Capa,

O acervo inundado de Bob Wolfenson

O retrato de Caetano Veloso que estampa a capa da edição de julho foi criado pelo fotógrafo e transformado pela água

01jul2020 | Edição #35 jul.2020

Um retrato de Caetano Veloso clicado por Bob Wolfenson nos anos 1980 e transformado pelo capricho das águas sujas do Pinheiros, que invadiram o estúdio do fotógrafo em fevereiro deste ano, estampa a capa de julho da Quatro Cinco Um. A edição traz um especial de fotografia com a São Paulo de Claudia Jaguaribe e Rodrigo Koraicho, travestis nas lentes de Ana Carolina Fernandes, o Piscinão de Ramos por Daniel Klajmic e retratos de Cristiano Mascaro, além do acervo inundado de Wolfenson.

Leia abaixo um depoimento de Wolfenson sobre o momento de criação da imagem de capa.

“Eu fui fotografar o Caetano para uma edição da revista Vogue nos anos 1980. Eu tinha uma mania de pedir para as pessoas levantarem a sobrancelha — era um modo de fotografar meu, fazia isso muito com as modelos. Quando ele o fez, foi dessa forma superarqueada. Aí ele começou a fazer uma série de movimentos com a face, com a sobrancelha de um lado, do outro… ele tem uma agilidade sobrancelhesca impressionante [risos]. E eu fui fotografando. Os contatos todos dessa série mostram essa variação.

“Foi engraçado que há pouco tempo fiz uma exposição só de retratos e alguém perguntou como é que eu fiz esse photoshop. Falei que não é photoshop, não, é ele mesmo. No fim, essa foto acabou sendo uma metáfora interessante, porque é alguém que capta e emite. O Caetano tem esse olho grande, esse olho farol, esse olho que vê mais do que os outros. Ele é um visionário.”

A revista de julho conta ainda com um artigo de José Saramago sobre o silêncio dos escritores perante o racismo e resenha de Mia Couto na seção de literatura infantojuvenil. Completam a edição textos sobre um olhar brasileiro sobre a história natural do vento, a eleição de Bolsonaro explicada por livros de Sartre e Adorno, a deterioração das democracias no Brasil e no mundo, o dicionário filosófico de Voltaire, o antirracismo na prática clínica de Frantz Fanon e os haicais do poeta japonês Bashô, entre outros.

Matéria publicada na edição impressa #35 jul.2020 em maio de 2020.