Festival literário, Flip,
Paulo Leminski é o homenageado da Flip 2025
Poeta curitibano, pop entre novas gerações, será debatido durante festa literária, que acontece de 30 de julho a 3 de agosto em Paraty
27mar2025Paulo Leminski (1944-1989) é o autor homenageado da 23ª edição da Flip, a Festa Literária Internacional de Paraty, que acontece de 30 de julho a 3 de agosto, na cidade histórica do litoral fluminense. Artista múltiplo, o autor curitibano foi prosador, biógrafo, tradutor, judoca, publicitário, músico, mas sobretudo poeta.
Segundo a organização da Flip, a escolha do homenageado é um convite a novas leituras de sua obra, numa tradição que já celebrou poetas como Vinicius de Moraes, Manuel Bandeira, Ana Cristina Cesar, Hilda Hilst, Carlos Drummond de Andrade, e Maria Firmina dos Reis.
Nascido em Curitiba em 1944, Leminski é autor de Catatau (Edições do Autor, 1975), uma prosa experimental, e da coletânea de poemas Distraídos venceremos (Brasiliense, 1987). Ele é também conhecido por misturar elementos do haicai japonês — a concisão, a reflexão sobre o tempo e a relação com a natureza —, referências eruditas, MPB e até jargão publicitário, o que mantém sua poesia popular até hoje.
O poeta morreu em 1989, em decorrência de uma cirrose hepática. Em 2024, quando completaria oitenta anos, o Festival Paulo Leminski 80 Anos promoveu apresentações musicais e conversas literárias no dia de seu aniversário, 24 de agosto, na pedreira que leva seu nome em Curitiba — a cidade foi centro de sua produção literária e cultural.
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“A poesia é uma expressão muito cara ao Brasil, país que tem uma relação tão íntima com a música, e o Leminski é uma espécie de embaixador dessa relação, por sua compreensão profunda de que a poesia e a música se misturam para comunicar melhor”, afirma a curadora da Flip, Ana Lima Cecilio, na divulgação do festival literário.
O autor fez parcerias com alguns dos músicos mais populares do país, como Caetano Veloso, Moraes Moreira, Jorge Mautner, Guilherme Arantes e Itamar Assumpção.
“Além disso, sua produção em prosa e em textos críticos é fundamental para entender um contexto da produção literária brasileira, que passa pelo concretismo, tão importante na poesia brasileira, mas também por um processo de multiplicação, com a poesia marginal, a autopublicação e a democratização literária como um todo”, completa Cecilio.
Poeta pop
Seja pelo farto bigode, a escrita sem letras maiúsculas, sem pontuação ou palavras que precisam de um dicionário para entender, Leminski se tornou uma espécie de poeta pop entre as gerações mais jovens de leitores e escritores. Mesmo quem não gosta de poesia já deve ter se deparado com algum de seus textos.
Assim como na arte marcial, o curitibano encontrou o equilíbrio entre corpo e mente para compor sua obra poética. A relação do artista com o judô começou na adolescência, quando ainda morava na capital paranaense (morou depois em São Paulo e no Rio de Janeiro). Em diversas entrevistas, ele, que foi faixa-preta no esporte, mencionava o impacto da arte marcial em sua vida, comparando a leveza dos movimentos com a busca pela simplicidade e precisão na poesia.
‘A poesia é uma expressão muito cara ao Brasil, país que tem uma relação tão íntima com a música, e o Leminski é uma espécie de embaixador dessa relação’
Diretor artístico da Flip, Mauro Munhoz destaca como, a partir da escrita, o artista pensava a linguagem para que seus textos chegassem às pessoas sem intimidade com a poesia.
“A partir do gesto de tirar as coisas de lugar, é como se ele nos fizesse a pergunta: por que a literatura e as artes não estão mais presentes na vida das pessoas? A partir desse mesmo gesto, Leminski nos ensinou tantas vezes, em haicais e em refrãos, que a utilidade da arte é ser arte em primeiro lugar, que a poesia, enquanto linguagem, é infalível em ampliar as fronteiras da nossa imaginação.”
A vida e a obra do autor norteará a programação da festa literária e serão tratadas com maior profundidade durante o Ciclo do Autor Homenageado, que antecede a Flip. Este ano, após cinco edições, o festival volta a ocupar as ruas de Paraty em seu período habitual, de 30 de julho a 3 de agosto, uma tradição que havia sido interrompida pela pandemia de Covid-19.
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