Listão da Semana,
Uma outra forma de ver o luto
‘Uma rosa só’, de Muriel Barbery, uma ficção do sociólogo Reginaldo Prandi, uma versão em cordel do clássico ‘A revolução dos bichos e mais’
25fev2022 | Edição #55Ao longo de dois anos de pandemia aprendemos a viver com o luto batendo à nossa porta diariamente. Como lidar com esse sentimento sem naturalizá-lo ou banalizá-lo? Uma resposta possível pode ser encontrada na literatura, mais especificamente no novo romance de Muriel Barbery (de A elegância do ouriço), Uma rosa só. No livro, a protagonista Rose precisa ir da França até Kyoto, no Japão, para ouvir a leitura do testamento do seu pai, que lhe deixou um itinerário para ela percorrer visitando templos, jardins zen e casas de chá e encontrando-se com seus amigos.
Completam a seleção da semana um livro do artista e escritor nascido no Mali, Manthia Diawara, que desconstrói os clichês ocidentais sobre o continente africano, uma versão em cordel do clássico A revolução dos bichos, uma ficção do sociólogo Reginaldo Prandi (conhecido por seus livros sobre religiões afro-brasileiras), um romance do escritor queer camaronês Max Lobe sobre um casal homossexual tentando viver em uma Suíça xenofóbica e um livro da anarquista feminista Maria Lacerda de Moura (1887-1945).
Uma rosa só. Muriel Barbery.
Trad. Rosa Freire d'Aguiar • Zahar/Companhia das Letras • 304 pp • R$ 89,90
Novo romance da filósofa e escritora francesa (nascida em Casablanca, no Marrocos), que estreou na literatura com o romance A morte do gourmet (2000), ganhador do Prix Bacchus-BNS, e ganhou fama mundial com o best-seller A elegância do ouriço (2006), adaptado para o cinema por Mona Achache em 2009. Graças a uma residência literária, Barbery viveu dois anos em Kyoto (Japão), onde está ambientado seu novo livro. Aos quarenta anos, Rose recebe a notícia da morte de seu pai e precisa viajar para Kyoto, para acompanhar a leitura do testamento. Ao chegar lá, descobre que ele lhe deixou um estranho itinerário a ser percorrido com um de seus funcionários.
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Motivos e razões para matar e morrer. Reginaldo Prandi.
Companhia das Letras • 336 pp • R$ 74,90
Mais Lidas
Professor emérito da Universidade de São Paulo (USP), o sociólogo paulista – autor de mais de trinta livros, entre os quais os influentes Os candomblés de São Paulo (1991) e Mitologia dos orixás (2001) – lança seu sexto livro de ficção. Nos anos 50, em meio ao processo de modernização do Brasil, uma pequena cidade do interior vê a chegada de novas tecnologias, novos costumes e novas pessoas, que entram em choque com os costumes e a moralidade dos antigos moradores.
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Em busca da África: pretitude e modernidade. Manthia Diawara.
Trad. Denise Bottmann • Zahar/Companhia das Letras • 416 pp • R$ 89,90
Escritor, cineasta e crítico da arte, Diawara teve uma vídeo-instalação exposta na 34ª Bienal de São Paulo, em 2021, na qual expunha as ideias de Édouard Glissant, Wole Soyinka, Angela Davis e David Hammons. Publicado em 1998, após seu livro sobre o cinema africano, Em busca da África desmonta os clichês ocidentais sobre o continente africano, discute as ideias de Glissant, Frantz Fanon, Malcom X e Richard Wright, aponta a substituição progressiva do ideal socialista pela busca da democracia e analisa as tendências na literatura, na música, no cinema e nas artes plásticas.
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A revolução dos bichos em cordel. Josué Limeira.
Ils. Vladimir Barros • Yellowfante/Autêntica • 112 pp • R$ 54,90/38,90
O poeta recifense transpõe o célebre Animal Farm (1945), de George Orwell, para o universo do cordel. Cansados de serem explorados por um patrão bêbado e incompetente, os bichos da Granja do Solar promovem uma revolução para assumir o controle do próprio destino. Mas as coisas não saem como eles esperavam.
Trecho do livro:
– Qual a natureza da vida?
Vejam a realidade:
Nossa vida é miserável,
Curta e de dificuldades.
Trabalhamos todo dia
Até morrer em fatias
No cutelo da maldade.
– Nosso alimento é pouco,
Nosso trabalho é forçado.
Nenhum animal na Inglaterra
É feliz, livre ou amado.
Vivemos na escravidão,
E sabem qual a razão?
O tal do homem malvado”
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A trindade Bantu. Max Lobe.
Trad. Lucas Neves • Âyiné • 240 pp • R$ 59,90
Nascido em Douala (Camarões), mas radicado na Suíça desde os dezoito anos, o escritor queer narra neste romance a história de um casal homossexual formado por um jovem africano, Mwána, e seu companheiro suíço-alemão, o ruivo Rüedi, que compartilha uma vida marcada num país atravessado pela intolerância e pela xenofobia, mas enfrenta suas dificuldades econômicas (e muitas tentativas infrutíferas de conseguir um emprego) com bom humor e esperança.
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Amai e… não vos multipliqueis. Maria Lacerda de Moura.
Posf. Mariana Patrício • Chão • 328 pp
Publicado em 1932 pela feminista mineira, o livro se inspira nas crônicas que ela escrevia para o jornal operário O Combate na época em que vivia numa comunidade libertária em Guararema (SP), formada por anarquistas espanhóis, franceses e italianos. Moura chegou a colaborar com o movimento sufragista de Bertha Lutz, mas rompeu com as feministas liberais por entender que o direito de voto só atendia a uma parcela pequena das necessidades reais das mulheres. Suas obras criticam de forma contundente o patriarcado e a moral sexual da época e discute temas como o amor livre, a maternidade consciente, a educação sexual, o divórcio e o direito ao prazer sexual.
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Matéria publicada na edição impressa #55 em outubro de 2021.