Ilustração do Caco Galhardo

Literatura brasileira, Literatura infantojuvenil,

Derretendo de paixão

Cupcake um pouco mimado e muito apaixonado por uma queijadinha marca estreia de Paulo Henriques Britto na literatura infantojuvenil

11jun2025

A estreia do tradutor e poeta Paulo Henriques Britto na literatura infantojuvenil, As incríveis aventuras do super­-herói Cupcake Gigante e seu fiel escudeiro Jarbas, é — com o perdão do meu jogo de palavras vagabundo — uma delícia.

Os títulos de capítulo à moda de Cervantes e seus contemporâneos — “De como o Cupcake Gigante decidiu comprovar de uma vez por todas ser ele deveras o maior cupcake gigante de todos”, e assim por diante —, que basicamente são um resumo com certa ironia da história a ser contada, evocando uma formalidade antiga, funcionam muito bem.

Britto explica que o livro nasceu das histórias que ele inventava para o neto Antônio. Em 2023, lancei meu primeiro livro infantil, As sete vidas do Gato Jouralbo (Bebel Books), baseado nas histórias que inventava junto com meu filho Max. Por isso, de cara já simpatizei com o livrinho.

No universo do Cupcake Gigante, doces convivem com seres humanos numa boa, sem medo de serem devorados. Seria canibalismo um cupcake comer bombas de chocolate? Talvez seja como o universo dos quadrinhos da Disney, do gênio Carl Barks, onde existem cachorros que têm casa e automóvel (o Pateta) e cachorros que andam de quatro (o Pluto). Ou seja, castas de cidadãos. A se pensar.

Nosso herói, que de herói só tem o nome já que não possui nenhum superpoder, começa a se encrencar quando se apaixona pela Queijadinha Quitéria, que, para sua frustração, já é comprometida com um brigadeirão ao estilo macho alfa. É, aí fica difícil competir. Mas o Cupcake Gigante, apesar de muito preguiçoso, investe nesse amor quase impossível.

O estilo da escrita não trata a criança como um imbecil em formação, nada de tatibitate

Na verdade quem investe mesmo é seu mordomo Jarbas, que não cansa de limpar o chocolate que escorre da cabeça do seu patrão quando este fica nervoso. Sim, ele tem um mordomo, o “fiel escudeiro” Jarbas, que está a sua disposição 24 horas por dia. Dá para ver que o Cupcake tem muita grana e leva uma vida mansa, apesar de ser um tremendo mão de vaca.

Ilustração do Caco Galhardo (Divulgação)

Nisso ele se assemelha ao Batman, um herói cujo único poder é ser dono de uma fortuna inesgotável e que também tem um prestativo mordomo, o lacônico Alfred. Tanto Alfred quanto Jarbas têm uma devoção canina a seus patrões, estão pouco se lixando para o fim da escala 6×1 e trabalham sem parar. Se bem que Jarbas é mais proativo, devo dizer. E tem até uma vida social, sempre em contato com sua amiga Cocadinha Consuelo.

Geração Toddynho

Em certo sentido, o Cupcake Gigante é um retrato da geração que hoje tem 30, 35 anos, mas ainda mora na casa dos pais, não lava a louça nem arruma a cama ao acordar. E na cozinha sempre vai ter um Toddy e um queijo quente esperando, preparados pela mamãe. Ah, conheço tantos…

A certa altura, o Cupcake Gigante se vicia num joguinho bobo de celular e a obsessão passa dos limites, fazendo com que Jarbas seja obrigado a intervir. Esse capítulo é quase instrutivo/consolador para quem tem filhos pequenos ou adolescentes. Eles não largam o maldito celular para nada, é uma tristeza. Quantos embates já tive com meu filho por causa dessa praga! Obrigado, Paulo Henriques Britto. Serei eternamente grato.

O final do livro é honestíssimo, quase abrupto e sem redenção. Como a vida. Aliás, o estilo da escrita não trata a criança como um imbecil em formação, é econômico e sofisticado ao mesmo tempo. Nada de tatibitate. Palmas. Ah, e tem as ilustrações sem frescura do meu ex-colega de tiras na Folha de S.Paulo, Caco Galhardo. Ilustrações não redundantes, isso é importante.

Agora é convencer meu filho a largar o celular e ler as aventuras do Cupcake Gigante. Oremos.

Quem escreveu esse texto

Allan Sieber

É artista plástico, roteirista e cartunista, autor de 20 livros, entre os quais Meu querido diário —volume 1 (Z edições, 2022)

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