Felipe Neto e a pedra filosofal

Está no ar o 451 MHz, o podcast da revista dos livros. Neste 122º episódio convidamos o youtuber, empresário e escritor Felipe Neto. Nessa conversa, ele relembra os últimos anos da política brasileira, fala da sua experiência com o mercado editorial e, principalmente, conta para a gente suas estratégias para combater esse ódio do qual vem sendo alvo nas redes sociais e na vida. O episódio foi realizado com apoio da Companhia das Letras e da Lei de Incentivo à Cultura.

Felipe Neto começou sua carreira na internet em 2010, produzindo vídeos para o YouTube, e acaba de lançar Como enfrentar o ódio (Companhia das Letras, 2024). O livro é um relato pessoal sobre como o ódio que tomou conta do debate público no país esteve presente em sua vida.

O ódio cativa

“A maior característica do ódio é você ficar cego, não conseguir enxergar nada além daquilo que você sente, agindo no impulso em relação a isso”, afirma Felipe Neto no episódio do 451 MHz desta semana.

Nos últimos anos, o youtuber vem se posicionando politicamente e combatendo a extrema-direita no país, especialmente o ex-presidente Jair Bolsonaro e o deputado federal Nikolas Ferreira.

De acordo com ele, a extrema direita cativa seus eleitores dando a eles senso de pertencimento, de direção na vida e de propósito, além de trazer “respostas simples para questões complexas, como a da segurança pública brasileira”.

O livro de Felipe Neto foi lançado no dia 7 de setembro deste ano, propositalmente a data da Independência do Brasil e que, nos anos recentes, tornou-se ocasião para manifestações bolsonaristas ao redor do país.

Como enfrentar o ódio

À frente do segundo maior canal de YouTube do Brasil, com mais de 45 milhões de inscritos, Felipe Neto foi e continua sendo alvo do ódio promovido pela direita brasileira nos últimos anos.

“A elite burguesa não previu que transformar toda a sociedade em um vulcão em erupção de ódio abriria margem para a entrada de um líder neofascista”, afirma Neto em referência à vitória de Jair Bolsonaro na eleição de 2018.

Em uma democracia corroída, o livro é “a primeira coisa a ser atacada pelos autoritários”, afirma Neto ao comentar sobre o romance Fahrenheit 451 (Biblioteca Azul, 2012, trad. Cid Knipel), de Ray Bradbury.

Foi a vontade de “poder contar os bastidores de uma história recente brasileira que não pode cair no esquecimento” que o incentivou a escrever.

“Quem vai documentar a lembrança deste tempo presente é a literatura, os filmes, as séries, os museus”, afirma Neto.

O escritor

O livro publicado pela Companhia das Letras não é o primeiro que escreveu. Em 2013, ele lançou Não faz sentido: por trás da câmera, publicado pela Casa da Palavra. Nele, o influencer conta os bastidores de suas produções para o YouTube.

Mas é com Como combater o ódio que Neto considera ter entrado de fato no mercado editorial. “O livro é a mídia mais valorosa e importante que temos. Diferente de um vídeo, é um documento e registro”, diz.

Tendo passado parte da sua adolescência na frente das telas de computador escrevendo fanfics, Neto foi um leitor antes de ser um escritor. “Escrever sempre foi uma veia muito forte da minha vida, sempre tive o desejo de ser autor”.

Livros de formação

Com onze anos, leu a saga Harry Potter e diz ter tido sua vida transformada. “Eu sou a geração que Harry Potter pegou na veia, por isso vivo esse dilema em relação à J. K. Rowling, que hoje é uma pessoa horrível a quem eu devo muita coisa”, afirma o youtuber.

No episódio, ele comentou também ser leitor do escritor norte-americano Stephen King.

Para autores iniciantes, ele indicou Sobre a escrita: a arte em memórias (Suma, 2015, trad. Michel Teixeira) e o romance Misery: louca obsessão (Suma, 2014, trad. Elton Mesquita), ambos de King. 

Além de ter publicado Como enfrentar o ódio, Neto lançou recentemente o Clube do Livro FN, em que o youtuber lê e discute mensalmente sobre literatura com os participantes, que podem se associar ao clube com planos mensais e anuais.

O livro escolhido para o primeiro mês do clube foi Fahrenheit 451 (Biblioteca Azul, 2012), a distopia que trata da censura aos livros escrita por Ray Bradbury.

Mais na Quatro Cinco Um

Colunista da revista dos livros, Paulo Roberto Pires escreveu para a edição de outubro da Quatro Cinco Um uma resenha do livro de Felipe Neto. 

O melhor da literatura LGBTQIA+

O episódio traz uma sugestão do romancista Pedro Jucá, autor de Amanhã tardará, publicado pelo selo Tusquets, da Editora Planeta, neste ano. Ele indica O coração é um caçador solitário, estreia de Carson McCullers que ganhou reedição pela Carambaia em 2022.

“Nesse romance ela retrata de uma maneira magistral e sutil a questão da solidão e da nossa eterna luta para tentar comunicar o próprio desejo, muitas vezes a nós mesmos. Ela narra a história de cinco personagens no sul dos Estados Unidos, em um contexto de pós-Grande Depressão. É um clássico lindo, comovente e inesquecível ”, conta Jucá.

Confira a lista completa de indicações do podcast 451 MHz no bloco O Melhor da Literatura LGBTQIA+.