Divulgação Científica,

A biblioteca do neurocientista

Fundador do Instituto do Cérebro da UFRN conta à revista o que lê

01ago2019 | Edição #25 ago.2019

Há muitos livros sobre sonhos. Mas o recém-lançado O oráculo da noite (Companhia das Letras) é um tipo raro. Não é ficção, não é psicanálise, não é poesia: seu autor, Sidarta Ribeiro (1971), é neurocientista, professor da Universidade Federal do Rio Grande do Norte. Pesquisa, pelas ferramentas da ciência, aquilo que acontece em nossas mentes quando estamos dormindo. E, mais do que isso, recorre a inúmeros documentos históricos e culturais que mostram como os sonhos estiveram no centro de nossas vidas em comunidade. A pedido da Quatro Cinco Um, Ribeiro elegeu seis livros que, por um motivo ou outro, o marcaram.

1. Um livro de ficção que te fez entender algo sobre o cérebro humano: 

O gigante enterrado, Kazuo Ishiguro (2015).

Essa linda e delicada narrativa sobre a necessidade de equilibrar esquecimento e lembrança me fez pensar muito nos processos de consolidação e reconsolidação da memória, mediados pelo hipocampo e pelo córtex cerebral.
 
2. Um livro que te inspira para fazer divulgação científica:

The chimpanzees of Gombe, Jane Goodall (1986).

Magnífico relato de pesquisas de campo, mistura magistral de comportamento animal, política ambiental, bom senso e bom humor. O livro documenta em detalhes o fato de que cada chimpanzé é um indivíduo com personalidade única, e que diferentes grupos de chimpanzés possuem culturas distintas.

3. Um livro que, quando você lê, sente que está vivendo um sonho:

A queda do céu, Davi Kopenawa e Bruce Albert (2015).

Essa narrativa do xamã Yanomami Davi Kopenawa é um marco essencial da literatura ameríndia, cujas populações preservam a centralidade do sonho na vida social. Os pesadelos narrados por Kopenawa ilustram com nitidez os riscos que corremos no capitalismo desenfreado, que, em nome do lucro, destrói o planeta e seus habitantes.
 
4. Um livro que te tira o sono:

Memórias de uma guerra suja, Rogério Medeiros e Marcelo Netto, a partir de depoimentos de Cláudio Guerra (2012).

Neste momento em que o Brasil é governado por forças explicitamente alinhadas à repressão da ditadura militar, é bastante elucidador se inteirar dos crimes confessados pelo ex-delegado do dops Cláudio Guerra. Além de esclarecer episódios tenebrosos, como o atentado do Riocentro e o assassinato de Zuzu Angel, o livro suscita perguntas incômodas sobre o presente: quem matou Marielle?
 
5. Um livro que te acompanha desde sempre:

Sidarta, Herman Hesse (1922).

Esse pequeno livro é muito poderoso e esteve por perto desde que me lembro de existir. Li e reli inúmeras vezes desde o início da adolescência. Mas, depois de ter filhos, minha compreensão da narrativa mudou bastante…

6. Um livro fundamental de divulgação científica escrito por um brasileiro:

A espiral da morte: como a humanidade alterou a máquina do clima, Claudio Angelo (2016).

Trata-se de um livro essencial para compreender as mudanças climáticas causadas por atividades humanas, escrito com muito rigor científico sem abrir mão da fluidez. Claudio Angelo, jornalista e viajante tarimbado, não larga a mão do leitor em nenhum momento.

Este texto foi realizado com o apoio do Instituto Serrapilheira

Quem escreveu esse texto

Sidarta Ribeiro

Neurocientista do Instituto do Cérebro da UFRN, escreveu Limiar: uma década entre o cérebro e a mente (Vieira & Lent).

Matéria publicada na edição impressa #25 ago.2019 em julho de 2019.