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A cobertura especial d’A Feira do Livro, que acontece de 14 a 22 de junho, é apresentada pelo Ministério da Cultura e pela Petrobras

MINISTÉRIO DA CULTURA E PETROBRAS APRESENTAM

Raphael Montes, Edyr Augusto e Roberta Martinelli n’A Feira do Livro (Flávio Florido)

A FEIRA DO LIVRO 2025,

Literatura policial espelha violência da sociedade, diz Raphael Montes em mesa com Edyr Augusto

Autores de romances que renovaram o gênero no Brasil discutiram adaptações audiovisuais de seus livros e a escrita de tramas de suspense

19jun2025

O diálogo entre literatura e audiovisual, que remonta aos primórdios do cinema, até hoje provoca debates em torno das adaptações de livros para as telas. N’A Feira do Livro, essa discussão reuniu na noite desta quarta (18) o escritor carioca Raphael Montes e o paraense Edyr Augusto. Os dois conversaram na mesa Na cena do crime, com mediação de Roberta Martinelli, sobre o lugar do romance policial e de suspense no Brasil de hoje e as recentes adaptações televisivas e cinematográficas de livros que escreveram.

Lembrando que o gênero já foi considerado “subliteratura”, Montes disse preferir enxergá-lo como espelho da vida social e também de comportamentos humanos. “Falar de literatura policial é falar de violência, e falar de violência é falar da sociedade”, afirmou o escritor carioca. “E falar de crime é também falar da mente humana. Animais matam por instinto de sobrevivência, gente mata por racismo, homofobia, misoginia.”

Raphael Montes n’A Feira do Livro (Flávio Florido)

Montes tem familiaridade com a transposição de livros para as telas, e vice-versa. Produziu e roteirizou, com Ilana Casoy, a série Bom dia, Verônica (Netflix), baseada no romance homônimo que os dois lançaram originalmente em 2016 pela Darkside com o pseudônimo Andrea Killmore. Já seu suspense psicológico Uma família feliz (Companhia das Letras), de 2024, foi escrito a partir do roteiro do filme, lançado no mesmo ano. Além disso, seu romance Dias perfeitos, publicado em 2014 pela mesma editora, estreia em formato de série em breve, na Globoplay.

O filme ou o livro?

Questionados por Martinelli sobre o eterno dilema do que é melhor, o filme ou o livro, Montes e Edyr Augusto colocaram cada coisa em seu lugar: “O filme é uma leitura possível do livro”, definiu Montes.

Romances e outros formatos literários, lembrou Augusto, sempre contam com uma dose generosa de imaginação por parte dos leitores. “Quando alguém diz que acha o livro melhor, é porque o livro é o filme dele”, disse o escritor nascido em Belém, conhecido por histórias que, além de explorarem o gênero policial e misturarem tráfico de drogas, prostituição e corrupção, têm os dois pés fincados na realidade paraense. Um exemplo é seu romance Pssica (Boitempo), lançado em 2015 e que este ano vira minissérie na Netflix, com direção de Quico Meirelles e Fernando Meirelles.

Edyr Augusto n’A Feira do Livro (Flávio Florido)

“Belém é o meu lugar, o meu cenário, e a gente escreve o que vê. É uma cidade com uma história fantástica, o boom da borracha… o mundo passou por Belém”, disse, emocionado.

Escrita a jato 

Sublinhando que tanto Montes quanto Augusto são autores de livros muito visuais, Martinelli ainda perguntou se eles já vislumbravam adaptações para a TV ou cinema enquanto escreviam seus romances. “Acho que eu e o Raphael somos ajudados por evitar grandes descrições”, brincou Augusto. “Com o audiovisual o livro atinge mais pessoas”, disse Montes, “mas quando escrevo o livro, estou pensando no livro”.

Os dois convidados ainda revelaram detalhes sobre seus processos de escrita. Edyr Augusto contou que fica muito tempo “pensando nos assuntos todos, e os personagens vão maturando”. Quando senta para escrever, disse, leva no máximo um mês e meio. Montes espantou-se: “Um mês e meio para escrever um livro?”, perguntou, divertindo a plateia. 

“Eu trabalhei em rádio, e em rádio é tudo para ontem”, rebateu o paraense. “A impressão, quando começo a escrever, é que atrás de mim tem uma fila de pessoas me cutucando”, disse Edyr Augusto, rindo. “As primeiras quinze linhas precisam ser matadoras, para capturar o leitor.”

Fila de autógrafos para Raphael Montes e Edyr Augusto (Flávio Florido)

No caso de Montes, antes é preciso compreender o que se quer contar. “O que me move é querer entender uma situação. Ao contar essa história [em que estou pensando], do que estou falando na verdade? E por que isso vai me interessar pelos próximos dois anos, que é o tempo que vou levar pra escrever?”, explicou, ainda sem esquecer da escrita a jato de Edyr Augusto. 

A quarta edição d’A Feira do Livro 2025 acontece de 14 a 22 de junho, na praça Charles Miller, no Pacaembu. Realizado pela Associação Quatro Cinco Um, pela Maré Produções e pelo Ministério da Cultura, o festival literário paulistano, a céu aberto e gratuito, reúne mais de duzentos autores e autoras do Brasil e do exterior em uma programação com mais de 250 atividades, entre debates, oficinas, contações de histórias e encontros literários. Confira a programação e outras notícias do festival.

A Feira do Livro 2025 · 14 — 22 jun. Praça Charles Miller, Pacaembu

A Feira do Livro é uma realização do Ministério da Cultura, por meio da Lei Rouanet – Incentivo a Projetos Culturais, Associação Quatro Cinco Um, organização sem fins lucrativos dedicada à difusão do livro e da leitura no Brasil, Maré Produções, empresa especializada em exposições e feiras culturais, e em parceria com a Prefeitura de São Paulo.

Quem escreveu esse texto

Vitor Pamplona

Jornalista e roteirista, traduziu As aventuras de uma garota negra em busca de Deus (Bissau Livros)