Listão da Semana,

Natalia Timerman e mais 13 lançamentos

Escritora e psiquiatra narra o luto pela morte do pai entre dores, gargalhadas e a tentativa de resgatar as memórias de seus ancestrais

10ago2023 | Edição #72

O luto, tema de tratados psicanalíticos e filosóficos, chega às livrarias em forma de literatura — e das boas. Em As pequenas chances, a escritora e psiquiatra Natalia Timerman narra a perda do pai, o infectologista Arthur Timerman, que morreu em maio de 2019 em decorrência de um câncer. No romance, a autora de Copo vazio (2021) retrata a dor concreta da morte, das últimas horas e gargalhadas do pai às memórias de seus ancestrais, que tenta resgatar, além de refletir (e nos fazer pensar) sobre a finitude humana. 

Também nesta semana, o filósofo político Michael J. Sandel lança no Brasil sua análise sobre as origens do descontentamento popular que tem ameaçado as democracias; a poeta Ana Martins Marques publica um poema-mapa da ilha de Lesbos; o jornalista Rodrigo Casarin escreve sobre suas experiências de leitura; a psicanalista Alessandra Affortunati reflete sobre a natureza da carne; Djaimilia Pereira de Almeida discute o que é ser uma escritora negra hoje; a best-seller Olivie Blake volta com uma breve história de amor; e o historiador e ativista caribenho C.L.R James narra as revoltas pan-africanas. 

Entre as novidades quentinhas, chegam às livrarias o novo romance da moçambicana Isabela Figueiredo, um ensaio sobre a banda Paralamas do Sucesso, uma edição comemorativa para os cem anos de nascimento de Italo Calvino e mais. Boa semana.

Viva o livro brasileiro!

As pequenas chances. Natalia Timerman.
Todavia • 208 pp • R$ 69,90 / 49,90

Romance sobre a experiência de uma mulher que torna a encontrar o médico que cuidou de seu pai na etapa final de um câncer. A conversa traz à tona as recordações sobre o declínio físico do doente e de seu impacto sobre a vida dos filhos, da esposa e dos netos. À medida que o fim se aproxima, cada situação ganha contornos definitivos: a última viagem, a última gargalhada, a última ida ao teatro.

“Ao narrar a perda de seu pai, Natalia Timerman consegue nos colocar em cena. Identificamos sentimentos e percepções que nem sabíamos que tínhamos. Na leitura, parecem óbvios. São nossos, também. Eu li a primeira parte em um arquivo pdf, com marca d’água do meu nome e sobrenome bem no meio de cada página. Parecia me dizer: Essa é você, amanhã. Ou será que já sou, hoje? Fico me perguntando qual é o início do fim. Tento sentir algum alívio na prospectiva da dor. Ah, então será assim. Pode ser bonito. Dilacerante, também”, escreve Camila Appel em resenha para a Quatro Cinco UmLeia na íntegra.

Leia também: Em romance de estreia, Natalia Timerman atualiza o tema da fragmentação feminina diante do abandono masculino

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O descontentamento da democracia: uma nova abordagem para tempos periculosos. Michael J. Sandel.
Trad. Livia Almeida • Civilização Brasileira • 448 pp • R$ 79,90

O autor de A tirania do mérito: o que aconteceu com o bem comum? (2020) e professor do famoso curso "Justiça", da Universidade Harvard, analisa as razões do ressentimento popular em relação às democracias ocidentais, apontando a maneira como as crenças do mercado corroeram os laços comunitários e a incapacidade dos democratas de reduzir a desigualdade social. Esse sentimento crescente de impotência levou boa parte da população a apoiar líderes populistas que pregavam valores nacionalistas e extremistas. O autor está no Brasil para apresentar suas conferências no Fronteiras do Pensamento — nesta segunda (7), em São Paulo, e na quarta (9), em Porto Alegre.

Leia tambémCientista política mostra como os servidores lograram barrar a destruição da democracia

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De uma a outra ilha. Ana Martins Marques. 
Círculo de Poemas • Posf. Guilherme Gontijo Flores • 40 pp • R$ 40

Longo poema em que a autora de Risque esta palavra, finalista do prêmio Oceanos 2022, desenha um mapa da ilha de Lesbos, no mar Egeu, terra da grande poeta Safo e que, desde 2015, se tornou um lugar de passagem por onde migrantes vindos da Ásia (sírios, iraquianos, afegãos) e da África tentam entrar no continente europeu.

Leia também: Ao atentarem para as dobras da língua em Risque esta palavra, poemas de Ana Martins Marques ganham fôlego inédito

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A biblioteca no fim do túnel: um leitor em seu tempo. Rodrigo Casarin.
Arquipélago • 208 pp • R$ 59,90

O jornalista dedicado a escrever sobre o universo dos livros, editor da coluna "Página Cinco", no UOL, reúne 55 crônicas narrando suas experiências de leitor, como sua luta de 17 anos para concluir a leitura de Cem anos de solidão, de Gárcia Marquez, o lugar especial que o Dom Quixote de Cervantes ocupa em sua vida, a peregrinação pelos sebos em busca de tesouros e sua relação afetiva com o Menino Maluquinho, personagem criado por Ziraldo na década de 80.

Leia tambémEnsaios de Roberto Calasso situam o leitor na rica paisagem mental desenhada pela história pessoal e coletiva da leitura

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Breve história da carne. Alessandra Affortunati Martins.
Iluminuras • 216 pp • R$ 169 

Autora de O sensível e a abstração: três ensaios sobre o Moisés de Freud (2020), a psicanalista recorre a uma constelação de pinturas, esculturas, instalações, fotografias, filmes, poemas, instalações e apontamentos de pensadores como Santo Agostinho, Foucault, Bataille, Freud, Deleuze, Walter Benjamin e Merleau-Ponty para refletir sobre a natureza da carne, entendida não como um objeto inerte ou como alegoria, mas como protagonista da história. 

Leia também: A verdade da carne — Uma leitura literária do volume da História da sexualidade de Foucault

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O que é ser uma escritora negra hoje, de acordo comigo. Djaimilia Pereira de Almeida.
Todavia • 96 pp • R$ 49,90 / 29,90

O livro reúne dois ensaios e um diálogo entre a escritora e colunista da Quatro Cinco nascida em Luanda com a poeta e tradutora brasileira Stephanie Borges. Djaimilia investiga as armadilhas de, como escritora negra, ser vista ora como “o instrumento de uma causa”, ora como “uma moda, uma tendência comercial”. Nesses textos, a autora de A visão das plantas (Todavia) e do romance vencedor do prêmio Oceanos 2019, Luanda, Lisboa, Paraíso (Companhia das Letras), busca entender o lugar das mulheres negras que escrevem hoje. Leia aqui um trecho do livro.

Em texto para a Quatro Cinco Um, a colunista Juliana Borges escreve sobre o livro: “A leitura foi como um ato violento de devoração. E, logo depois de lê-la, fui arrebatada pelo silêncio. O texto me atravessou de forma felina e ferina. Algo assim, desse modo de reverberação por horas e dias, só havia acontecido com Audre Lorde, Paulo Lins e Virginia Woolf. E com Paul Preciado.”. Leia na íntegra.

Leia também: Romance de Djaimilia Pereira de Almeida, ganhadora do Prêmio Oceanos, revela a brutalidade e a delicadeza de um ex-capitão de navio negreiro

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Nós dois sozinhos no éter. Olivie Blake.
Trad. Carlos César da Silva • Intrínseca • 336 pp • R$ 49,90 / 34,90

Neste romance da autora do best-seller A sociedade de Atlas (2022), um homem que controla suas compulsões com um forte apego às regras e à rotina cruza casualmente com uma falsificadora de obras de arte, de personalidade impulsiva e bipolar, em um museu de Chicago. Perturbados pelo encontro, eles decidem voltar a se ver por apenas seis vezes antes de voltarem a se separar.  

Leia também: Na maior mostra de arte do mundo, a estética cede protagonismo às experiências sociopolíticas

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Uma história da revolta pan-africana. C.L.R James.
Trad. Alexandre Boide • Veneta • 176 pp • R$ 64,90

Autor de Os jacobinos negros, o historiador e ativista nascido em Trinidad e Tobago narra neste ensaio (publicado originalmente em 1938 e ampliado em 1969) a história dos levantes e rebeliões contra o imperialismo e o colonialismo em países da diáspora africana, desde a Revolução Haitiana de 1791, passando pela Revolta de Morant Bay na Jamaica em 1865, a resistência zulu na África do Sul e os movimentos de independência na África.

Leia também: Biografia mostra como a personalidade e o caráter de Toussaint Louverture fazem dele um protagonista que vai além da Revolução Haitiana

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Vapt-vupt
+ novidades quentinhas

O garoto do meu pai. Emmanuelle Lambert.
Trad. Adriana Lisboa • Autêntica • 128 pp • R$ 54,90/38,90

Uma filha descreve os últimos dias de vida de seu pai, um idoso hiperativo e brincalhão que luta contra um agressivo câncer no pâncreas.

Um cão no meio do caminho. Isabela Figueiredo.
Todavia • 240 pp • R$ 69,90/44,90

A premiada autora de A gorda (2016) conta a história de dois vizinhos solitários: um homem que vive dos trastes que recolhe do lixo e uma mulher que sofre pela morte acidental de um ex-namorado.

Os Paralamas do sucesso: Selvagem?. Mario Luis Grangeia.
Cobogó • 168 pp • R$ 68

Os bastidores da criação do terceiro álbum dos Paralamas, Selvagem?, de 1986. O autor traça paralelos entre o contexto de redemocratização e a recepção do disco, que vendeu mais de 700 mil cópias.

Todas as cosmicômicas. Italo Calvino.
Trad. Ivo Barroso e Roberta Barni • Companhia das Letras • 368 pp • R$ 129,90

Ilustrado por Marcelo Cipis e com projeto gráfico de Raul Loureiro, o volume reúne dois livros publicados na década de 60 por Calvino, que completa cem anos de nascimento em 2023.

Vou a pé. Bianca Antunes e Luísa Amoroso.
Pistache • 56 pp • R$ 53

O livro mostra a cidade como espaço lúdico a partir do ponto de vista de uma criança de três anos em suas caminhadas de ida e volta à escola.

Era apenas um presente para meu irmão: a barbárie de Queimada. Bruno Ribeiro.
Todavia • 264 pp • R$ 74,90 / 49,90

Baseado em mais de cem entrevistas, o jornalista reconstitui o crime de estupro que tirou a vida de duas mulheres em uma pequena cidade da Paraíba em 2012.

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Quem escreveu esse texto

Iara Biderman

Jornalista, editora da Quatro Cinco Um, está lançando Tantra e a arte de cortar cebolas (34).

Mauricio Puls

É autor de Arquitetura e filosofia (Annablume) e O significado da pintura abstrata (Perspectiva), e editor-assistente da Quatro Cinco Um.

Matéria publicada na edição impressa #72 em julho de 2023.