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O legado armorial em ‘7 cordéis brasileiros’
Novo lançamento de Luiz Antonio Simas é coletânea de cordéis ilustrados que retratam realidades sociais e tradições brasileiras
02dez2024Ancorados nas tradições deixadas pelo Movimento Armorial, os sete cordéis escritos por Luiz Antonio Simas, reunidos no livro publicado pela Oficina Raquel, são compostos por narrativas carregadas de elementos da cultura brasileira. As ruas da cidade, os botequins, as macumbas e as figuras de santos marcam as histórias cordelizadas pelo escritor, que também adiciona teor crítico à obra ao evocar figuras políticas, como Paulo Freire, a Rainha Elizabeth e Napoleão.
A típica arte de cordel é representada por meio das ilustrações do pernambucano Jô Oliveira, que trazem o imaginário popular para as páginas do livro. Em uma estética característica das xilogravuras, foram ilustradas as festas, danças, revoltas, personalidades religiosas e o cangaço.
Além dos cenários que articulam o sagrado e o profano, 7 cordéis brasileiros também mergulha na metalinguagem e propõe análises sobre o gênero do cordel. A voz de Simas é revelada para o leitor e celebra o legado iniciado por Ariano Suassuna.
Leia um trecho a seguir:
Trecho de ‘7 cordéis brasileiros’
A INVASÃO DA BAHIA POR NAPOLEÃO
Certo dia, Napoleão
Reuniu a sua tropa
Num ato de bizarria
E ocupou a Europa
Mas o cabra não sabia
Que em sua veleidade
A Europa se invade
Mas não se invade a Bahia
Mais Lidas
Chegou com dez mil soldados
Na Baixa do Sapateiro
Jurando tomar, ligeiro
A casa de Jorge Amado
Mas tamanha valentia
Curvou-se à realidade
A Europa se invade
Mas não se invade a Bahia
O corso perdeu a linha
E logo entrou pelo cano
Quando vinte mil franceses
Apanharam de um baiano
No platô da Liberdade
Antes de dar meio-dia
A Europa se invade
Mas não se invade a Bahia
Com meia-lua de frente
Negativa e queixada
O baiano, meu parente
Liquidou a francesada
Confirmando a boutade
Que Camafeu repetia:
A Europa se invade
Mas não se invade a Bahia
Outros tantos conterrâneos
De Madame Pompadour
Sucumbiram ao ebó
Despachado por Exu
Numa encruza da cidade
Conforme a liturgia
A Europa se invade
Mas não se invade a Bahia
Mas o maior fuzuê
Deu-se quando um furreca
francês pediu a moqueca
Sem azeite de dendê
Em tamanha aleivosia
Que beira a insanidade
A Europa se invade
Mas não se invade a Bahia
Diante de tal sufoco
Sucumbiu o Bonaparte
Que lamentoso da sorte
Chorou no pé do caboclo
E aprendeu a verdade
De douta filosofia
A Europa se invade
Mas não se invade a Bahia
O que hoje se assevera
Do Bonfim ao Taboão
É que seu Napoleão
Mora perto da Ribeira
Não se mete em porfia
E diz com autoridade:
A Europa se invade
Mas não se invade a Bahia
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