Xamãs elétricos na festa do sol
Mónica Ojeda
Trad. Sílvia Massimini Felix Editora Autêntica Contemporânea // 296 pp • R$ 79,80
A equatoriana na proa da nova literatura latino-americana se debruça aqui sobre a busca de uma jovem por suas raízes. No romance, Noa convence a melhor amiga, Nicole, a ir a um festival de música aos pés de um vulcão. A atmosfera lisérgica — com acenos ao terror que rendeu à literatura de Ojeda o rótulo de gótico andino — motiva a protagonista a buscar o pai que a abandonou quando menina.
“Na cordilheira, os caçadores de rochas espaciais levavam as
pedras mais valiosas para vender. O restante era recolhido pelosmoradores da região e tratado como pedras divinas. Fragmentos de asteroides e de cometas pendiam do pescoço de xamãs, peças sem nenhum valor para os que comercializam meteoritos de grande porte, mas espirituais para quem celebra a festa do sol. Eram pedras escuras e pequenas, ora porosas, ora compactas, usadas em rituais ou para artesanato. Muitos as compravam como curiosidade, outros porque acreditavam que ter um pouco de céu os tornaria mais andinos, verdadeiros filhos do Inti e da Mama Killa. Havia roqueiros e ruidistas usando-as sobre camisetas do King Crimson ou de Sal y Mileto, gringos com ponchos caros que buscavam a experiência ancestral e que os carregavam sob o sol, colecionadores que regateavam meteoritos que talvez nem fossem meteoritos.”