Listão da Semana,

A escalada de Putin e mais 7 lançamentos

‘O homem sem rosto: a improvável ascensão de Vladimir Putin’, de Masha Gessen, narra a história do agente da KGB que ascendeu à presidência da Rússia

31ago2022 | Edição #61

A história de como um agente do baixo escalão da KGB ascendeu à presidência da Rússia tão rapidamente e destruiu anos de progresso é contada em O homem sem rosto: a improvável ascensão de Vladimir Putin, de Masha Gessen, que chega nesta semana às livrarias brasileiras em versão reeditada, com prefácio inédito e situando o atual momento da Rússia. Uma década após a versão original do livro-reportagem, que estava esgotado no Brasil, seguem urgentes o debate sobre democracia e a tentativa de compreender as forças que levam figuras autoritárias ao poder, o que Gessen faz com sucesso.

Completam a seleção da semana uma análise da função e da relevância dos museus no mundo atual, os textos jornalísticos do cineasta Billy Wilder, o novo romance da gaúcha Carol Bensimon, uma experiência radical de tradução por Guilherme Gontijo Flores e André Capilé, contos inspirados nas canções de Caetano Veloso, a história da Independência brasileira na chave da crise do absolutismo e uma sátira polêmica de Moacyr Piza.

Viva o livro brasileiro!

 

O homem sem rosto: a improvável ascensão de Vladimir Putin. Masha Gessen. 
Trad. Maria Helena Rouanet • Intrínseca • 368 pp • R$ 79,90

Ganhadore do National Book Award de Não Ficção em 2017, Masha Gessen, jornalista russo-americane não binárie, traça um perfil crítico do líder russo Vladimir Putin. Agente do segundo escalão da KGB que ascendeu politicamente durante o conturbado governo de Boris Ieltsin (1991-99), Putin assumiu de fato o poder político no país, seja como primeiro-ministro (1999-2000 e 2008-2012), seja como presidente (2000-2008, 2012-presente). Visto inicialmente pelo Ocidente como um líder progressista, Putin passou a controlar o Poder Legislativo e os meios de comunicação de seu país, eliminando seus rivais e críticos por meio de assassinatos.

Leia também: A editora ucraniana Anetta Antonenko conta como resiste à guerra com seus livros, seus gatos, sua língua — e sua arma.

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O futuro do museu. András Szántó.
Trad. Julia de Souza • Cobogó • 400 pp • R$ 76

O sociólogo húngaro András Szántó entrevista 28 curadores e diretores de grandes museus — como Hans Ulrich Obrist, Max Hollein, Thomas P. Campbell e Adriano Pedrosa — que revelam as transformações da paisagem museológica no mundo atual. Os entrevistados explicam que os museus não são apenas espaços de guarda e preservação do patrimônio cultural, mas também lugares de experimentação na arte e na sociedade que propiciam o diálogo entre perspectivas distintas.
 
Trecho do livro:
“Essa reação do público dos últimos dois ou três anos aos monumentos de exaltação a figuras históricas é um movimento substancial e importante para a sociedade estadunidense. Muitas dessas obras são estátuas urbanas, não pertencem a museus. Elas destacam as ideias acríticas da supremacia branca que as pessoas em posição de poder naturalizavam. Muitas das estátuas de líderes confederados foram erguidas durante a era Jim Crow por pessoas que pretendiam continuar subjugando os afro-americanos. As décadas se passaram e essas esculturas se tornaram invisíveis para muitos — mas não, é claro, para aqueles para quem elas eram um contínuo lembrete da indiferença dos brancos. O novo ativismo que levou à derrubada desses monumentos é um sinal da frustração das comunidades afro-americanas e nativo-americanas. Embora eu não tolere a destruição de monumentos, apoio totalmente o que esse movimento representa”.

Leia também: Em seu último livro, o crítico norte-americano Arthur Danto retraça os contornos de uma definição precisa para a arte.

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Billy Wilder: um repórter em tempos loucos. Billy Wilder. 
Org. e Intr. Noah Isenberg • Trad. Tanize Mocellin Ferreira • DBA • 236 pp • R$ 64,90/34,90

Os textos jornalísticos que Billy Wilder escreveu nos anos 20, quando trabalhou como repórter em Viena e Berlim, são reunidos nesse livro. As matérias abordam perfis de pessoas ordinárias e extraordinárias, críticas de teatro e cinema e temas diversos como a rotina de um dançarino de aluguel e uma ode às cafeterias. Nascido na Polônia, de família judaica (sua mãe e seus avós morreram em Auschwitz), ele começou a escrever roteiros de cinema na Alemanha em 1929 e em 1933 emigrou para a França e depois para os Estados Unidos, onde dirigiu filmes como O pecado mora ao lado (1955), Se meu apartamento falasse (1960) e Quanto mais quente melhor (1959).

Leia também: Livro de Jean-Luc Godard inclui pensatas, poemas-aforismos e ironia autobiográfica.

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Diorama. Carol Bensimon.
Companhia das Letras • 288 pp • R$ 69,90  

Ganhadora do prêmio Jabuti de 2018 com o romance O clube de jardineiros de fumaça, a escritora gaúcha Carol Bensimon narra as memórias de uma mulher que refez sua vida nos Estados Unidos como taxidermista de um museu de história natural, mas segue traumatizada pelo assassinato de um deputado estadual ocorrido durante sua infância no Rio Grande do Sul, pouco depois da redemocratização do Brasil.

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Tradução-Exu: ensaio de tempestades a caminho e Uma A outra tempestade. Guilherme Gontijo Flores e André Capilé.
Relicário • 492 pp • R$ 122,80

Nessa dobradinha, os poetas, tradutores e críticos literários André Capilé e Guilherme Gontijo Flores fazem um ensaio sobre o conceito de tradução-exu e também um experimento dessa tradução, que funde os livros The Tempest (c.1610), de William Shakespeare, e Une tempête (1969), de Aimé Césaire, recriando-os em uma aventura poética e política que mergulha nas contradições do mundo colonial.

Trecho do prefácio, por Eduardo Jorge de Oliveira:
Tradução-Exu é um ensaio que expõe a arte das encruzilhadas das línguas, das  culturas, dos corpos, dos gestos transportados do alto para o baixo, da direita para a esquerda, com a força do vice-versa para, assim, manter presente não apenas as mais variadas direções como também o valor do próprio trânsito. Alguém já viu Exu parado? Não é necessário se enganar, pois mesmo parado ele está em movimento. Exu pode ser entendido como o mestre da encruzilhada, ou ainda o X que separa o “eu”, sendo um gesto que ultrapassa qualquer realização puramente formal, porque Exu é forma-conteúdo indistinta. Exu não é o sentido que falta, mas o que salta, que brinca de uma palavra a outra, que trapaceia, que prega peças, além de animar o espírito do texto”.

Leia também: Romance da escritora japonesa Minae Mizumura impôe desafios atípicos de tradução literária.

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Vivo muito vivo: 15 contos inspirados nas canções de Caetano Veloso. Jeferson Tenório, Nara Vidal, Cidinha da Silva e outros.
Org. Mateus Baldi • José Olympio/ Grupo Record • 160 pp • R$ 54,90

Nesse tributo ao grande compositor Caetano Veloso, cada autor escolheu uma música como tema e, a partir dela, elaborou uma narrativa sobre o personagem da canção. Vencedor dos prêmios Oceanos e São Paulo de Literatura, Edimilson de Almeida Pereira reconta a fuga de um refugiado tendo como inspiração “Trem das cores”, por exemplo, e Giovana Madalosso (finalista dos prêmios Jabuti e São Paulo de Literatura) reimagina a história da “Tigresa”. Participam da coletânea também Arthur Dapieve, Carlos Eduardo Pereira, Cida Pedrosa, Juliana Leite, Marcelo Moutinho, Mateus Baldi, Micheliny Verunschk, Paula Gicovate, Renata Belmonte, Socorro Acioli e Mateus Baldi, que também assina a organização.

Leia também: Caetano Veloso escreve sobre como o mito messiânico do rei d. Sebastião, relido por Glauber Rocha, Fernando Pessoa e Agostinho da Silva, o influenciou.

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Adeus, senhor Portugal: crise do absolutismo e a Independência do Brasil. Rafael Cariello e Thales Zamberlan Pereira.
Companhia das Letras • 416 pp • R$ 99,90

O estudo sobre o processo de Independência do Brasil aponta as conexões entre a profunda crise fiscal do Império português no final do século 18 e início do século 19 com as tensões políticas e sociais no Brasil. O aumento das despesas estatais (sobretudo dos gastos militares) levou a Coroa portuguesa a aumentar impostos e a emitir papel-moeda de forma desenfreada, provocando fortes pressões inflacionárias e uma insatisfação contra o governo que impulsionou a Revolução de 1817, em Pernambuco, e a Revolução Liberal de 1820, no Porto.


Engenho de carne seca, Debret [Museu Castro Maya/Divulgação]

Ouça também: Em episódio do podcast 451 MHz, Lilia Schwarcz e Isabel Lucas conversam sobre o bicentenário da Independência do Brasil.

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Quem escreveu esse texto

Marília Kodic

Jornalista e tradutora, é co-autora de Moda ilustrada (Luste).

Mauricio Puls

É autor de Arquitetura e filosofia (Annablume) e O significado da pintura abstrata (Perspectiva), e editor-assistente da Quatro Cinco Um.

Matéria publicada na edição impressa #61 em setembro de 2022.