Literatura infantojuvenil,

Leitores de carteirinha: abril 2022

Jovens frequentadores de bibliotecas comunitárias resenham seus livros preferidos

21mar2022 | Edição #56

Bianca Aguiar Oliveira, 18 – Fortaleza (CE)

Paulo Coelho. O alquimista.
Paralela • 208 pp • R$ 39,90

Neste livro vamos conhecer a história de um jovem chamado Santiago, um pastor de ovelhas que tem sonhos repetidos com um tesouro e decide seguir esse sinal. No caminho, ele encontra uma cigana e um rei que incentivam sua busca e assim vem o primeiro ensinamento do livro…

O rei conta a história de um jovem que queria saber o segredo da felicidade e foi até um castelo. Lá encontrou um sábio, mas ele falou que naquele momento não tinha tempo de explicar, então pediu ao rapaz que desse um passeio por seu palácio segurando uma colher com óleo: a condição era observar o castelo sem deixar o óleo cair. O rapaz voltou em algumas horas, e o sábio perguntou detalhes sobre o castelo, mas o rapaz confessou que não sabia responder: estava tão preocupado com a colher que não conseguiu observar nada além disso. O grande segredo da felicidade está aí: olhar todas as maravilhas do mundo e nunca esquecer da colher de óleo.

Seguir o coração

Santiago compreendeu e dali partiu em busca de sua lenda pessoal. O livro fala da sorte de principiante, a sorte que nos dá impulso para começar uma nova experiência. No primeiro dia de sua jornada ele foi assaltado e levaram tudo o que tinha. Daí o segundo ensinamento: ele poderia ter parado ali, mas seguiu seu coração e estava determinado a realizar seu sonho.

Essa história tem altos e baixos, como tudo em nossas vidas. Acho este livro incrível porque coloca situações cotidianas e traz incentivos para a nossa vida pessoal. Toda vez que leio O alquimista me sinto renovada e segura de que posso conquistar o que eu quiser. É como diz um trecho do livro: “Quando você deseja uma coisa, todo o universo conspira para que possa realizá-la”.

Maria Luiza Viena Borges, 20 – São João de Meriti (RJ)

Nicola Yoon. O sol também é uma estrela.
Tradução de Alves Calado Arqueiro • 288 pp • R$ 49,90

O sol também é uma estrela, livro de Nicola Yoon, é um romance que trata com leveza sobre assuntos como racismo, ciência, amor, destino e tudo aquilo que permeia a vida de pessoas racializadas que estão tentando se encontrar no mundo. A princípio a obra pode ser considerada apenas mais uma história adolescente, porém as nuances do livro trazem aspectos que precisam de discussão.

O ritmo eletrizante da história, que se passa num único dia, carrega reflexões e ensinamentos tocantes

A história tem como protagonistas dois adolescentes e suas famílias, ambas imigrantes nos Estados Unidos. A diferença é que Daniel, filho de pais coreanos, sempre se vê à sombra do irmão mais velho, Charlie, e sob pressão para decidir sobre seu futuro. Já Natasha, uma jamaicana que vive no país desde a infância, sente sua vida ruir ao receber a ordem de deportação do governo. Em meio a essa história de amor, na qual o leitor se vê novamente sentindo tudo como um adolescente apaixonado, a autora traz à tona o problema do racismo, e não só partindo de pessoas brancas, mas também de outras minorias.

Os capítulos mostram como as vivências das pessoas racializadas são afetadas pela discriminação e o quanto as relações familiares podem moldar e traumatizar o caráter dos indivíduos. O ritmo eletrizante da história, que se passa num único dia, carrega reflexões e ensinamentos tocantes, que trazem à tona emoções que, ao crescermos, deixamos para trás.

Eduarda Albuquerque, 18 – Jaboatão dos Guararapes (PE)

John Harding. A menina que não sabia ler.
Tradução de Elvira Serapicos LeYa • 288 pp • R$ 53

Se te interessas por um livro que foge de obviedades, este é o indicado. Florence é uma menina de doze anos tão complexa que por vezes me peguei esquecendo a sua idade. É incrível como o autor conseguiu retratá-la. Uma protagonista forte e surpreendente, que não hesita e que, mesmo com pouca idade, é capaz de fazer o que deseja. É uma mente brilhante e lotada de nuances. O ponto forte dessa protagonista é seu amor pelos livros. Órfã, Florence é privada de educação pelo tio ausente, seu tutor. Mas, ao descobrir a biblioteca que a mansão em que mora possui, ela não tarda a aprender a ler por si mesma.

Mas não só de paixão por livros vive Florence: ela é guiada por uma superproteção pelo seu irmão mais novo, Giles. Em determinado momento o autor nos dá a entender que talvez exista alguma obsessão de Florence pelo menino. Quando ela se sente encurralada por uma nova preceptora que aparenta ter certa adoração pelo irmão, ela se vê em um beco sem saída, disposta a fazer tudo o que está a sua disposição para impedir que a mulher leve seu irmão.

Um romance gótico

Somos guiados por um mistério inigualável. Harding possui um sutil toque de Edgar Allan Poe. O romance é um compilado de emoções e por vezes tive de fechar o livro, respirar fundo e me questionar se realmente estava lendo aquilo. O suspense me prendeu tanto que a escrita chega a ser até cômica em determinados momentos. A natureza de Florence é instigante, e o toque sobrenatural é envolvente. Finalizei a leitura em puro êxtase. Foi um final que me envolveu e me trouxe satisfação. E acredito que o mesmo impacto é sentido por qualquer um que leia este romance gótico.

A Rede Nacional de Bibliotecas Comunitárias (RNBC) é um dos projetos mais importantes de articulação entre leitores e bibliotecas no Brasil. Publicamos aqui resenhas de livros escolhidos por três jovens que frequentam a Biblioteca Comunitária Sorriso da Criança (CE), a Biblioteca Comunitária Sônia Maria Ricardo (RJ) e a Biblioteca Comunitária Peró (PE). Contamos com eles para manter acesa a chama da leitura! Conheça e saiba como apoiar a Rede Nacional de Bibliotecas Comunitárias no site rnbc.org.br
Esse texto tem o apoio do Itaú Social.

Quem escreveu esse texto

Bianca Aguiar Oliveira

18 anos, estuda em Fortaleza.

Maria Luiza Viena Borges

20 anos, estuda em São João de Meriti (RJ).

Eduarda Albuquerque

18 anos, estuda em Jaboatão dos Guararapes (PE)

Matéria publicada na edição impressa #56 em fevereiro de 2022.