Literatura infantojuvenil,
Leitores de carteirinha: novembro 2022
Jovens frequentadores de bibliotecas comunitárias resenham seus livros preferidos
01nov2022 | Edição #63Nelsina Regina da Silva Dias, 16 – Duque de Caxias (RJ)
Mirna Pinsky. Nó na garganta.
Ilustrações de Andréa Ramos • Editora Atual • 88 pp • R$ 69
Uma menina de dez anos chamada Tânia se muda com os pais da cidade para o litoral em busca de melhores condições de vida, mas a jovem se defronta com a dura realidade do preconceito. Isso desperta tristeza e indignação na menina, que lamenta a falta de compreensão dos pais, que começam a trabalhar como caseiros de dona Matilde, mulher rica com a qual ela não consegue simpatizar.
Na pequena cidade litorânea, Tânia explora a natureza ao redor e quer fazer amizades, mas encontra resistência à sua presença. Ela se atrapalha durante uma resposta na sala de aula e passa a ser motivo de chacota. Assim experimenta o racismo por meio da rejeição, das brincadeiras de mau gosto e até mesmo de comentários bastante fortes. Nesses momentos Tânia sente um nó na garganta e deseja ser branca para receber o mesmo tratamento destinado às outras meninas.
Racismo
Os pais de Tânia guardavam para si o racismo: eles fingiam não ter consciência do que sofriam por essa ser a única forma que viam para se manter. A mãe até resmunga contra dona Matilde, mas não passa disso. Já o pai tem medo de enfrentar os patrões.
Mais Lidas
Tânia percebe tudo isso e se entristece. A partir dessa dor, ela vai se distanciando dos conceitos de seus pais, que, como ela nota, são frutos de um longo processo de adaptação de valores e costumes do meio social.
Nó na garganta combina muito com tudo o que estamos vivendo, em um momento de forte luta contra o racismo. Acredito que a literatura, mesmo que não tenha essa intenção, pode incitar reflexões sobre diversos temas. Acredito ainda que todos nós, mesmo que nos afirmemos não preconceituosos, precisamos refletir dia após dia sobre isso e lutar contra o racismo que está se enraizando na nossa sociedade.
Wanessa Rodrigues de Souza, 15 – Fortaleza (CE)
Kiera Cass. A seleção.
Tradução de Cristian Clemente • Seguinte • 368 pp • R$ 49,90
Meu livro favorito chama-se A seleção. Ele fala de uma garota de dezessete anos, America Singer, que vive em um país dividido em castas. Ela é chamada para a seleção — uma competição entre 35 garotas da região de Iléa para se tornar a futura rainha e esposa do príncipe, Maxon Schereave. Porém America tem um relacionamento secreto com um rapaz que é de uma casta abaixo dela, Aspen. Ela vê a competição como uma enorme bobagem para satisfazer a vaidade do príncipe, mas acaba se inscrevendo, pois sua mãe a força.
Mesmo sem ter esperanças, America foi uma das 35 garotas escolhidas. Ela não se alegra nem um pouco com a notícia, pois ficará longe de Aspen.Este fica muito decepcionado ao saber que America irá para o palácio e termina com ela, mas America promete se casar com ele quando voltar.
Personalidade marcante
A personalidade de America me cativou: ela é sincera, determinada, corajosa e confiante. Ela não se curva facilmente às regras que lhe são impostas: tem personalidade forte e luta pelo que acredita ser certo. Já Maxon, o príncipe, é um perfeito cavalheiro: educado, gentil, charmoso. No seu primeiro encontro com Maxon, America não é muito simpática, mas os demais encontros deles são divertidos: eles têm personalidades diferentes, mas muita conexão.
America não busca se aproximar de Maxon e o considera um amigo, pois ama Aspen. Mas a sua personalidade atrai Maxon pela sinceridade, e ele tem esperanças de que ela possa superar seu amor. Kiera fez uma distopia romântica. O enredo do livro prende e mantém o leitor interessado até o final. Pode até parecer um livro romântico, mas mostra conflitos sociais e a desigualdade, como as castas. É um dos pontos positivos da obra, que recomendo bastante.
Naomir Oliveira Bastos, 17 – Vila Petrolina em Caracaraí (RR)
Tino Freitas. Leila.
Ilustração de Thais Beltrame • Abacatte Editorial • 52 pp • R$ 47,50
Leila aborda um caso de abuso infantil de uma forma um tanto explícita. Infelizmente retrata coisas que costumam acontecer com frequência: podemos não ver, mas nossos vizinhos podem ser uma “Leila” ou um “Barão”. O livro mostra que uma criança nessa situação pode desistir da própria vida, caindo em profunda depressão. Com ajuda a pessoa aprende a se reestruturar e a seguir em frente. Mas se Leila não tivesse a ajuda de seus amigos, o fim poderia ser bem trágico.
Kaylane Karinne P. B. de Santana, 19 – Recife (PE)
John Boyne. O menino do pijama listrado.
Tradução de Augusto Pacheco Calil • Seguinte • 192 pp • R$ 54,90
O menino do pijama listrado conta a história de Bruno, um menino que vive na Alemanha na Segunda Guerra. Seu pai é um soldado nazista. Entediado na casa nova, ele explora os arredores e descobre um campo de concentração onde vive Samuel, um menino judeu. Ficam amigos, e todo dia Bruno vai até o campo para brincar. Um dia Bruno passa para o outro lado à procura do pai de Samuel: é o momento mais emocionante do livro. O livro mostra a inocência e a amizade das duas crianças, mas o final é triste.
A Rede Nacional de Bibliotecas Comunitárias (RNBC) é um dos projetos mais importantes de articulação entre leitores e bibliotecas no Brasil. Publicamos aqui resenhas de livros escolhidos por jovens que frequentam a Biblioteca Comunitária Manns (RJ), a Biblioteca Comunitária Sorriso da Criança (CE), a Biblioteca Geinan Vieira Morais (RR) e a Biblioteca Comunitária Amigos da Leitura (PE). Contamos com eles para manter acesa a chama da leitura! Conheça e saiba como apoiar a Rede Nacional de Bibliotecas Comunitárias no site rnbc.org.br e a ong Vaga Lume no site vagalume.org.br
Este texto foi realizado com o apoio do Itaú Cultural.
Matéria publicada na edição impressa #63 em novembro de 2022.