negro é muito violento e sensual’. Essa frase marcou minha vida e, em alguns aspectos, marca minha literatura. Não escrevo todo o tempo pensando que sou negro, mas coloco elementos na minha obra. Apesar de o que importar ser a humanidade, e não a cor. O Brasil é muito desgraçado nisso”, avaliou Camargo. 

Literatura descentralizada

Idealizado pelo produtor cultural Marcelo Sollero, diretor do Polo Cultural, o festival literário é focado no mercado editorial das pequenas livrarias. Segundo Sollero, a ideia é fortalecer as livrarias independentes, principalmente as de rua e de pequeno porte.

“O Arena da Palavra virou um encontro de amigos de bairro, da região da livraria. O público cria uma proximidade diferente com os livreiros e o espaço”, disse à Quatro Cinco Um. “Tem essa energia de criar um ambiente muito mais amigável, como a casa das pessoas, um lugar pequeno, onde as pessoas são bem recebidas, tudo isso para criar proximidade.” 

Outro objetivo do Arena da Palavra é descentralizar os eventos literários. “O público também gosta de uma coisa mais simples, então é nisso que estamos apostando”, disse Sollero. “A segunda edição é uma vitória, digamos assim, um reconhecimento de que as livrarias de bairro ou de rua são livrarias de relacionamento.” 

Além de Sollero, assinam a curadoria a escritora Cidinha Silva, o jornalista e gestor cultural Claudiney Ferreira e o jornalista Ubiratan Brasil. A ideia do Arena, segundo eles, é ampliar o acesso à cultura, conectando leitores, autores e o público às livrarias e sebos da cidade.

Quem escreveu esse texto

João de Mari

É jornalista e editor assistente da Quatro Cinco Um.

Peraí. Esquecemos de perguntar o seu nome.

Crie a sua conta gratuita na Quatro Cinco Um ou faça log-in para continuar a ler este e outros textos.

Ou então assine, ganhe acesso integral ao site e ao Clube de Benefícios 451 e contribua com o jornalismo de livros independente e sem fins lucrativos.