O quadrinho do ano e mais 7 lançamentos

Conhecido por suas querelas com os quadrinhos de massa, dedicando a maior parte da carreira a trabalhos autorais, o norte-americano Barry Windsor-Smith, 73, demorou 35 anos — quase metade de sua vida — para lançar o épico Monstros no ano passado. Não tardou para que viessem as láureas, inclusive na forma de três prêmios Eisner, considerado o Oscar dos quadrinhos, neste 2022. A HQ, que chega nesta semana às livrarias brasileiras pela editora Todavia, trata de um experimento genético nazista que visa criar um super-soldado.

Completam a seleção da semana a autobiografia da britânica Bernardine Evaristo, contos da recifense Marilene Felinto, o novo romance do paulistano B. Kucinski, uma imersão pelos anos decisivos de Kafka, poemas da canadense Anne Carson e uma releitura indígena de um clássico infantojuvenil por Yaguarê Yamã

Viva o livro brasileiro!

Monstros. Barry Windsor-Smith.
Trad. Érico Assis • Todavia • 368 pp • R$ 149,90 

Escrito e ilustrado pelo artista inglês Barry Windsor-Smith e inspirado em um enredo pensado inicialmente para um gibi de Hulk, o livro narra a história de um experimento genético nazista desenvolvido no final da Segunda Guerra Mundial que visava criar um super-soldado que acaba sendo retomado pelos Estados Unidos na época da Guerra do Vietnã. Produzido ao longo de 35 anos, o livro ganhou o prêmio Eisner 2022 em três categorias: melhor álbum gráfico inédito, melhor roteirista e melhor letrista. Windsor-Smith assinou diversos trabalhos na Marvel Comics, incluindo histórias dos personagens Wolverine, X-Men, Demolidor e Conan.

Leia também: Escritor narra uma breve história das HQs em volume rico em ilustrações.

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Manifesto: sobre nunca desistir. Bernardine Evaristo.
Trad. Camila Von Holdefer • Companhia das Letras • 232 pp • R$ 69,90

Vencedora do Booker Prize de 2019, a autora do romance Garota, mulher, outras (publicado no Brasil em 2020) expõe nessa autobiografia os preconceitos racistas e sexistas que teve de enfrentar na vizinhança, na escola, na igreja e em sua carreira profissional. Evaristo oferece também algumas recomendações práticas para enfrentar essas adversidades. Nascida em Londres em uma família birracial (pai negro, nigeriano, e mãe branca, inglesa), ela descreve suas relações amorosas com homens e mulheres e o seu esforço para tornar o ambiente literário mais inclusivo. Professora de escrita criativa na Brunel University, em Londres, ela ganhou o British Book Award for Best Fiction.

Leia também: A filósofa Djamila Ribeiro aponta caminhos construtivos para uma sociedade menos desigual.

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Mulher feita e outros contos. Marilene Felinto.
Fósforo • 80 pp • R$ 54,90

A coletânea de contos da recifense Marilene Felinto traz dez narrativas com acontecimentos corriqueiros vividos por personagens majoritariamente femininas. Os textos falam dos dissabores cotidianos: a recordação de uma receita culinária com a mãe; a menina que decidiu que não seria costureira, e sim a dona da venda; o homem que desistiu de ser escritor para se tornar um mecânico. Felinto é autora de As mulheres de Tijucopapo (1982), que ganhou o Prêmio da União Brasileira dos Escritores e o Jabuti de autor revelação.
 
Trecho do livro:
“Não é que eu me importasse, de fato, por Ricardo sequer olhar para mim. O que me espantava era o desinteresse dele pela diferença entre nós — pois eu nunca tinha visto um menino tão branco, tão loiro e de olhos tão intensamente azuis. Ele só me interessava, de fato, pela diferença. O que eu queria saber era como se nascia com olhos azuis tão azuis que me dava até vontade de rir, às vezes de gargalhar, nervosa”.

Leia também: Em entrevista a Marilene Felinto, o escritor Raduan Nassar fala sobre velhice, política, maconha e criação literária.

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A cabeça do pai. Denise Sant’Anna.
Todavia • 128 pp • R$ 54,90/39,90

O primeiro livro de ficção da professora de história da PUC-SP, autora de Políticas do corpo (1995) e História da beleza no Brasil (2014), está centrado nas recordações de uma narradora cujo pai idoso, já cansado de cuidar da esposa com Alzheimer, sofre um AVC profundo e vai para uma Unidade de Terapia Intensiva. Com cada capítulo estruturado em torno de um órgão ou membro do corpo, o drama traz à tona diversos episódios do convívio familiar enquanto a protagonista tenta retomar seu trabalho. Sant'Anna é doutora em história pela Universidade de Paris 7 com um estudo sobre os cuidados com a aparência ao longo do século 20.

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O colapso da Nova Ordem. B. Kucinski.
Alameda • 120 pp • R$ 48

Em seu novo romance, o jornalista e cientista social paulistano retoma sua novela distópica A Nova Ordem (2019), que descrevia o projeto militar de eliminar 90 milhões de brasileiros. O aparecimento de uma peste permite que o governo tente implementar seus planos de extermínio, distribuindo um coquetel de ervas e um placebo inútil enquanto amplia seus mecanismos de acumulação de dinheiro. Professor aposentado da Universidade de São Paulo (USP), Kucinski — que já havia conquistado o prêmio Jabuti de 1997 com o livro Jornalismo econômico — estreou na literatura em 2011, aos 74 anos, com o romance K.: relato de uma busca (publicado pela Expressão Popular e reeditado em 2016 pela Companhia das Letras).
 
Trecho do livro:
“Ao fim de três anos, a Grande Peste havia matado sessenta milhões de brasileiros, incluindo a totalidade dos doentes crônicos e dos velhos, e a maioria dos indígenas, quilombolas, desempregados e moradores de rua. Um êxito notável, embora aquém da meta de eliminar noventa milhões. O segredo do Great Reset nunca vazou e o coquetel das Sete Drogas Milagrosas consagrou-se como o medicamento mais vendido na Nova Ordem, superando a dipirona e a aspirina”.

Leia também: O sucesso da ficção distópica no mercado brasileiro mostra o interesse em sobreviver às dificuldades do presente.

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Kafka: os anos decisivos. Reiner Stach.
Trad. Sofia Mariutti • ​​​​Todavia • 656 pp • ​​​​​ R$ 134,90

Os anos mais criativos de Kafka são contemplados no segundo volume da minuciosa biografia escrita pelo crítico literário alemão Reiner Stach, que vasculhou milhares de páginas dos diários para reconstituir a vida do escritor entre 1910 e 1915, tendo acesso aos bastidores da criação de obras como A metamorfose, O processo, O desaparecido e Na colônia penal. O volume trata de temas como o relacionamento conflituoso com Felice Bauer, a relação com sua herança judaica e a chegada da Primeira Guerra Mundial.

Leia também: Diários revelam como Kafka se sentia dividido entre um emprego no escritório e a vocação para a literatura.

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Falas curtas. Anne Carson.
Trad. Laura Erber e Sergio Flaksman • Relicário • 108 pp  R$ 52,90

A coletânea de pequenos poemas em prosa da escritora e helenista canadense Anne Carson inclui reflexões sobre artistas (Ovídio, Silvia Plath, Van Gogh, Gertrude Stein, Hölderlin, Brigite Bardot), artefatos (habitação, trens, aviões) e a natureza (chuva, pedras do sono, orquídeas, trutas, vicunhas). Carson foi a primeira mulher a ganhar o prêmio literário TS Eliot, em 2001, com A beleza do marido.
 
Trecho do livro:
“A beleza me deixa sem esperança. Nem pergunto mais por quê, só quero ir embora. Quando olho para a cidade de Paris me dá vontade de enlaçá-la com as pernas. Quando vejo você dançar sinto uma imensidão impiedosa, como um marujo no meio de uma calmaria. Desejos redondos feito pêssegos brotam em mim a noite inteira, já não colho mais o que cai”. 

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Cocarzinho amarelo. Yaguarê Yamã.
Ils. Uziel Guaynê • Globinho • 48 pp • R$ 64

Nessa releitura indígena de Chapeuzinho vermelho, uma menina de dez anos precisa enfrentar os perigos da floresta para levar uma cesta de beiju para sua avó doente. Em edição bilíngue (em português e nheengatu, língua originada do antigo tupi e que é falada pelas populações indígenas e ribeirinhas na região do rio Negro, no Baixo Tapajós e no Baixo Amazonas), o livro do escritor Yaguarê Yamã e do ilustrador Uziel Guaynê mostra as belezas da mata e a importância dos afetos.

Leia também: Conheça as artes de Zahy Guajajara, índigena do povo Tenetehara-Guajajara que é atriz, modelo, videoartista, fotógrafa, ativista e poeta.

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Vapt-vupt
+ novidades quentinhas
 

A palavra ausente. Marcelo Moutinho.
Ils. Raul Leal • Malê • 112 pp • R$ 48

Reedição da coletânea de contos do jornalista carioca.

Ao paraíso. Hanya Yanagihara.
Trad. Ana Guadalupe • Companhia das Letras • 720 pp • R$ 129,90

Novo romance da autora de Uma vida pequena.

Como as guerras civis começam — e como impedi-las. Barbara F. Walter.
Trad. Berilo Vargas • Zahar • 320 pp • R$ 79,90

Ensaio sobre o aumento do extremismo global.

Sede de me beber inteira. Liana Ferraz.
Planeta • 256 pp • R$ 47,90

Livro de poemas da atriz, escritora e professora.

Objeto não identificado: Caetano Veloso 80 anos. Pedro Duarte (org.)
Bazar do Tempo • 256 pp • R$ 64

Reúne textos sobre o compositor assinado por nomes como Paulo Henriques Britto, José Miguel Wisnik e Maria Rita Kehl.

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