
Literatura infantojuvenil,
Coragem de todos os tamanhos
Com a amizade improvável entre um menino e uma formiga, a escritora Camila Fremder revela que não há nada mais contagiante do que a coragem
25ago2023 | Edição #72Uma avó vai ao quintal e flagra o neto, de apenas cinco anos, batendo o maior dos papos sozinho. Sozinho não, porque uma amiga pequenina — e tagarela na proporção inversa — o acompanha. E ainda que soe natural que algumas formigas sejam quase invisíveis, a formiga desta história realmente o é, porque habita apenas o imaginário do menino. A avó é a cantora Rita Lee, que logo no início de Quibe, a formiga corajosa (Companhia das Letras, 2023), nos conta como o neto a fez enxergar as pequenas operárias com outros olhos. Isso porque Quibe, inventada por Arthur, é quem o aconselha a ser corajoso quando pinta o medo de dormir no escuro e sozinho, ou uma simples ida ao dentista parece um pesadelo de olhos abertos. E se houver algo embaixo da cama ou dentro do armário? E se o dentista se revelar um grande vilão? São nesses momentos em que a coragem, simbolizada aqui pela formiga, dá as caras, compartilhando o universo de aventuras que existe para além do medo.
Primeiro contada em pequenos episódios para a família, a história de Arthur e Quibe foi transformada em livro pela mãe do pequeno criador, a escritora e roteirista Camila Fremder, também apresentadora do podcast É Nóia Minha?. Acompanhada das ilustrações da artista plástica Juliana Eigner, Camila coloca em destaque as amizades que tornam a vida mais fácil por não nos deixarem enfrentar os desafios do dia-a-dia desacompanhados. Nesta entrevista para a Quatro Cinco Um, a escritora comenta sobre a origem da personagem, as aflições da própria infância e sobre o futuro da Quibe, que em breve ganhará uma continuação.

A escritora e podcaster Camila Fremder e seu filho Arthur (Acervo pessoal/Divulgação)
Na dedicatória do livro, você conta que o seu filho, Arthur, foi quem inventou a Quibe. Você sabe de onde veio a ideia dele para a personagem?
Eu acho que a Quibe entrou na vida do Arthur como qualquer amigo imaginário que as crianças têm. A diferença, talvez, foi eu a ter trazido totalmente para a nossa rotina; acho que acabei despertando a criatividade de Arthur. As histórias foram acontecendo dia após dia. Eu anotava o que ele me contava sobre a Quibe e mandava no grupo da família. Quando vi, tinha um livro pronto.
Ao escrever o livro, você se lembrou de medos da sua infância?
Escolhi falar sobre o medo de dormir porque sempre foi o meu maior medo quando criança. O escuro me assusta um pouco até hoje e talvez a Quibe também tenha me ajudado em relação a isso.
Qual foi a reação de Arthur ao ver o livro publicado?
Foi muito fofo perceber como ele ficou emocionado segurando o livro. Ligou para o pai e depois para os avós. O mais legal foi mostrar para ele todos os passos para se lançar um livro. Esperar meses para ver o resultado final foi um belo teste de paciência.
Você e a ilustradora Juliana Eigner brincam com o tamanho dos medos, com uma pequena formiga ajudando seu amigo, muito maior, a superar desafios. Como enxerga essa relação entre os tamanhos das duas personagens?
Eu vi o Arthur fazer essa relação: ele media o seu medo pela Quibe, “Mãe, você acha que a Quibe consegue descer naquele escorregador grande?” e quando eu dizia que sim, ele respondia: “Ah, se a Quibe consegue então eu também vou conseguir”. E era assim com tudo.
E foi muito fácil trabalhar com a Juliana Eigner: ela captou toda a ideia dos tamanhos super rápido e já na primeira versão das ilustrações eu me apaixonei por tudo.
Como foi se aventurar na literatura infantil? Pensa em escrever mais para o público infantil; se sim, tem algum spoiler para a Quatro Cinco Um?
Eu tive uma ótima imersão me tornando mãe. Leio para o Arthur todos os dias antes de dormir, então foi uma boa maneira de pesquisar a literatura dessa faixa etária. A parte fofa é receber os feedbacks das crianças! Amo quando eles aparecem pedindo para eu autografar os livros. É lindo demais.
Ah, entreguei Quibe 2 para o pessoal da Companhia das Letras essa semana, então a resposta é sim! [risos].
Que livro você gostaria de ter lido na infância?
Os livros do Gildo [o personagem-elefante criado pela escritora e ilustradora Silvana Rando], amo todos!
Como podemos incentivar o hábito de leitura nas crianças?
Acho que servimos de exemplo para os nossos filhos. Ler é um hábito bem comum daqui de casa. O Arthur sempre me vê lendo, então vira um ritual natural. Quando algo faz parte da rotina da criação, e da rotina da casa, fica muito mais fácil.
Matéria publicada na edição impressa #72 em agosto de 2023.
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