A Feira do Livro, As Cidades e As Coisas,

O baile da sobrevivência

Preta Ferreira relembra o período em que foi presa e critica a criminalização dos movimentos sociais

11jun2022 | Edição #58

“Mulher encrequeira sou eu mesma!”, disse Preta Ferreira, atriz, cantora, escritora e uma das lideranças do Movimento Sem-Teto do Centro (de São Paulo), liderado por sua mãe, Carmen Silva. Autora de Minha carne: diário de uma prisão (Boitempo), Ferreira foi a convidada da mesa As Cidades e As Coisas, manifestação viva da coluna de Bianca Tavolari na revista Quatro Cinco Um, que abriu a manhã de sábado (11) d’A Feira do Livro.

O livro é o diário dos 108 dias em que Ferreira esteve presa de modo injusto, sob a justificativa de que ela teria participado da ocupação (à qual não estava ligada) do prédio Wilton Paes, um edifício público abandonado da Polícia Federal. Por meio da escrita, ela conta como outras mulheres foram parar na prisão por fraudes cometidas por homens, tanto de policiais quanto de pessoas com quem se relacionavam.

Ferreira destacou a importância dos movimentos sociais na sua formação. “O movimento me formou politicamente. Por meio dele entendi o racismo e a sobrevivência em São Paulo, que é uma cidade bruta”, comentou. “Então, meu baile de quinze anos foi o baile da sobrevivência, de fazer com que o direito constitucional à moradia fosse garantido para mim e para outras pessoas. A moradia é a minha herança. Essa tem que ser a minha garantia, já que os nossos governantes que não garantem os nossos direitos constitucionais.”

Ferreira ainda relembrou seu encontro com Angela Davis, que também foi presa pela polícia nos Estados Unidos, nos anos 60, e contou sobre o reconhecimento mútuo entre as duas mulheres negras perseguidas e presas por autoridades. “A caneta está nas mãos dos homens brancos. Como paramos isso? A gente deve se unir e não se conformar. Foi o que aprendi com Davis.” No final, ela cantou uma música que compôs na prisão, para o deleite do público.

Quem escreveu esse texto

Paula Carvalho

Jornalista e historiadora, é autora e organizadora de Direito à vagabundagem: as viagens de Isabelle Eberhardt (Fósforo).

Matéria publicada na edição impressa #58 em junho de 2022.