Listão da Semana,

Maria Esther Maciel, Graciliano Ramos, Van Gogh e mais 9 lançamentos

O romance sobre o lado escuro da maternidade de Maria Esther Maciel, um infantojuvenil inédito de Graciliano Ramos e cartas de Vicent van Gogh ao seu irmão chegam às livrarias

12jan2024 | Edição #77

A ideia de uma mãe perfeita tem sido muito questionada, mas a violência de mãe contra filha ainda é um tema tabu. É nesse terreno nebuloso, descrito por uma narradora ambígua, que Maria Esther Maciel entra em seu novo romance, Essa coisa viva, lançado nesta semana.

O ano também começa com Graciliano Ramos: o inédito infantojuvenil Os filhos da coruja e edições especiais de Angústia e Vidas secas; uma coletânea das cartas escritas por Van Gogh a seu irmão Theo; o drama de uma mulher negra em Memphis, da escritora norte-americana Tara M. Stringfellow; poemas de Sofia Mariutti; um ensaio sobre as plantas do colombiano Efrén Giraldo; ensaios sobre a importância da comida no cinema contemporâneo; a história do africano traficado que se tornou traficante de africanos; e mais novidades quentinhas. 

Viva o livro brasileiro!

Essa coisa viva. Maria Esther Maciel. 
Todavia • 128 pp • R$ 59,90/R$ 39,90

O novo romance da escritora e ensaísta mineira dá sequência a um projeto literário iniciado com O livro de Zenóbia (Lamparina, 2004) e que prosseguiu com O livro dos nomes (Companhia das Letras, 2008), mas que ficou suspenso por muitos anos devido aos problemas de saúde da autora e de sua família, e só foi retomado durante a pandemia. O livro versa sobre os traumas de uma botânica de renome internacional em relação a uma figura materna infeliz e cheia de obsessões. Apesar do rancor pelo comportamento destrutivo da mãe, a narradora carrega também um grande sentimento de culpa após a morte de sua algoz.

"Cheguei a me achar ousada demais por escrever sobre isso [desconstrução da maternidade idealizada] num momento em que as fronteiras entre ficção e realidade andam tão tênues. Existe um conceito de mãe muito idealizado e qualquer coisa que desestabilize essa figura é quase uma profanação. Algumas escritoras contemporâneas têm discutido a maternidade sob diversas perspectivas. Talvez meu livro acabe entrando nesse registro, mas com outro viés. A violência doméstica é geralmente atribuída ao pai: é ele que abusa da filha, bate na mulher. Em Essa coisa viva não é assim, há uma inversão. Por outro lado, há figuras na história que têm uma função materna positiva, duas tias. A narradora tem apoio de mães postiças, mas o central é sua relação com a mãe, essa coisa viva que fica latejando o tempo todo", disse a autora em entrevista à Quatro Cinco Um. Leia na íntegra.

Leia mais: Carregada nas tintas, polêmica e cheia de humor, autora faz crítica pertinente ao modelo contemporâneo de maternidade e educação

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Os filhos da coruja. Graciliano Ramos.
Org. Thiago Mio Salla • Ils. Gustavo Magalhães • Baião • 36 pp • R$ 66,90

Poema escrito à mão por Graciliano em 1923, e assinado com o pseudônimo de J. Calisto. Inspirado na fábula “A águia e o mocho”, de La Fontaine (que Monteiro Lobato incluiu na sua coletânea de Fábulas, em 1922, com a moral “Quem ama o feio, bonito lhe parece”), o escritor alagoano usa a história de um gavião, uma coruja e seus filhotes para retratar a sociedade brasileira na época da República Velha.

Leia também: A hora e a vez de Graciliano — Duas novas publicações jogam luz em aspectos menos conhecidos do autor de Vidas secas

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Cartas a Theo. Vincent van Gogh.
Org. Jorge Coli e Felipe Martinez • Trad. Felipe Martinez • Editora 34 • 512 pp • R$ 119

Uma seleção das centenas de cartas escritas por Van Gogh ao irmão, que permitem mapear seu processo de criação artística: ele comenta extensamente as obras dos pintores que admira (como Millet, Rembrandt, Corot, Courbet, Frans Hals), explica as dificuldades para expressar a alma humana, discute a relação entre arte e religião, pede tubos de tinta e reclama de sua penúria.

Leia também: Médico-legista especializado em ferimentos por balas derruba mitos criados por Hollywood e sustenta que Vincent van Gogh não se suicidou

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Memphis. Tara M. Stringfellow.
Trad. Carolina Candido • Tordesilhas • 320 pp • R$ 69,90

Publicado em 2022, o primeiro romance da escritora norte-americana foi indicado para o Women’s Prize in Fiction nos Estados Unidos e narra o drama de uma mulher negra que, acompanhada por suas duas filhas, abandona o marido violento e se refugia na casa da mãe, em Memphis. A menina mais velha começa a pintar retratos da vizinhança e aos poucos começa a entender as razões que levaram sua mãe, sua avó e suas antepassadas a deixar seus sonhos de lado para poder seguir em frente.

Leia Também: Toda mulher negra é um quilombo

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Abrir a boca da cobra. Sofia Mariutti.
Círculo de Poemas • 72 pp • R$ 59,90

Autora de A orca no avião (Patuá, 2017), a poeta paulistana descreve as feras que povoam a casa e os pesadelos que assombram seus moradores: “Você tem medo à noite/ e não quer ficar sozinha./ É difícil dormir à noite/ sozinha e com medo./ O que devo te dizer/ se também eu tenho medo/ à noite sozinha e não durmo/ ou quando tudo parece muito claro/ na companhia dos outros?”.

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Sumário de plantas oficiosas: um ensaio sobre a memória da flora. Efrén Giraldo.
Trad. Silvia Massimini Felix • Fósforo • 208 pp • R$ 89,90

Um ensaio erudito do curador e crítico colombiano sobre o papel das plantas (reais e imaginárias) na existência humana, destacando a natureza cooperativa da vegetação, o modo como as plantas conseguem habitar o mundo sem deteriorá-lo e a importância da vegetação na literatura universal.

Leia também: Em livro de botânica, Goethe descreve os movimentos incessantes do mundo vegetal

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Comer com os olhos: comida, cultura e cinema. Sabrina Sedlmayer, Rafael Climent-Espino, Luiz Eduardo Andrade (orgs.).
Autêntica • 200 pp • R$ 39,80

Coletânea de onze ensaios sobre a comida nos filmes que discutem a força do cinema gastronômico das últimas décadas, com destaque para a grande fome em A hora da estrela, as indigestões em Xica da Silva, a cozinha na obra de Pedro Almodóvar, o cinema e os pratos em Viajo porque preciso, volto porque te amo, as comidas do sem fim em A história da eternidade, a sedução e o poder em Estômago.

Ouça também: Com um livro de poemas inspirado nos filmes de Pedro Almodóvar, o poeta Fabrício Corsaletti conversa com a psicanalista Vera Iaconelli sobre a obra do cineasta espanhol

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Angústia. Graciliano Ramos.
Org. Thiago Mio Salla • Todavia • 320 pp • R$ 64,90

Publicado em agosto de 1936, num período em que o autor era um preso político do governo Vargas (só foi solto em janeiro de 1937, após apelos de muitos intelectuais), este romance sobre um intelectual fracassado – que se apaixona por uma moça volúvel seduzida por comerciante balofo – consolidou a posição de Graciliano como um dos maiores escritores brasileiros. A presente edição estabelece um texto inédito, restituindo a última vontade do autor, uma introdução de Thiago Mio Salla e uma crítica de Antonio Candido de 1945 que ainda não tinha sido publicada em livro.

Leia também: Reler Memórias do cárcere, de Graciliano Ramos é uma experiência perturbadora pela acuidade com que flagra o que persiste sob tantas mudanças: patrimonialismo, desigualdade, violência

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Joaquim de Almeida: a história do africano traficado que se tornou traficante de africanos. Luis Nicolau Parés.
Companhia das Letras • 432 pp • R$ 119,90

Narra a trajetória do africano que enriqueceu com o tráfico de escravizados no Brasil, mas deixou a colônia após a Revolta dos Malês, em 1835. Temerosa de uma insurgência negra, a elite branca promoveu uma campanha de deportação dos libertos africanos. Almeida preferiu não esperar, e emigrou para o Benin com suas mulheres, crianças, parentes e agregados, levando seu modo de vida para a África.

Leia também: Historiador fala sobre ‘Rebelião escrava no Brasil’, que levou à redescoberta da Revolta dos Malês depois de ser reeditado há 20 anos

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Vapt-vupt
+ novidades quentinhas

Os farsantes. Sergio Raposo.
Ex Machina • 90 pp • R$ 40

Romance distópico ambientado no Brasil de 2027, após o golpe que levou a extrema direita ao poder. Um influencer conservador cai em desgraça após ser acusado de tramar contra o presidente, e busca ajuda da Resistência Armada Revolucionária.

Literaturas hispânicas: Idade Média, Século de Ouro e a Hispanidade. Karla Fernandes Cipreste.
InterSaberes • 370 pp • R$ 152

Uma análise dos textos fundadores da literatura hispânica no período que vai da Baixa Idade Média até o século 18, passando pelo Renascimento e pelo Barroco, época do “Século de Ouro” espanhol, que teve como seu mais famoso representante Miguel de Cervantes.

Vidas secas – edição especial. Graciliano Ramos.
Via Leitura • 112 pp • R$ 29,90

Edição especial do romance de 1938, com um postal do artista plástico Andrés Sandoval e uma apresentação da escritora Micheliny Verunschk.

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Quem escreveu esse texto

Iara Biderman

Jornalista, , editora da Quatro Cinco Um, está lançando Tantra e a arte de cortar cebolas (34)

Mauricio Puls

É autor de Arquitetura e filosofia (Annablume) e O significado da pintura abstrata (Perspectiva), e editor-assistente da Quatro Cinco Um.

Matéria publicada na edição impressa #77 em novembro de 2023.