Trechos,

A maioridade poética

Em ‘Geografia íntima do deserto e outras paisagens reunidas’, Micheliny Verunschk compartilha sua palavra obsessiva em uma antologia de poemas que mostra que é possível visitar o sonho; leia trecho

11jun2024 - 11h21 • 11jun2024 - 14h05
(Melissa Guimarães/Divulgação)

Em 2024, a poesia da escritora e historiadora pernambucana Micheliny Verunschk chega à maioridade ao completar 21 anos da publicação de seu primeiro livro, Geografia íntima do deserto (Landy). Duas décadas depois, ela celebra sua trajetória e o que aprendeu ao revisitar sua obra com a antologia Geografia íntima do deserto e outras paisagens reunidas, publicada pelo Círculo de Poemas, que chega às livrarias nesta segunda-feira (10).

Em torno de sua obra de estreia, a coleção de textos reúne seis publicações, como A cartografia da noite (Lumme, 2010), B de bruxa (Mariposa Cartonera, 2014), e o inédito Vestidos vazios (Círculo de Poemas, 2024), que convidam a experimentar “o milagre circular do movimento do tempo”, como afirma o poeta e compositor Lirinha no texto de orelha.

Nascida em 1972 em Recife, Pernambuco, Verunschk escreveu diversos poemas e alguns romances aclamados ao longo de mais de vinte anos. Sua obra poética inclui Maravilhas banais (2017) e O movimento dos pássaros (2020), publicados pela Martelo. Entre os romances, estão Nossa Teresa: vida e morte de uma santa suicida (Patuá, 2014); O som do rugido da onça (2021), vencedor do prêmio Jabuti em 2022, e Caminhando com os mortos (2023), publicados pela Companhia das Letras. 

Em Geografia íntima do deserto e outras paisagens reunidas, Verunschk compartilha seu olhar e sua palavra obsessiva para mostrar que é possível visitar o sonho, a memória e a realidade. Tudo ao mesmo tempo. Leia um trecho a seguir. 

Trecho de Geografia íntima do deserto e outras paisagens reunidas

A Barata

A barata
tensa
atônita
atenta
à folha
pegajosa do poema.
Um calafrio quase
na carapaça dura
e o poema agridoce
acenando
acendendo
dentro da madrugada escura.
O dia nasce
parindo um novo solstício
e ela,
impressa,
presa no poema-suicídio.

Amor é morte
carta violada
que sangra aberta
todos os degredos
túmulo rasgado
entre véu e selos
leitura suicida
e assassinada.
Amor é morte
carta extraviada.