Listão da Semana,

Eliane Marques e a dívida impagável dos brancos e mais 11 lançamentos

Romance de estreia da escritora gaúcha — livro do Clube do livro 451 de abril — chega nesta semana às livrarias

12abr2023 | Edição #68

Louças de família, romance de estreia da gaúcha Eliane Marques e livro do Clube do livro 451 de abril, chega nesta semana às livrarias. Ao abordar as nuances da subalternidade e do cansaço da servidão, o romance analisa, com enfoque no corpo negro feminino, os efeitos psíquicos do sistema colonial escravista que perduram até hoje. Completam a seleção da semana as memórias do russo Viktor Eroféiev, filho de um intérprete de Stálin; a correspondência entre Mário de Andrade e Rodrigo M. F. de Andrade; um romance da escritora japonesa Mieko Kawakami sobre questões femininas contemporâneas; uma antologia de poemas da alemã Hannah Arendt e o novo romance do mexicano Juan Pablo Villalobos, além de outras novidades quentinhas. 

Viva o livro brasileiro! 

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Louças de família. Eliane Marques. 
Autêntica • 280 pp • R$ 64,90

O primeiro romance da poeta gaúcha, que é também psicanalista, editora e tradutora, começa com a morte da empregada doméstica tia Eluma. A narradora puxa o fio de sua própria história, buscando entender histórias de ancestrais para investigar feridas coloniais que não se fecham.

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O bom Stálin. Víktor Eroféiev. 
Trad. Moissei Mountian • Kalinka • 384 pp • R$ 93

O escritor russo narra, em forma de romance, suas memórias como filho de um diplomata do alto escalão, que chegou a ser intérprete de Stálin, em meio à elite da burocracia soviética. Dividido entre Paris e Moscou, ele descreve encontros com Picasso, Simone Signoret e Yves Montand e a dicotomia entre a admiração pelo pai e o asco pelo regime nazista.

Em entrevista à Quatro Cinco Um, o autor diz: “O bom Stálin chama atenção por questões íntimas ligadas à minha família e a conflitos familiares. Minha mãe se sentiu muito ofendida, achou que o livro abria demais as 'janelas e as portas da nossa casa', meu pai também se ofendeu. Por outro lado, quando começou a ser publicado em vários países, eles perceberam que se tratava de um romance que ajudava a compreender o que estava acontecendo na Rússia. E ainda ajuda. Para entender o país é bom começar com O bom Stálin. Então, pode-se dizer que é um livro sem data de validade, talvez seja lido nos próximos trinta anos”. Leia na íntegra.

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Correspondência anotada. Rodrigo M. F. de Andrade e Mário de Andrade.
Todavia  • 528 pp • R$ 104,90/69,90

Passado o prazo de sigilo de cinquenta anos com que Mário de Andrade havia preservado parte de seu arquivo, cerca de trezentas cartas trocadas entre dois luminares do modernismo são reunidas pela primeira vez neste volume. Mário foi o autor do anteprojeto e o mais ilustre funcionário do Instituto do Património Histórico e Artístico Nacional (Iphan), onde colaborou com Rodrigo M. F. de Andrade, o primeiro e mais longevo presidente da instituição. A correspondência revela o papel de editor, escritor e articulador de Rodrigo em parceria com Mário ao longo de quase duas décadas. A edição conta com notas de Clara de Andrade Alvim, filha de Rodrigo, além de  ensaios fotográficos feitos porErich Hess, Herman Graeser, Marcel Gautherot e Pierre Verger e imagens de arquivo inéditas.

Leia também: Mario de Andrade se transformou definitivamente em performer em seus deslocamentos por Minas Gerais e Rio de Janeiro

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Peitos e ovos. Mieko Kawakami. 
Trad. Eunice Suenaga • Intrínseca • 712 pp • R$ 79,90/54,90

Eleito um dos dez melhores livros de 2020 pela revista Time, o romance acompanha três mulheres de um bairro pobre de Tóquio, de diferentes idades, e narra diferentes questões — como as as opressões sociais, as pressões da puberdade e a ansiedade gerada pelo envelhecimento — sob o ponto de vista feminino. Kawakami é vencedora dos prêmios Akutagawa, Tanizaki e Murasaki Shikibu.

Leia também: Autoras japonesas contemporâneas abordam a estranheza de viver em um mundo moderno que ainda é ditado pela tradição

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Também eu danço. Hannah Arendt. 
Trad. e pref. Daniel Arelli • Relicário • 228 pp  • R$ 59,40

Uma das mais celebradas filósofas políticas do século 20 era também poeta. Esta antologia reúne 71 poemas de Hannah Arendt escritos entre 1924 e 1961 (com uma longa interrupção entre 1933 e 1942). Entre os temas abordados estão a paixão da juventude que viveu com Martin Heidegger, homenagens a amigos como Walter Benjamin e Hermann Broch e releituras de Goethe e Platão.

Leia também: Hannah Arendt usa a literatura em busca de um pensamento alargado para tentar entender o incompreensível

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A invasão do povo do espírito. Juan Pablo Villalobos.
Trad. Sérgio Molina • Companhia das Letras • 224 pp • R$74,90/39,90

Em seu novo romance, o escritor mexicano conhecido pelo humor cáustico narra a história de dois imigrantes em crise existencial que precisam lidar com burocracias, corrupção, xenofobia e uma doença terminal. Villalobos venceu o prêmio Herralde de novela de 2016 com Ninguém precisa acreditar em mim.

Leia também: Juan Pablo Villalobos estreiou na literatura infantil com livro que trata da fome e do abandono familiar em meio a elementos fantásticos

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+ novidades quentinhas

A nova era do império: como o racismo e o colonialismo ainda dominam o mundo. Kehinde Andrews.
Trad. Cecília Rosas • Companhia das Letras • 358 pp • R$ 89,90

O sociólogo britânico reconstrói a história do Ocidente para demonstrar que racismo, xenofobia e afetos correlatos seguem presentes como base de nossa estrutura social.

Ao amigo que não me salvou a vida. Hervé Guibert.
Trad. Julia de Rosa Simões • Todavia • 224 pp • R$ 74,90

Colega de Fouacult e Barthes, o jornalista e fotógrafo faz uma autoficção sobre a experiência de ser diagnosticado com aids.

Como ser um educador antirracista: para famílias e professores. Bárbara Carine Soares Pinheiro.
Planeta • 160 pp • R$ 49,90

A educadora reflete sobre como a educação e a escola podem ser pensadas a partir de perspectivas não ocidentalizadas e, sobretudo, racializadas.

Homens ao sol. Ghassan Kanafani.
Trad. Safa Jubran • Tabla • 104 pp • R$ 59,90

A primeira novela do autor, publicada originalmente em árabe em 1963, conta a história de três palestinos afetados pela Nakba de 1948.

Imperialismo e questão europeia. Domenico Losurdo.
Trad. Sandor José Ney Rezende • Boitempo • 370 pp • R$ 64

O legado da tradição colonial e do nazifascismo, a democracia moderna e a identidade política da União Europeia são abordados pelo filósofo marxista.

Morte em suas mãos. Otessa Moshfegh.
Trad.  Bruno Cobalchini Mattos • Todavia • 215 pp • R$ 74,90/49,90

Em seu novo romance, a autora de Meu ano de descanso e relaxamento (2019) desafia os clichês do romance policial.

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Quem escreveu esse texto

Marília Kodic

Jornalista e tradutora, é co-autora de Moda ilustrada (Luste).

Matéria publicada na edição impressa #68 em março de 2023.