
A cobertura especial d’A Feira do Livro, que acontece de 14 a 22 de junho, é apresentada pelo Ministério da Cultura e pela Petrobras
MINISTÉRIO DA CULTURA E PETROBRAS APRESENTAM

A FEIRA DO LIVRO 2025, Poesia,
Os mapas do poeta
Territórios, povos tradicionais, fotografia e elementos urbanos e da natureza abrem os caminhos nos versos de Josoaldo Lima Rêgo
03jun2025 • Atualizado em: 04jun2025Poeta e geógrafo, Josoaldo Lima Rêgo, convidado d’A Feira do Livro 2025, cria mapas com palavras e fotografias com substantivos (muitos) e verbos (poucos) em poemas com a força das coisas mínimas — como o bater de asas do beija-flor, imagem-síntese de A menor das tempestades, seu livro mais recente, publicado pela Editora 34.
Nascido em Coelho Neto (MA), Rêgo mora em São Luís e é professor na Universidade Federal do Maranhão. É autor também dos finalistas do prêmio Jabuti Variações do mar (2012) e Carcaça (2016), além de Paisagens possíveis (2010), Máquina de filmar (2014), Motim (2015) e Sapé (2019), todos publicados pela editora 7Letras.

Nesta entrevista para a Quatro Cinco Um, ele fala dos territórios e das influências de sua obra poética: a geografia social, a ecologia, as culturas de povos tradicionais e a fotografia, entre outras.
Como a geografia influencia sua poesia?
Sou formado em geografia, mas comecei a escrever poesia antes dessa formação acadêmica, então não é a minha motivação primeira. Mas meus estudos e minhas pesquisas na área me ajudam a construir poemas.
Qual foi sua primeira motivação para a escrita poética?
Mais Lidas
Fui criado e moro em São Luís [Maranhão], que tem história com a poesia e forte presença de poetas; a cidade conversa muito com o gênero. Comecei participando de festivais na minha cidade, ainda adolescente.
E de onde veio o interesse pela geografia?
Sempre me interessei por ecologia, e a escolha da geografia tem a ver com isso. Trabalho com ecologia política, a pesquisa de povos tradicionais.
‘Um poema curto, um verso, o bater de asas de um beija-flor pode agitar o mundo e as ideias que temos dele’
Como essas pesquisas alimentam sua poesia?
Eu mesmo não costumava fazer essa relação, mas nos meus últimos três livros essa ligação tem aparecido mais para os leitores. A relação entre poesia e geografia é uma leitura possível [dos poemas], acho legal. E curioso também: a geografia deriva muito das expedições naturalistas, das narrativas de viagem, e essa origem nos leva também para a literatura.
É fã de literatura de viagem?
É um tipo de leitura de que gosto. Estranho, tem esse trânsito: geografia e poesia. Não pensava nisso, mas ao ler os poemas depois, isso realmente aparece muito.
A questão ecológica e dos povos originários também está nos poemas. Tem a ver com suas pesquisas?
Sim. Continuo trabalhando como pesquisador na universidade e dou cursos de geografia cultural. Um deles se chama Paisagem e Literatura, é uma tentativa de ler as questões relacionadas ao espaço na literatura. Também faço pesquisas relacionadas a povos e manifestações culturais do Maranhão. Durante as pesquisas, aproveito para fazer minhas anotações para poemas.
No sentido inverso, como a poesia alimenta sua pesquisa?
Tem essa função, digamos assim, de olhar para os espaços de uma forma mais humana e democrática. E mais criativa também. A geografia é, entre outras coisas, uma tentativa de ampliar essa visão do território, e isso pode ser feito no campo da literatura. A poesia pode brincar com diversas formas de linguagem. Gosto de experimentar formas de escrita; alguns poemas, por exemplo, são construídos a partir de palavras e visões de mundo indígenas, camponesas.
Essas visões aparecem muito em seus poemas, mas também há alguns com uma pegada bastante urbana, não?
Gosto de pensar nas cores, nas texturas, nos sons urbanos. Vivo em uma cidade não muito grande, a gente tem contato com a paisagem, o cheiro das coisas, das frutas, do rio, da natureza, e, ao mesmo tempo, em cidades menores os processos urbanos são mais agudos. Mas tento não hierarquizar os espaços, separar o urbano do rural.
E também não separar a natureza da questão histórico-social?
Tem uma linha de interpretação da natureza dentro da teoria social de que essa separação se deu a partir da formação do sistema colonial, decorrente da mesma separação entre selvagem e civilizado. Os chamados povos tradicionais têm uma cultura menos dualista. Acho que isso aparece nos poemas.
Em A menor das tempestades há estes dois poemas: “Uma fotografia de Claudia Andujar” e “Uma fotografia de Pierre Verger”. A fotografia é também uma grande referência?
Eu sou não só um admirador, mas um leitor da fotografia. Essa forma de fragmento que é uma possibilidade de leitura da paisagem. A foto da Andujar é a da capa do livro, uma oca pegando fogo. O poema junta a foto e uma notícia de jornal sobre a invasão de garimpeiros na terra ianomâmi.
A foto do Pierre Verger cruza a temática da viagem com a dos povos tradicionais. Verger esteve no Maranhão na década de 1940, tem fotos sobre o Boi Bumbá, o tambor de crioula, as festas religiosas. Também fotografou São Luís. A foto de um pescador carregando um tubarão no cais (que fica bem no centro da cidade) me chamou atenção. Fiz um poema bem curtinho, quase a descrição da imagem, parece um haikai.
Isso faz pensar no título do livro.
A menor das tempestades não era o título inicial, veio no processo de edição do livro. Indica algo dessa escala do muito pequeno. Um poema curto, um verso, o bater de asas de um beija-flor pode agitar o mundo e as ideias que temos dele. Mesmo com essa forma “pequena”, a força não está no tamanho. Poucas palavras podem mobilizar novos pensamentos.
A Feira do Livro 2025 · 14 — 22 jun. Praça Charles Miller, Pacaembu
A Feira do Livro é uma realização do Ministério da Cultura, por meio da Lei Rouanet – Incentivo a Projetos Culturais, Associação Quatro Cinco Um, organização sem fins lucrativos dedicada à difusão do livro e da leitura no Brasil, Maré Produções, empresa especializada em exposições e feiras culturais, e em parceria com a Prefeitura de São Paulo.
Porque você leu A FEIRA DO LIVRO 2025 | Poesia
Lugares que inventamos
Em coletânea, Paloma Vidal explora questões sobre maternidade e morte enquanto transita entre espaços e idiomas
JUNHO, 2025