
Listão da Semana,
Um manifesto pela preguiça
‘O direito à preguiça’, ensaio publicado há mais de um século, ganha nova edição em português
15fev2022 | Edição #54Reflexão para uma segunda feira: seria a jornada de trabalho de três horas diárias uma utopia? Não segundo o pensador Paul Lafargue em O direito à preguiça, ensaio publicado há mais de um século que ganha nesta semana nova edição em português. Em tempos em que a automação diminui a necessidade de mão de obra humana e o home office deixa nebuloso o limite entre vida pessoal e profissional, a discussão é mais atual do que nunca.
Completam a seleção da semana um livro de sonetos de Fabrício Corsaletti, a estreia de Lisa Taddeo na ficção, um ensaio de Elisabeth Roudinesco, uma história global do feminismo, o clássico de humor de Jerome K. Jerome, uma peça de Pirandello e um livro infantojuvenil sobre a Semana de 22.
Viva o livro brasileiro!
O direito à preguiça. Paul Lafargue.
Trad. Tiago Santos Almeida • Pref. Marilena Chaui • Veneta • 120 pp • R$ 39,90
Inspirado nas concepções do jovem Marx sobre o trabalho alienado, o pensador francês Paul Lafargue observa que a sociedade burguesa condena os trabalhadores à abstinência de todos os bens e prazeres e, ao mesmo tempo, condena a burguesia ao superconsumo do que é produzido em quantidades cada vez maiores, tanto pela introdução das máquinas como pelo aumento da jornada de trabalho. Por isso, defende a redução da jornada de trabalho para três horas diárias: se isso for feito, não só haverá pleno emprego, pois todos terão trabalho, mas ficarão esgotados do corpo e da mente. A preguiça é, portanto, uma condição para que possam usufruir das ciências, das artes e dos prazeres da vida (a boa mesa, a boa casa, as boas roupas, festas, danças, música, sexo, ocupação com as crianças, lazer e descanso).
Assinantes da Quatro Cinco Um têm 20% de desconto no site da editora Veneta. Conheça o nosso clube de benefícios
———
Engenheiro fantasma. Fabrício Corsaletti.
Companhia das Letras • 128 pp • R$ 54,90
Mais Lidas
Em setembro de 2020, Fabrício Corsaletti teve um sonho: estava em um hotel em Buenos Aires com a namorada, a família e um bebê de três olhos quando Bob Dylan passou pela porta — ao longo da viagem onírica, ele encontraria o músico em diversos locais da cidade. O devaneio inspira o novo livro do poeta paulista, uma coleção de 56 sonetos que teriam sido escritos por Dylan caso ele tivesse se autoexilado em Buenos Aires, trinta anos atrás, para levar uma vida pacata ao lado de sua mulher e de seus filhos.
Trecho do livro:
“musa, me deixe ver a minha sina
sob uma pedra em forma de serpente
eu me afastei demais dos meus parentes
odeio e amo o fio de cocaína”.
Assinantes da Quatro Cinco Um têm 25% de desconto no site da editora Companhia das Letras. Conheça o nosso clube de benefícios
———
O eu soberano: ensaio sobre as derivas identitárias. Elisabeth Roudinesco.
Trad. Eliana Aguiar • Zahar/ Companhia das Letras • 304 pp • R$ 89,90
À luz de Freud, Lacan, Sartre, Fanon e Césaire, Elisabeth Roudinesco analisa os debates sobre identidade, gênero, raça, interseccionalidade, pós-colonialismo, nacionalismo, religião e extremismo. A renomada historiadora e psicanalista francesa busca identificar o sentido das mudanças contemporâneas na relação com o outro e assinala que os movimentos de emancipação já não se perguntam como transformar o mundo para que ele seja melhor, mas se dedicam a proteger as pessoas daquilo que as ameaça: desigualdades crescentes, invisibilidade social, miséria moral. Segundo ela, os indivíduos exibem seus sofrimentos e denunciam as ofensas, seja para afirmarem sua indignação, seja para serem reconhecidos. Mas, ao mesmo tempo, se isolam cada vez mais.
Assinantes da Quatro Cinco Um têm 25% de desconto no site da editora Companhia das Letras. Conheça o nosso clube de benefícios
———
Feminismos: uma história global. Lucy Delap.
Trad. Isa Mara Lando e Laura Teixeira Motta • Companhia das Letras • 336 pp • R$ 84,90
Professora da Universidade de Cambridge, a historiadora britânica reconstitui a história do feminismo nos últimos 250 anos e sustenta que o movimento floresceu graças a interações globais, mas que muitas mulheres tiveram suas vozes silenciadas e excluídas por outras feministas. Ela estrutura sua história em oito eixos temáticos — sonhos, ideias, espaços, objetos, visuais, sentimentos, ações e canções — para examinar as diversas formas pelas quais as mulheres se mobilizaram para alcançar a igualdade de gênero no mundo.
Assinantes da Quatro Cinco Um têm 25% de desconto no site da editora Companhia das Letras. Conheça o nosso clube de benefícios
———
Animal. Lisa Taddeo.
Trad. Stephanie Fernandes • HarperCollins • 352 pp • R$ 54,90
A primeira obra de ficção da jornalista norte-americana Lisa Taddeo está centrada na figura da anti-heroína Joan, uma mulher com uma série de traumas familiares. Logo no início do romance ela presencia o suicídio de um de seus amantes em um restaurante, enquanto janta com outro de seus amantes. Decide, então, deixar Nova York e viajar para a Califórnia em busca de sua meia irmã, que não conhecia pessoalmente, para ajudá-la a entender o seu passado e lidar com o luto e a raiva reprimida.
———
Devaneios ociosos de um desocupado. Jerome K. Jerome.
Trad. e Posf. Jayme da Costa Pinto • Carambaia • 160 pp • R$ 69,90
Publicado originalmente em 1886 pelo escritor e ator britânico Jerome K. Jerome, o livro reúne reflexões bem-humoradas sobre temas como a ociosidade (“A característica mais surpreendente do ocioso é estar sempre ocupadíssimo”), o amor (“O amor é como o sarampo, todos sofremos com ele um dia. E assim como o sarampo, só nos derruba uma vez”), o clima (“Para nós, o clima está sempre horroroso — é como o governo: no geral, ruim”), a vaidade, a timidez, os bebês, as privações, a memória e as batalhas cotidianas. A edição tem capa dura e tiragem limitada a mil exemplares, numerados a mão.
Trecho do livro: “Não há quem seja imune à lisonja. O grão-duque, por exemplo — acho que é grão-duque o nome correto. Não sei o que significa, talvez um duque muito alto, ou muito gordo. Seja como for, longilíneo ou obeso, afirmo sem medo de errar que também um grão-duque será sempre presa fácil da lisonja; como qualquer outro ser humano, aliás, da condessa ao vendedor de comida para gatos, passando pelo trabalhador da lavoura e pelo poeta — e o poeta é muito mais fácil de ludibriar do que o homem do campo, pois a manteiga vai melhor no pão macio de trigo do que no bolo massudo de aveia”.
Leia também: Em livro sobre piadas, Freud explica a agressividade latente nas tiradas cômicas.
Assinantes da Quatro Cinco Um têm 20% de desconto no site da editora Carambaia. Conheça o nosso clube de benefícios
———
Assim é (se lhe parece). Luigi Pirandello.
Trad. Sergio N. Mello • Posf. Alcir Pécora • Tordesilhas • 186 pp • R$ 39,90
Na peça que estreou em 1917, em plena Primeira Guerra Mundial, o escritor italiano Luigi Pirandello, explora o conceito de "verdade" por meio de uma trama com diferentes versões contadas por dois personagens. O texto foi encenado em inúmeras montagens mundo afora, incluindo uma no Teatro Brasileiro de Comédia, em 1953, com Cleide Yaconis e Paulo Autran no elenco. O livro conta com bibliografia e cronologia sobre a vida do autor, vencedor do Nobel de Literatura em 1934, e posfácio do crítico literário Alcir Pécora.
———
Ana e a Semana: pequena história do modernismo em 1922. Katia Canton.
Ils. Mariana Zanetti • Editora VR • 40 pp • R$ 59,90
João encontra uma caixa de fotos antigas no escritório de sua mãe e contempla a imagem de uma menina em frente a um grande teatro. Ela se apresenta e convida-o a fazer uma viagem no tempo até fevereiro de 1922, quando se realizou a Semana de Arte Moderna. O livro mostra para os pequenos como era a vida em São Paulo no início do século 20 e traz perfis de Anita Malfatti, Di Cavalcanti, Victor Brecheret, Mário de Andrade, Oswald de Andrade, Tarsila do Amaral, Heitor Villa-Lobos e Zina Aita.
———
Matéria publicada na edição impressa #54 em fevereiro de 2022.
Porque você leu Listão da Semana
Para não esquecer
Sem despedidas, novo romance da Nobel sul-coreana Han Kang que chega esta semana às livrarias, relembra com lirismo e força o massacre da ilha de Jeju, às vésperas da Guerra da Coreia
MAIO, 2025