A má ciência silencia o mistério da vida, a má religião o empobrece, diz Eduardo Giannetti

Não foi na condição de economista, mas na de estudioso da filosofia, que Eduardo Giannetti participou d’A Feira do Livro neste sábado (21) para discutir seu livro mais recente, sobre a busca pela vida eterna, com o jornalista Márvio dos Anjos.

Lançado pela Companhia das Letras, Imortalidades destrincha os caminhos que os seres humanos teriam encontrado para lidar com o anseio da perenidade ao longo da história. Os mais óbvios desses seriam, é claro, a ciência e a religião.

O problema é quando essas alternativas acabam por eclipsar o assombro diante da existência, disse o ensaísta. “A má ciência silencia o mistério [da vida], assim como a má religião o empobrece.”

Afinal, afirmou Giannetti, a ciência não tem nenhuma comprovação empírica do que acontece após a morte, e qualquer um que diga o contrário está lançando mão do mesmo dogmatismo que contamina algumas visões religiosas.

“Quando algum cientista fala que o que vem depois da morte é o nada absoluto, ele já não é mais cientista. Ele está vendendo uma cosmovisão que não é resultado de pesquisa científica.”

Já a religião institucionalizada, disse o autor, empobreceu o tema da imortalidade ao monopolizá-lo. Isso quando não o simplifica, transformando “tudo em conto da carochinha”.  

Pensamento iluminista 

Giannetti, que falava para uma plateia lotada e foi aplaudido de pé ao final da mesa, ainda elencou os outros dois caminhos que, junto com a ciência e a religião, seriam os quatro únicos possíveis para descrever como a humanidade busca a eternidade.

O terceiro seria o pensamento iluminista, segundo o escritor o resultado de “uma transição da fé no além para a fé no aquém redimido” daquele período histórico.

Os que o advogam — e é possível acreditar em mais de uma das vias mapeadas no livro ao mesmo tempo — partem do princípio de que não há transcendência. A imortalidade possível seria, assim, um legado material ou intelectual para as próximas gerações.

“O investimento passa a ser na história, não no céu”, resumiu o escritor.

Presente absoluto

A quarta rota, enfim, seria a busca pela eternidade por meio do “presente absoluto”, ou seja, de experiências momentâneas que permitem um contato profundo com a eternidade. Entram nessa categoria os êxtases místicos e amorosos, as vivências promovidas pelo consumo de alucinógenos e as experiências de quase-morte, entre outros.

Se esse último caminho tem ganhado cada vez mais atenção, inclusive devido a descobertas científicas inéditas, os demais têm sido razão de muita desilusão, segundo o autor. 

“Nossa geração está vivendo uma dupla falência, sem ter fé no além e perdendo cada vez mais a fé em uma história capaz de apontar uma esperança de melhoria”, afirmou. 

Tampouco a ciência parece ser capaz de ocupar esse lugar, prosseguiu Giannetti. “Toda a promessa dela de tornar a natureza dócil aos humanos acabou redundando no seu contrário, em uma ameaça terrível de descontrole que agora nos afronta quase como uma fatalidade natural, as mudanças climáticas. Há um esgarçamento da fé na finalidade humana do universo.”

A quarta edição d’A Feira do Livro 2025 acontece de 14 a 22 de junho, na praça Charles Miller, no Pacaembu. Realizado pela Associação Quatro Cinco Um, pela Maré Produções e pelo Ministério da Cultura, o festival literário paulistano, a céu aberto e gratuito, reúne mais de duzentos autores e autoras do Brasil e do exterior em uma programação com mais de 250 atividades, entre debates, oficinas, contações de histórias e encontros literários. Confira a programação e outras notícias do festival.