Listão da Semana,

A Independência em revisão e mais 5 lançamentos

Com a aproximação do bicentenário da Independência começam a chegar às livrarias bons títulos sobre o tema

11ago2022 | Edição #60

Com a aproximação do bicentenário da Independência começam a chegar às livrarias bons títulos com visões críticas à narrativa centrada na figura heroica de dom Pedro. Em A outra Independência, Evaldo Cabral de Mello revisita o admirável projeto alternativo de Independência dos pernambucanos e, em Ideias em confronto, Cecilia Helena de Salles Oliveira destaca os personagens ofuscados por figuras consagradas pela visão tradicional. São dois dos muitos historiadores que felizmente vêm questionando a perspectiva elitista e colonial pela qual nossa história nos tem sido contada — afinal, a Independência não foi conquistada graças ao grito do Ipiranga.

Completam a seleção da semana uma coletânea de contos do japonês Osamu Dazai, uma análise da herança do golpe de 2016 por Jessé Souza e os novos romances de Ruy Castro, Akwaeke Emezi (da Nigéria) e Angeline Boulley (dos Estados Unidos) — que está sendo adaptado para a televisão pelo casal Obama.

Viva o livro brasileiro!

A outra Independência: Pernambuco, 1817-1824. Evaldo Cabral de Mello. 
Pref. Heloisa Murgel Starling • Todavia • 288 pp • R$ 94,90/54,90 

O historiador pernambucano Evaldo Cabral de Mello reconstitui minuciosamente a trama política que conduziu à Independência do Brasil, mostrando que, ao lado do projeto centralizador da corte fluminense, surgiu em Pernambuco uma alternativa política federalista, liderada por Frei Caneca e Cipriano Barata, que sustentava que, uma vez desfeita a união do Brasil com Portugal, a soberania deveria reverter às próprias províncias. Cada região poderia negociar o pacto constitucional e, caso este não lhe conviesse, usar de seu direito de se constituir separadamente sob o sistema que melhor lhe parecesse. Mas a descentralização não prevaleceu.

Leia também: Os pernambucanos sustentaram um projeto alternativo de Independência que acabou derrotado, mas nos fala muito sobre os brasileiros que poderíamos ser.

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Ideias em confronto: embates pelo poder na Independência do Brasil. Cecilia Helena de Salles Oliveira.
Todavia • 272 pp • R$ 74,90/48,90

A historiadora e professora da Universidade de São Paulo (USP) Cecilia Helena de Salles Oliveira critica as visões tradicionais sobre a Independência do Brasil, que enfatizam a ausência de violência e a passividade da população, e propõe uma interpretação diferente. Ela insere a dinâmica política na América Portuguesa nos movimentos globais de transformação, como momento das revoluções liberais que grassavam na Europa e na América, e destaca os conflitos entre grupos movidos por projetos de Estado e de nação diferentes, que foram derrotados ou esquecidos à medida que se consolidavam os grupos políticos e mercantis vitoriosos entre 1822 e 1831.

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A morte de Vivek Oji. Akwaeke Emezi. 
Trad. Carolina Kuhn Facchin • Todavia • 224 pp • R$ 69,90

Natural da Nigéria e hoje vivendo nos Estados Unidos, Akwaeke Emezi, videoartista não binárie que escreveu Água doce (Kapulana, 2019), explora neste romance a dolorosa existência de uma criança gentil e misteriosa que pouco a pouco vai tomando consciência de si mesma, mas que encontra uma imensa resistência da família em compreendê-la como tal — e com isso vai rompendo seus laços com o mundo. 
 
Trecho do livro: “Não sou o que as pessoas acham. Nunca fui. Não tinha boca para articular em palavras, dizer o que estava errado, mudar as coisas que sentia que precisava mudar. E era difícil, todo dia, andar por aí sabendo que as pessoas me viam de um jeito, sabendo que estavam erradas, totalmente erradas, que meu verdadeiro eu era invisível para elas. Que nem existia para elas. Então: se ninguém te vê, você continua existindo?”.

Leia também: Uma seleção de livros sobre identidade de gênero para o público infantojuvenil.

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Mulheres. Osamu Dazai.
Trad. Karen Kazue Kawana • Estação Liberdade • 272 pp • R$ 68

Nascido em 1909, Osamu Dazai tornou-se um dos principais escritores modernistas do Japão, utilizando narrativas em primeira pessoa carregadas de elementos autobiográficos, com uma visão bastante crítica da sociedade japonesa (e de si mesmo). Mulheres reúne catorze contos escritos sob a forma de monólogos femininos, com narradoras de diferentes idades, que expressam opiniões e falam de sua rotina, suas dores e suas alegrias.

Leia também: Em seu livro mais célebre, Osamu Dazai faz um bilhete de adeus mergulhando na melancolia e no desprezo por si mesmo.

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A herança do golpe. Jessé Souza. 
Record • 182 pp • R$ 49,90

Ex-presidente do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), Jessé Souza explica que toda a história do Brasil ainda está marcada pela experiência da escravidão, com a condenação intencional de toda uma classe/raça à barbárie, miséria e humilhação, e que todos os governos que tentam redimir esses condenados são derrubados por golpes de Estado sob o pretexto fajuto do “combate à corrupção”, que visa preservar os privilégios da elite e da classe média branca. O principal legado do golpe foi o bolsonarismo, que manipula os pobres remediados e os evangélicos, canalizando o ressentimento desses grupos contra os negros e os muito pobres, classificados como bandidos ou parasitas do Estado.
 
Trecho do livro: “Hoje, fica claro que nenhum ‘branquinho histérico’ que tomou as ruas do Brasil no golpe de 2016 tinha qualquer ‘preocupação moral’. A suposta luta contra a corrupção serve para legitimar os privilégios educacionais da classe média branca e o assalto ao orçamento público apenas pela ínfima elite de proprietários. Uma sociedade para 20% da população é legitimada pela criminalização do povo e de seus representantes como ‘corruptos’. Uma corrupção que basta ser ‘escandalizada’ pela mídia elitista para que muitos acreditem nela, mesmo sem provas e sem justiça”.

Leia também: Livro mostra como o instituto do impeachment se configurou historicamente e aponta os fatores que agilizam ou barram os processos.

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Os perigos do imperador: um romance do Segundo Reinado. Ruy Castro. 
Companhia das Letras • 200 pp • R$ 69,90

Em 26 de março de 1876, dom Pedro 2º partiu para sua segunda viagem internacional (após visitar vários países europeus e o Egito em 1871) para conhecer a Exposição Universal na Filadélfia e cuidar da saúde da imperatriz Teresa Cristina. A imprensa estadunidense acompanhou com atenção a visita, e o New York Herald enviou seu repórter James O’Kelly para o Brasil em janeiro de 1876 para acompanhar a visita do imperador aos Estados Unidos — na época, o movimento republicano ganhava adeptos no Brasil. A partir desse fato histórico, Ruy Castro imagina uma tentativa de executar um atentado contra dom Pedro em uma trama que envolve o poeta Sousândrade, que na época vivia em Nova York; Deoclecio de Freitas, dono de um periódico antimonarquista; e o próprio James O’Kelly.

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A filha do guardião do fogo. Angeline Boulley.
Trad. Bruna Miranda • Intrínseca • 432 pp • R$ 69,90

O romance de estreia da escritora indígena norte-americana Angeline Boulley recebeu neste ano os prêmios Michael L. Printz e William C. Morris e está sendo adaptado para a televisão pela Netflix com produção de Michelle e Barack Obama. A trama é centrada na história de uma adolescente de dezoito anos que se sente dividida entre dois mundos: o da família da mãe, branca e conservadora, e o da família do pai, de indígenas da reserva Ojibwe, em Michigan. Ela sonha em cursar a faculdade e ter uma nova vida, mas testemunha um assassinato na sua reserva e se vê envolvida em uma investigação do FBI.

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Quem escreveu esse texto

Marília Kodic

Jornalista e tradutora, é co-autora de Moda ilustrada (Luste).

Mauricio Puls

É autor de Arquitetura e filosofia (Annablume) e O significado da pintura abstrata (Perspectiva), e editor-assistente da Quatro Cinco Um.

Matéria publicada na edição impressa #60 em agosto de 2022.