Política,
Uma carta aos escritores do mundo
Escritora afegã Homeira Qaderi escreve sobre a situação em Cabul após a chegada do Talibã ao poder
27ago2021A escritora afegã Homeira Qaderi, 41, autora de Dancing in the Mosque: An Afghan Mother’s Letter to Her Son (Dançando na mesquita, uma carta de uma mãe afegã ao seu filho), escreveu uma carta aos seus colegas do International Writing Program de Iowa, importante programa de escrita criativa. Um desses colegas é o escritor Antônio Xerxenesky, que também é amigo da Qaderi, e cedeu e traduziu a mensagem para a Quatro Cinco Um.
Na carta, Qaderi conta como está a situação em Cabul, capital do Afeganistão, após a chegada ao poder do grupo radical Talibã, com a saída das tropas dos Estados Unidos no país. Ela fala de como a chamada “Guerra contra o Terror” se transformou em uma “guerra por procuração” no Afeganistão e que o mundo ficou indiferente quando o Talibã governou o país em 1995. A escritora pede que o mundo não se esqueça da “tragédia humana” que está em curso.
Leia a carta na íntegra:
“Saudações, amigos,
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Meu nome é Homeira Qaderi, sou autora, entre outros, de Dancing in the Mosque: An Afghan Mother’s Letter to Her Son. Conheci alguns de vocês no International Writing Program de Iowa, e outros conheço pela escrita. Estou morando em Cabul nestes dias sangrentos onde, como escritora, mulher e mãe, vejo meu povo sendo intimidado pelo Talibã.
Estamos presos numa guerra que nos foi imposta: uma proxy war (guerra por procuração) na Guerra Global ao Terrorismo, mas também uma guerra por procuração promovida pelos países vizinhos. Quando o Talibã chegou ao poder em 1995, o Afeganistão se encontrava devastado pela guerra civil, e o espírito de nosso povo foi destruído quando o Talibã impôs leis draconianas e obsoletas. O mundo se manteve indiferente ao nosso destino, achando que ainda se tratava de uma guerra civil. Mas a adesão do Talibã ao terrorismo representava um perigo ao mundo, como os eventos do 11 de Setembro deixaram claros.
Quero dizer que a guerra contra o terrorismo não pertence apenas aos afegãos. Trata-se de uma guerra que deve ser lutada pelo mundo. Se o Afeganistão perder, a segurança do mundo corre perigo.
Todos possuem uma arma nessa guerra. A minha é a caneta. Essa é a caneta com a qual escrevo para pedir a vocês, escritores do mundo, que sejam a minha caneta. Nossas crianças desabrigadas dormem nas estradas de terra, nossas mulheres dão à luz nas ruas, nossos idosos e idosas não têm como escapar, e morrem nas suas casas ou são assassinados nas ruas, onde se amontoam com milhares de outros refugiados do país. A catástrofe atingiu seu ápice. Estamos nos aproximando de um final doloroso.
Por favor, conversem a respeito dessa tragédia na mídia. Não deixem as mulheres e crianças do Afeganistão a sós.
Não se esqueçam dessa tragédia humana.
Homeira Qaderi
Cabul, Afeganistão”
(Tradução de Antônio Xerxenesky)
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