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A cobertura especial d’A Feira do Livro, que acontece de 14 a 22 de junho, é apresentada pelo Ministério da Cultura e pela Petrobras

MINISTÉRIO DA CULTURA E PETROBRAS APRESENTAM

Leonardo Fróes e Schneider Carpeggiani (Flavio Florido)

A FEIRA DO LIVRO 2025,

‘Tive o luxo de poder me dar uma vida perto da natureza’, diz Leonardo Fróes

Poeta de 84 anos refletiu sobre a natureza e a escrita em mesa muito interrompida por palmas n’A Feira do Livro

21jun2025

O poeta Leonardo Fróes compartilhou sua visão sobre a natureza e a escrita em uma mesa n’A Feira do Livro frequentemente interrompida por salvas de palmas, no Palco Petrobras, na tarde deste sábado (21).

Na conversa com o jornalista, editor e crítico literário Schneider Carpeggiani, o escritor abordou um capítulo fundamental de sua biografia — a mudança, ao lado da companheira, para um sítio em Secretário, em Petrópolis (RJ), após abandonar um trabalho concorrido em uma editora nos anos 70. 

“Tive o privilégio de poder me dar esta vida, de deixar de ser o profissional que fui, para traduzir dezenas de livros e pagar esse luxo que é poder viver em contato com a natureza”, disse ele, que acabou por se tornar um importante tradutor literário.

Leonardo Fróes (Flavio Florido)

Fróes contou que a opção de abandonar a vida na cidade partiu de um entendimento de que a escrita era a sua vocação. “Eu tinha que segui-la inevitavelmente, senão jamais seria uma pessoa satisfeita”, disse.

Mas um trabalho convencional parecia inconciliável com o ofício, preenchendo as horas em que ele gostaria de estar escrevendo e, mais ainda, lendo.

Sua fraqueza era a poesia, para pegar emprestado os versos iniciais de um de seus poemas mais conhecidos, “Maluco cantando nas montanhas”, que ele declamou para o público durante a conversa.

Instigado por Carpeggiani, Fróes disse que continuava acreditando na máxima. “Todos nós temos sentimentos poéticos. Mas apenas alguns se tornam, devido à sua fraqueza, especialistas em escrever poesia. Não conseguem ficar de boca calada, sentir suas emoções e se bastar. Sentem uma necessidade incontrolável de transmitir isso aos outros, de fazer com que as outras pessoas também se emocionem com o que os emociona.”

A vivência do poeta no campo alimentou parte considerável de sua produção — reunida em um volume pela Editora 34 — com versos que, segundo contou no evento, muitas vezes se baseiam em experiências concretas. Uma característica que marca vários desses poemas é uma observação aguda da fauna e da flora por parte do eu lírico, além da promoção de uma crença na unidade entre homem e natureza.

“Tenho uma visão de que nenhum de nós existe isoladamente”, afirmou. “Quando cheguei no mato, vi que lá não tem solidão. Porque você está cercado por uma infinidade de espécies, de companhias. Sei que é difícil a comunicação com os vegetais, porque o que eles mais têm é a sua carga de silêncio. Mas eles são coisas vivas, como nós.”

Crise climática e inteligência artificial

A crise ambiental contemporânea não parece assustar Fróes, hoje com 84 anos. Questionado pelo mediador se temia o fim do mundo, ele respondeu que não queria condicionar os prazeres de hoje a “uma hipótese assim tão macabra”. Inteligência Artificial? “Até hoje não entendi o que é, nem me esforcei para entender.” Há sinais de que “o futuro vai ser bom”, acrescentou ao narrar o êxtase que sentiu ao ver dezenas de jovens no Museu de Arte de São Paulo Assis Chateaubriand (MASP) para visitar a exposição de Claude Monet pela manhã.

Schneider Carpeggiani (Flavio Florido)

A mesa chegou ao fim após a intervenção de um homem que xingava o escritor e a organização da feira à beira do palco — o mesmo que tinha subido nele na mesa anterior, sobre Antonio Cicero, tomando o microfone de uma das participantes para declamar um texto de protesto.

“Eu fico muito contente que a minha capacidade poética seja capaz de despertar reações como esta”, disse Fróes. “É sinal de que eu não estou passando incólume pelo mundo. Esta é a força da poesia, e ela é superior à violência. Eu te dou um beijo.” O poeta começou a descer do palco para se aproximar do homem, mas foi interrompido por uma funcionária da produção.

A quarta edição d’A Feira do Livro 2025 acontece de 14 a 22 de junho, na praça Charles Miller, no Pacaembu. Realizado pela Associação Quatro Cinco Um, pela Maré Produções e pelo Ministério da Cultura, o festival literário paulistano, a céu aberto e gratuito, reúne mais de duzentos autores e autoras do Brasil e do exterior em uma programação com mais de 250 atividades, entre debates, oficinas, contações de histórias e encontros literários. Confira a programação e outras notícias do festival.

A Feira do Livro 2025 · 14 — 22 jun. Praça Charles Miller, Pacaembu

A Feira do Livro é uma realização do Ministério da Cultura, por meio da Lei Rouanet – Incentivo a Projetos Culturais, Associação Quatro Cinco Um, organização sem fins lucrativos dedicada à difusão do livro e da leitura no Brasil, Maré Produções, empresa especializada em exposições e feiras culturais, e em parceria com a Prefeitura de São Paulo.

Quem escreveu esse texto

Clara Balbi