Flip,

A terra, a mulher e a luta

Marcela Cananéa debate a importância dos povos tradicionais e traça paralelos com Canudos

12jul2019

Dar visibilidade a histórias que são pouco contadas em livros, principalmente as relacionadas às lutas dos povos tradicionais de Paraty e arredores. É esse o objetivo da paratiense Marcela Cananéa, militante do Fórum de Comunidades Tradicionais, ao aceitar o convite da Flip. Ao lado do quadrinista paulistano Marcelo D’Salete, ela participa da mesa Zé Kleber/Cumbe nesta sexta-feira.

“A história das comunidades tradicionais deve ser levada para conhecimento de todos, pois esses povos têm um papel importantíssimo no equilíbrio da relação entre o homem e a natureza. Eles trazem na raiz uma cultura hereditária, que é passada por gerações. É um conhecimento empírico que não se ouve em todo lugar e não é tão divulgado”, explica.

Na sua visão, os principais problemas enfrentados pelas comunidades tradicionais estão ligados ao acesso a direitos básicos, à permanência dessas populações em seus territórios e à ameaça constante de expulsão de suas terras por grileiros e pela especulação imobiliária. “A educação é um fato que atinge diretamente todas as comunidades tradicionais, pois nem todas têm escola, e as que têm não oferecem o ensino completo”, avalia, destacando que essa situação acaba gerando uma migração de jovens para a cidade, onde muitas vezes não conseguem se sustentar sozinhos, ao mesmo tempo que não veem perspectiva de futuro nas comunidades.

Cananéa ainda ressalta a similaridade das lutas desses povos com o de Canudos no que tange à questão envolvendo a defesa da terra, que não é distribuída de modo equânime. “A Guerra de Canudos foi uma luta e resistência por terra, para manter e construir uma qualidade de vida diferente da que era colocada naquela época. Era um povo abandonado que vivia na extrema miséria. Para a República, esse povo servia apenas de mão de obra para enriquecer as camadas mais altas da sociedade, não para ser o povo com direito à riqueza”, reflete a líder comunitária de Paraty. “Muda o cenário mas a história só se repete.”