
A cobertura especial d’A Feira do Livro, que acontece de 14 a 22 de junho, é apresentada pelo Ministério da Cultura e pela Petrobras
MINISTÉRIO DA CULTURA E PETROBRAS APRESENTAM


A FEIRA DO LIVRO 2025,
‘É papel da literatura registrar momentos históricos’, diz Marcelo Rubens Paiva
Escritor conversou com Martha Nowill sobre as semelhanças de seus romances, paternidade, maternidade e os limites éticos de seus escritos
20jun2025Uma mulher se descobre grávida pela primeira vez — e de gêmeos — durante a pandemia. Um homem que descobre as aventuras e os desafios de ser pai aos cinquenta anos, também em meio a um país em colapso. Autores que misturam relatos pessoais e o cenário político, Marcelo Rubens Paiva e Martha Nowill falaram das semelhanças de seus livros, de paternidade, de maternidade e dos limites éticos da literatura, na mesa Cartas aos filhos, na tarde desta sexta (20).
Amigos de longa data e pais de primeira viagem, os escritores leram trechos dos seus romances recém-lançados. Coisas importantes também serão esquecidas (Companhia das Letras), estreia de Nowill na literatura, mistura diário e ensaio ao contar a experiência da atriz de se descobrir grávida aos quarenta anos em meio ao isolamento. O novo agora (Alfaguara), de Rubens Paiva, completa uma trilogia iniciada com Feliz ano velho (1982) e que teve continuidade em Ainda estou aqui (2015), adaptado ao cinema por Walter Salles, que deu ao Brasil seu primeiro Oscar.


“Eu não sabia o que era ‘pauerpério’”, disse o escritor, provocando risos na plateia. “Puerpério”, corrigiu Nowill. “Continua não sabendo”, brincou ela. Rubens Paiva contou das muitas descobertas sobre a gestação, o parto e os primeiros meses de vida dos filhos, narradas nos romances dos dois.
“Essa experiência de um homem ver um parto, colocar um bebê para dormir, segurar um filho no sling, trocar fralda, não existe na literatura mundial, em Shakespeare, Machado, nada. Fiquei chocado”, disse o escritor. “Nem as grandes autoras, de Clarice Lispector a Virginia Woolf e Jane Austen, ninguém fala de parto, que é uma coisa violentíssima.”
Martha Nowill contou que um dos grandes prazeres do livro foi escrever o relato de seu parto. “Até hoje não consigo ver o vídeo, me emociono. Foi o dia mais louco e lindo da minha vida. Sei que não é assim para todas as mulheres”, afirmou sobre a experiência que narrou em um artigo publicado na revista piauí, que depois deu origem ao livro.
Limites
Questionados pela mediadora, a jornalista Micheline Alves, os dois falaram sobre os limites éticos de seus escritos, que expõem familiares e amigos. “Expor é o meu nome”, brincou Rubens Paiva, que contou que um dos filhos, de onze anos, leu o romance em que aparece e riu muito. “Mas tem uma técnica de chegar no limite da privacidade. Mudei o nome dos personagens aos 45 do segundo tempo. Tem que saber expor. Estou fazendo um personagem de mim mesmo, a mãe não é aquela pessoa, tento não me vitimizar, não culpabilizar ninguém, até porque a narrativa fica pobre.”
Mais Lidas
“Exponho muita gente e, ao contrário do Marcelo, dou nomes”, disse Nowill. “Parto do princípio que não vou expor da pessoa algo que não falaria sobre mim. É uma medida que funciona.” A escritora contou que o marido, sentado na plateia, não quis ler o romance antes da publicação, e que submeteu a narrativa também aos pais e aos enteados. “Até hoje ninguém veio bater na minha porta para reclamar”, completou. “Na minha, já”, brincou Rubens Paiva.
Pandemia
A política que perpassa os dois relatos também foi tratada pelos autores. Nowill contou porque resolveu mesclar a pandemia de Covid e o governo Bolsonaro à sua narrativa sobre a gestação, ainda que isso possa ter afastado parte dos leitores. “Claro que alguém pode se afastar por conta disso, mas tinha muita gente morrendo. Achei importante pontuar alguns momentos da pandemia. A gente sabia os nomes das variantes do vírus. Decidimos que tinha que estar lá, tem um valor histórico.”

Marcelo Rubens Paiva contou que, numa busca feita antes da publicação, encontrou 74 menções ao nome de Bolsonaro, mas resolveu excluir. “Não vou falar o nome desses filhos da puta no meu livro”, disse, aplaudido pelo público.
“Vivemos a maior pandemia do século, negada por um governo que dizia que quem tomava vacina virava jacaré. O Brasil tinha prioridade na vacina da Pfizer e não comprou. Ficamos abandonados. O pesadelo que estávamos vivendo precisava ser registrado”, argumentou. “O papel da literatura é registrar momentos históricos.”
A quarta edição d’A Feira do Livro 2025 acontece de 14 a 22 de junho, na praça Charles Miller, no Pacaembu. Realizado pela Associação Quatro Cinco Um, pela Maré Produções e pelo Ministério da Cultura, o festival literário paulistano, a céu aberto e gratuito, reúne mais de duzentos autores e autoras do Brasil e do exterior em uma programação com mais de 250 atividades, entre debates, oficinas, contações de histórias e encontros literários. Confira a programação e outras notícias do festival.
A Feira do Livro 2025 · 14 — 22 jun. Praça Charles Miller, Pacaembu
A Feira do Livro é uma realização do Ministério da Cultura, por meio da Lei Rouanet – Incentivo a Projetos Culturais, Associação Quatro Cinco Um, organização sem fins lucrativos dedicada à difusão do livro e da leitura no Brasil, Maré Produções, empresa especializada em exposições e feiras culturais, e em parceria com a Prefeitura de São Paulo.
Porque você leu A FEIRA DO LIVRO 2025
Artista e curadores pensam o que pode um catálogo de exposição n’A Feira do Livro
A artista Renata Lucas conversou com Pollyana Quintella, curadora da sua última exposição, e Jochen Volz, diretor da Pinacoteca de São Paulo, sobre modelo de publicação alternativo
JUNHO, 2025
Leia Também
Diferentes gerações de ilustradores participam de debates no Espaço Rebentos
JUNHO, 2025
Papel da crítica não é dizer se livro é bom ou ruim, mas dialogar, defendem colunistas da Quatro Cinco Um
JUNHO, 2025
Fetichismo do livro como objeto capitalista não me interessa, diz Jorge Carrión
JUNHO, 2025