Literatura infantojuvenil,
Leitores de carteirinha: novembro de 2021
Jovens frequentadores de bibliotecas comunitárias resenham seus livros preferidos
24out2021 | Edição #51Isadora Peixoto Fraga, 18 – Porto Alegre (RS)
Joseph Delaney.
O aprendiz.
Tradução de Lia Wyler
Bertrand Brasil • 224 pp • R$ 54,90
O aprendiz é o primeiro livro da saga As aventuras do caça-feitiço, cativante para quem gosta de literatura fantástica. Joseph Delaney escreveu a série best-seller que vendeu 3 milhões de exemplares no mundo, o que não me surpreende, já que o livro me prendeu facilmente e me deixou ansiosa pela continuação. O autor se inspira e entrelaça o folclore e a mitologia de sua região nas histórias de seus livros.
Esse é o primeiro livro de uma série de doze. Thomas Ward, aprendiz de caça-feitiço, é o sétimo filho de um sétimo filho e começa seu treinamento na última primavera de seus doze anos. Como aprendiz ele terá lições de como enfrentar feiticeiras, ogros, fantasmas e sombras, criaturas das trevas com as quais ele precisará lidar no futuro, se ele se formar um caça-feitiço. O aprendiz conta o início do treinamento, quando ele deixa sua casa e sua família para começar seu novo ofício. Ele aprende a não confiar em meninas com sapatos de bico fino, mas, ao ignorar esse ensinamento, ele liberta a feiticeira mais malévola do condado, colocando todos em risco, incluindo sua família.
Deve ser lido à noite
Essa é uma saga que me prendeu, pois mesmo com poucas páginas é cheia de detalhes que ajudam na imaginação das cenas descritas. O que mais me chamou a atenção foi a capa, que me lembrou exatamente o tipo de leitura que me interessa. Por mais que digam para não julgar um livro pela capa, eu julguei e não me arrependi. A contracapa foi o que me deixou mais intrigada, já que nela dizia “Cuidado: não deve ser lido à noite”, e a minha maior vontade foi começar a ler exatamente à noite e entendi o porquê. Só uma dica: vale a pena desobedecer à recomendação!
Pâmela Vitória Dias Oliveira, 15 – Sabará (MG)
Mais Lidas
Teresa Cárdenas.
Cartas para a minha mãe.
Tradução de Eliana Aguiar
Pallas • 112 pp • R$ 29
Esse livro relata por meio de cartas como uma menina negra de onze anos se comunica com a mãe morta, contando-lhe o que vive com a avó, a prima doente, as outras primas, as tias e o namorado de uma tia. Cada carta é um relato de sofrimento. Mas há também a professora gentil, a velha Menú, interessante e boa, e o menino branco com o qual passa bons momentos.
Em um trecho que me marcou, a autora cita a cor da pele: “Certo dia, ela me perguntou: ‘Quem é esse branquinho que anda com você?’. Não soube o que responder. Nem lembrava que Roberto é branco. Foi então que descobri que, quando gostamos de alguém, a cor da pele não tem importância. E, além do mais, é mais bonito dizer Roberto que ‘o branquinho’”. Isso me fez pensar como o racismo se instala e como as pessoas se sentem tão confortáveis em definir o negro como feio. As pessoas negras devem fazer de tudo para lutar pela desconstrução.
Isso mostra como o racismo se instala e como as pessoas se sentem confortáveis em definir o negro como feio
A história é triste, mas bonita e romântica, apesar de tudo. Mostra que a menina, com os recursos da imaginação e a amizade de alguns, supera os sofrimentos, consegue ser aceita e amada e viver normalmente em sociedade. Super-recomendo essa história para você ler e se emocionar. Eu não conhecia essa escritora, Teresa Cárdenas, mas gostei e quero ler outras obras dela em breve.
Ester Cristina de Souza Zaleski, 17 – Paraty (RJ)
Ana Beatriz Brandão.
O garoto do cachecol vermelho.
Verus • 294 pp • R$ 39,90
O garoto do cachecol vermelho conta a história de Melissa, uma garota bonita e inteligente que sonha ser a primeira bailarina brasileira negra do American Ballet Theatre, uma das maiores companhias de dança do mundo.
Melissa nunca enfrentou muitas dificuldades na vida, o que contribuiu para que se tornasse mimada: sua vida se resumia a ir à faculdade, treinos de balé e saídas com amigos. Apesar de ter uma vida que muitos gostariam de possuir, Melissa se sentia insatisfeita e era uma pessoa extremamente preconceituosa. Numa noite de Ano-Novo ela conhece Daniel, um garoto que, por algum motivo, sempre usava um cachecol vermelho, e no decorrer do livro ele tenta explicar a Melissa que a vida pode ser muito mais ampla do que ela é capaz de ver.
Evolução da protagonista
Confesso que foi meio difícil me apegar à história logo no começo por causa do comportamento da protagonista. Apesar de ter uma determinação e força admiráveis, seus pensamentos e preconceitos acabam sendo meio frustrantes para o leitor. Porém, isso não tira a qualidade da história, pelo contrário: o que mais gostei no livro foi da evolução da personagem principal.
A escrita da autora é superfluida e é impressionante como aborda de forma simples assuntos como perdas emocionais, preconceitos e empatia. Os personagens foram bem construídos, e a história me emocionou muito. Ela leva o leitor a refletir sobre os mais diversos assuntos, como desenvolvimento pessoal. Esse livro ganhou o meu coração: foi muito mais do que eu esperava e tenho a certeza de que ninguém vai se arrepender de ler, mesmo tendo partes em que vai ser impossível não chorar.
A Rede Nacional de Bibliotecas Comunitárias (rnbc) é um dos projetos mais importantes de articulação entre leitores e bibliotecas no Brasil. Publicamos aqui resenhas de livros escolhidos por três jovens que frequentam a Biblioteca Comunitária do Arvoredo (rs), a Sala Son Salvador (mg) e a Biblioteca Comunitária Terra e Mar (rj). Contamos com eles para manter acesa a chama da leitura! Conheça e saiba como apoiar a Rede Nacional de Bibliotecas Comunitárias no site rnbc.org.br
Esse texto tem o apoio do Itaú Social.
Matéria publicada na edição impressa #51 em setembro de 2021.
Porque você leu Literatura infantojuvenil
Semear na aridez
Chupim confirma marca da ficção de Itamar Vieira Junior, na qual crítica social contundente se une à perspectiva poética de personagens
DEZEMBRO, 2024