
A Feira do Livro, Política,
Revolução das margens
Prêmio Marielle Franco, que contempla ensaios inéditos de mulheres cis ou trans, anuncia nova edição
11jun2022 | Edição #58“Há um ditado africano que diz que, para quem procura bem, há sempre um novo começo. Isso se aplica à história das mulheres negras no Brasil”, disse a jornalista e educadora Rosane Borges ao afirmar que o primeiro romance publicado no país é Úrsula, de Maria Firmina dos Reis — e não A moreninha, de Joaquim Manuel de Macedo, como nos quiseram fazer crer. Neste sábado (11), no Auditório Armando Nogueira, ela anunciou, ao lado da jornalista Carol Trevisan, a terceira edição do Prêmio Marielle Franco, que premia ensaios inéditos sobre diversos aspectos do feminismo escritos por mulheres cis ou trans. As inscrições ocorrem até 14 de outubro.
“É nosso papel relembrar o legado de Marielle e continuar pressionando para saber o que aconteceu — quem mandou matar Marielle? — e também incentivar que novas Marielles surjam”, comentou Trevisan, que também agradeceu a diversas mulheres que fazem parte da luta: como Sueli Carneiro (“que abriu as portas do antirracismo pra muitas”), Vilma Reis (“a primeira vez que ouvi sobre a solidão da mulher negra foi com ela”, Lélia González (“que está entre nós apesar de não estar aqui fisicamente”) e Mirtes Santana (“mãe do Miguel, que busca justiça mesmo diante do pior do racismo, que é perder um filho”).
‘Se há uma subjetividade que pode protagonizar uma revolução, somos nós, as mulheres que habitam as margens do mundo’
Borges ainda exaltou as escritoras negras que vêm ganhando projeção no mercado, como Djamila Ribeiro, Bianca Santana e Juliana Borges. “O mercado editorial tem uma cadeia produtiva cara, que torna difícil a gente publicar, vender e ganhar reconhecimento. O prêmio, dentro da sua sinegeleza de aporte financeiro, tenta dar visibilidade às vozes de mulheres negras que se insurgem pela escrita”, disse. “Por que é preciso ler mulheres negras? Sem nenhuma megalomania, se há uma subjetividade que pode protagonizar uma revolução somos nós, as mulheres negras, as indígenas, as que habitam as bordas e as margens do mundo.” Borges encerrou a mesa com a frase que se tornou símbolo da luta iniciada por Marielle Franco: “Tentaram nos enterrar mas não sabiam que éramos sementes”.
Matéria publicada na edição impressa #58 em junho de 2022.
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