Listão da Semana,

Os bastidores do Instagram e mais 7 lançamentos

Livros da semana incluem o novo romance de Salman Rushdie e a estreia de Maria Flor

29abr2021 | Edição #46

Em Casta: as origens de nosso mal-estar, a jornalista ganhadora do Pulitzer Isabel Wilkerson analisa os pontos de contato entre a escravidão nos Estados Unidos, o nazismo na Alemanha e o sistemas de castas na Índia. Considerado “o mais importante livro norte-americano de não ficção já publicado no século 21” pelo jornal The New York Times, consiste em uma valiosa investigação jornalística que ajuda a entender as bases da desigualdade institucionalizada e da atual crise democrática das sociedades ocidentais.

Completam a seleção da semana o novo livro de Salman Rushdie, uma investigação dos bastidores do Instagram, narrativas botânicas de Stefano Mancuso, uma revisão crítica do romance por Julián Fuks, a estreia da atriz Maria Flor na literatura, uma HQ de Bastien Vivès e cem contos de Bernardo Kucinski.

Viva o livro brasileiro!

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Casta: as origens de nosso mal-estar. Isabel Wilkerson.
Trad. Denise Bottmann e Carlos Alberto Medeiros • Zahar/Companhia das Letras • 464 pp • R$ 59,90

“Nesse livro, eu queria entender as origens e a evolução do processo de classificar e elevar um grupo humano acima de outro, e as consequências disso para os presumidos beneficiários e aqueles apontados como inferiores”, escreve a autora. Esse processo, para ela, é a divisão da sociedade em castas, a poderosa infraestrutura que mantém cada grupo em seu lugar e que, segundo ela, não é igual, mas está associada à ideia de raça. A jornalista, primeira mulher afro-americana a ganhar o Pulitzer de jornalismo, em 1994, investiga e compara a estratificação na Índia, na Alemanha nazista e no que chama de a “pirâmide de castas” norte-americana. A partir de um mergulho na história de seu país, passando pelo início da escravidão e os momentos mais importantes da luta pelos direitos civis nos Estados Unidos, o ensaio mostra como a estrutura de castas ajuda a entender as revoltas contemporâneas contra o racismo.

Trecho: “Muita gente pode dizer, e com razão: ‘Não tenho nada a ver com o começo disso tudo. Não tenho nada a ver com os pecados do passado. Meus ancestrais nunca atacaram os povos indígenas, nunca tiveram escravosʼ. Certo. Nenhum de nós estava aqui quando a casa foi construída. Nossos antepassados imediatos podiam não ter nada a ver com isso, mas aqui estamos nós, os ocupantes atuais de uma propriedade com rachaduras causadas pela corrosão, com paredes abauladas e fissuras na fundação. Somos os herdeiros de tudo o que há de certo ou errado com ela. Não fomos nós que erguemos as vigas e os pilares tortos, mas somos nós que agora temos de lidar com eles.”

Leia aqui a resenha do livro escrita pela jornalista Yasmin Santos.

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Quichotte. Salman Rushdie.
Trad. Jorio Dauster • Companhia das Letras • 520 pp • R$ 89,90

O novo romance do autor de Os filhos da meia-noite (vencedor do Booker Prize de 1981) e Os versos satânicos (1988) é uma sucessão de histórias dentro de histórias e citações. O nome (e, de certa forma, a identidade do personagem de Cervantes) é escolhido pelo gerente de vendas de um laboratório farmacêutico, Ismail Smile, ao partir para a conquista de uma celebridade da televisão pela qual se apaixona. A história é contada por um escritor indiano residente em Nova York chamado DuChamp, e a aventura do quixote contemporâneo parte em uma espécie de road-trip pelos Estados Unidos. O romance foi finalista do Booker Prize de 2019.

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A planta do mundo. Stefano Mancuso.
Trad. Regina Silva • Ils. Andrés Sandoval • Ubu • 192 pp • R$ 59,90

As plantas representam 85% da biomassa do planeta, diz o autor do livro, e “é óbvio que qualquer história em nosso planeta tem, de um jeito ou de outro, plantas como protagonistas”. Por isso, ele afirma no prefácio de seu livro: “Para escrever sobre elas, basta ouvir suas histórias e contá-las, utilizando sempre todas as plantas das quais precisamos”. Na coletânea de histórias, as plantas-protagonistas se entrelaçam com eventos históricos e acontecimentos humanos — como quando o autor consegue despistar um especialista em um sebo e arrematar um exemplar raro sobre as árvores da liberdade, que, durante a Revolução, foram plantadas por toda a França como símbolos dos ideais revolucionários. Mancuso, fundador da neurobiologia vegetal, é autor de Revolução das plantas, que recebeu o prêmio Galileo de escrita literária de divulgação científica, em 2018.

Leia também: Por uma década, o poeta Leonardo Fróes registrou no jornal os segredos de botânica que encontrou no sítio onde mora

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Romance: história de uma ideia. Julián Fuks.
Companhia das Letras • 216 pp • R$ 59,90

“Breve advertência ao leitor: crítico algum, teórico algum, historiador algum, romancista algum jamais escreverá a história do romance.” Assim Julián Fuks começa o seu ensaio sobre, justamente, se não a história do romance, “o comentário possível sobre uma história que outros já tentaram contar algumas vezes”. Para escrevê-lo, segundo Fuks, seriam necessárias todas as páginas já concebidas como romance e todos os romancistas em conjunto, algo comparado pelo autor ao “mapa borgeano que, para retratar com perfeição um império, se estendeu precisamente por todo o seu território”. O ensaio, então, que vai do surgimento do gênero (com Dafoe), passando por seu suposto apogeu (com Goethe, Balzac, Flaubert, Doistoiévski e Tolstói) e sua suposta queda (com Beckett), até seu possível renascimento (com Sebald e Coetzee), é um convite para que outros romancistas, teóricos e críticos redijam as suas histórias do romance — gênero que considera só ser possível definir pelo paradoxo, mas para o qual o autor arrisca sua definição em linguagem literária: “O romance talvez seja outra palavra que o sonho humano alimenta, mas que não há ninguém que explique e ninguém que entenda”. Em 2016, Fuks venceu o Prêmio Jabuti e o Prêmio Literário José Saramago e foi finalista do Prêmio Oceanos com o romance A resistência.

Leia aqui a resenha de Julián Fuks sobre o novo romance de Marçal Aquino.

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Já não me sinto só. Maria Flor.
Planeta • 192 pp • R$ 41,90

“A história que estou tentando contar é uma história de amor, a história de como eu encontrei o amor. É cafona, eu sei, mas ele existe, o amor.” Assim a atriz Maria Flor apresenta seu livro e estreia na literatura. No romance, o tom é de autoficção: “Essa é a minha história. É só isso”, diz a primeira frase da apresentação, não muito abaixo do aviso de praxe: “Qualquer semelhança com nomes, pessoas, fatos ou situações da vida real terá sido mera coincidência”. Em entrevista para a Quatro Cinco Um, a autora conta porque quis manter essa confusão entre ficção e vida real numa história não só de amor, mas também de autodescoberta de uma jovem mulher.

Leia aqui a conversa entre Maria Flor e a jornalista Iara Biderman para a Quatro Cinco Um.

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A cicatriz e outras histórias. Bernardo Kucinski.
Alameda • 452 pp • R$ 84

Mais de cem contos do jornalista e escritor estão reunidos na coletânea — são quase todos os que escreveu entre 2010 e 2020, incluindo narrativas inéditas ou espalhadas por jornais e revistas. Também inclui todos os textos de Você vai voltar pra mim e outros contos, ganhador do Prêmio Jabuti, em 2015. Não na mesma ordem do livro premiado — na coletânea, os textos foram organizados pelo autor em cinco temas: Histórias dos anos de chumbo, Instantâneos, Outras histórias, Kafkianas e Judaicas. Histórias da ditadura, tema do romance de estreia de Kucinski, K.: relato de uma busca (2011), e recorrente em sua obra, ocupa boa parte do livro. Mas há espaço para outras temáticas tratadas pelo autor ao longo da última década, de conflitos familiares e amorosos ao humor e às influências kafkianas e judaicas, como indica a divisão dos contos.

Ouça aqui o episódio do podcast 451 MHz que teve Bernardo Kucinski como convidado e discutiu como a ditadura militar brasileira (1964-85) é representada na ficção.
 

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Polina. Bastien Vivès.
Trad. Fernado Scheibe • Nemo/Grupo Autêntica • 208 pp • R$ 59,80/ 41,90

Vencedora do Grande Prêmio da Crítica em quadrinhos na França, em 2012, a graphic novel acompanha a história clássica da menina que sonha em ser uma estrela da dança. Dos primeiros passos em uma escola em Moscou, ícone do balé tradicional, às experiências de vanguarda em Berlim, seguimos a trajetória de Polina pelos bastidores do mundo da dança, a rotina de jovens artistas e os lugares por eles frequentados — destaque para a plateia e as escadarias do Teatro Bolshoi e o burburinho da estação central berlinense. Aos 25 anos, em 2019, Vivès ganhou o prêmio revelação em quadrinhos do festival de Angoulême com O gosto do cloro (Barba Negra/LeYa).

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Sem filtro. Sarah Frier.
Trad. Sandra Martha Dolinsky • Planeta • 384 pp • R$ 57,90

Repórter sênior de tecnologia da Bloomberg, a autora entrevistou funcionários e executivos da gigante das redes sociais para entender seu crescimento vertiginoso e seu impacto cultural, incluindo a redefinição do conceito de celebridade e a nova economia dos influenciadores. Entre os entrevistados estão os fundadores do Instagram, que já deixaram a empresa, e diretores e equipes atuais da Facebook Inc., que comprou  a empresa em 2012. A autora escreve no prefácio que a maioria das fontes do livro falou sem permissão explícita ou conhecimento da empresa. Sua investigação jornalística foi eleita como livro do ano de 2020 pelo jornal Financial Times.

Trecho da introdução: Todo mês, mais de 1 bilhão de pessoas usa o Instagram. Fazemos fotos e vídeos de nossa comida, nosso rosto, nosso cenário favorito, nossa família e nossos interesses e os compartilhamos, esperando que reflitam algo sobre quem somos ou quem aspiramos ser. Interagimos com essas postagens e entre nós, com o objetivo de criar relacionamentos mais profundos, redes mais fortes ou marcas pessoais. É assim que funciona a vida moderna. Raramente temos a oportunidade de pensar a respeito de como chegamos até aqui e do que isso significa. Mas deveríamos. O Instagram foi um dos primeiros aplicativos a explorar totalmente nosso relacionamento com nossos celulares, obrigando-nos a experimentar a vida por meio de uma câmera pela recompensa da validação digital. A história do Instagram é uma lição impressionante sobre como as decisões internas de uma empresa de mídia social – o que os usuários ouvem, quais produtos criar e como medir o sucesso – podem afetar drasticamente a maneira como vivemos, e quem é recompensado em nossa economia.

Ah, segue a gente lá! @quatrocincoum

Quem escreveu esse texto

Marília Kodic

Jornalista e tradutora, é co-autora de Moda ilustrada (Luste).

Iara Biderman

Jornalista, editora da Quatro Cinco Um, está lançando Tantra e a arte de cortar cebolas (34).

Matéria publicada na edição impressa #46 em junho de 2021.