Listão da Semana,

Leïla Slimani, os rebeldes e marginais de Heloisa Teixeira e mais

Após a experiência de passar uma madrugada em um museu em Veneza, novo livro da escritora franco-marroquina Leïla Slimani reflete sobre eventos que influenciaram sua literatura, arte e vida

15fev2024 | Edição

Os blocos chegaram às ruas e, às livrarias, chegaram obras que vão das reflexões sobre a literatura e a vida (de Leïla Slimani) aos artistas rebeldes e marginais no Brasil dos anos de chumbo (nos ensaios de Heloísa Teixeira), passando pelas memórias ficcionais de um ex-militante que combateu a ditadura, o historiador Daniel Aarão Reis. 

Também na seleção da semana, um romance de Maryse Condé; contos sinistros de Shintaro Kago e um conto de Virginia Woolf; um ensaio sobre as touradas de Ernest Hemingway; a ficção cyberpunk de Michel Nieva; o romance celebrado de Ricardo Guilherme Dicke; e mais novidades quentinhas.

Viva o livro brasileiro!

O perfume das flores à noite. Leïla Slimani.
Trad. Francesca Angiolillo • HarperCollins • 128 pp • R$ 54,90

Em 2019, a escritora franco-marroquina – ganhadora do prêmio Goncourt com Canção de ninar – aceitou um convite para passar uma madrugada no museu Punta della Dogana, em Veneza, para contemplar as obras de arte em meio ao aroma das damas-da-noite e partir pela manhã. Nesse espaço solene, o espaço do novo e do antigo, ela rememora sua vida e os eventos que a definiram como mulher, escritora e filha.

Em entrevista para a revista dos livros, Leïla Slimani diz: “Tudo começa por uma reflexão sobre a literatura: por que decidi consagrar minha vida à escrita? Por que resolvi passar grande parte da existência trancada em um escritório, inventando personagens, me recusando de alguma forma a viver, a sair, me divertir e me impondo essa disciplina? Todos esses temas fazem parte da minha relação com a literatura e o isolamento. Como foi estar presa [no museu] e qual minha ligação com o exterior? Isso levou à minha infância.” Leia na íntegra a entrevista de Leïla Slimani à jornalista Adriana Ferreira Silva, publicada na presente edição da Quatro Cinco Um.

Leia também: Obra da escritora franco-marroquina Leïla Slimani revela os desvãos obscuros dos casais modernos e suas babás perfeitas

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Na corda bamba: memórias ficcionais. Daniel Aarão Reis. 
Record • 476 pp • R$ 79,90

Primeiro livro de contos do professor titular da UFF e ganhador do prêmio Jabuti com a biografia Luís Carlos Prestes: Um Revolucionário entre Dois Mundos (2014). Divididas em três partes (“Ditadura”, “Exílio” e “Retorno”), as narrativas compõem uma espécie de autobiografia ficcionalizada do historiador carioca, que foi um dos dirigentes do MR-8 (Movimento Revolucionário 8 de Outubro), que sequestrou o embaixador norte-americano Charles Burke Elbrick em 1969. As narrativas retratam as experiências vividas por toda uma geração de jovens nas difíceis décadas de 60 e 70.

Leia mais: Em Era uma vez um quintal, neta de Luís Carlos Prestes conta sobre o outro avô, João Massena Melo, desaparecido durante a ditadura militar

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Rebeldes e marginais: cultura nos anos de chumbo (1960-1970). Heloisa Teixeira.
Bazar do Tempo • 288 pp • R$ 78

Autora de Macunaíma, da Literatura ao Cinema (1978) e Explosão Feminista: Arte, Cultura, Política e Universidade (2018), entre outras obras, a professora emérita da UFRJ analisa a produção dos jovens artistas brasileiros nas décadas de 1960 e 1970 (Cinema Novo, Cinema Marginal, Tropicalismo, Teatro Oficina, happenings nas artes plásticas). Teixeira, que no ano passado tomou posse na Academia Brasileira de Letras, foi também protagonista da cena cultural descrita no livro: entre outras coisas, foi uma espécie de patrona da poesia marginal, reunindo em livro poetas como Ana Cristina Cesar e Cacaso, e levou Zé Celso para suas aulas na UFRJ (na época em que policiais vigiavam as faculdades). O livro contém um QR Code com entrevistas que Teixeira fez com José Celso Martinez Corrêa, Antônio Dias, Hamilton Vaz Pereira, Carlos Lyra, Gilberto Gil, Cacá Diegues e outros.

Leia também: No Teatro Oficina e no projeto do Parque do Rio Bixiga, Zé Celso inventou outro modo de fazer cidade

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O fabuloso e triste destino de Ivan e Ivana. Maryse Condé.
Trad. Natalia Borges Polesso • Rosa dos Tempos/Record • 238 pp • R$ 69,90

A escritora guadalupense, autora de  Eu, Tituba: bruxa negra de Salem, narra a história de dois irmãos gêmeos muito parecidos, que vivem em um vilarejo pobre em Guadalupe. Ivana, doce e prestativa, sonha em ser enfermeira ou policial para ajudar as pessoas. Ivan se revolta com a miséria e o racismo.Os dois viajam para a África, onde mora o pai, e lá suas vidas se transformam.

Leia também: Romance de Simone Schwarz-Bart passado em Guadalupe traz história de amor entre avó e neta

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Pedacinhos. Shintaro Kago.
Trad. Luiz Claudio Bodanese • Darkside • 224 pp • R$ 69,90

Coletânea com cinco contos do escritor japonês, que em 2010 conquistou o prêmio Baka-misu com a história que dá título ao livro. Em Pedacinhos, uma série de assassinatos de mulheres (cujos corpos são deixados divididos ao meio) aterroriza os moradores de Tóquio, suscitando uma investigação cheia de eventos sinistros, que se entrelaçam com uma narrativa metalinguística, em que o autor do mangá, enfrentando uma crise criativa, analisa os truques empregados nas histórias de suspense de Agatha Christie e Dario Argento.

Leia também: O primeiro mangá de Shintaro Kago publicado no Brasil traz mescla de erotismo, grotesco e escatologia do gênero ero-guro

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A apresentação. Virginia Woolf.
Trad. Ana Carolina Mesquita • Nós • 40 pp • R$ 46

Um conto sobre as atribulações da jovem Lily Everit durante uma festa. Muito insegura, ela fica apavorada quando Mrs. Dalloway vai até ela e insiste em apresentá-la a um cavalheiro de comportamento duvidoso. Compelida a atender às expectativas do público desse evento social, a jovem se atrapalha e se perde em seus próprios pensamentos.

Leia também: Ana Martins Marques, Anne Carson e Virginia Woolf partem da fluidez dos gêneros em poesia e prosa reflexivas e provocadoras

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Morte ao entardecer. Ernest Hemingway.
Trad. Irinêo Baptista Netto • Bertrand Brasil • 350 pp • R$ 99,90

Publicado em 1932, após O Sol também se levanta (1926), e inédito no Brasil, o livro é um estudo antropológico sobre as touradas, que para ele constituíam a única forma de arte em que o homem encarava a morte de frente: “Penso que moralmente, do ponto de vista moderno, isto é, do ponto de vista cristão, a tourada em si seja indefensável; sem dúvida, há muita crueldade, sempre há perigo, seja ele previsto ou imprevisto, e sempre há sacrifício, e não vou tentar defendê-la agora, apenas contar honestamente o que eu penso de verdade sobre ela.” Seu fascínio por esses espetáculos (ele acompanhou umas 250 touradas) se estendia, em maior ou menor grau, a vários outros artistas e pensadores (Goya, Manet, Picasso, Dalí, García Lorca, Michel Leiris, Ortega y Gasset, João Cabral de Melo Neto).

Leia também: Publicado na década de 1930, O touro Ferdinando, livro sobre o touro escolhido para as touradas de Madri que gostava de flores foi vetado por Hitler e Franco

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Dengue boy: a infância do mundo. Michel Nieva.
Trad. Joca Reiners Terron • Amarcord • 208 pp • R$ 69,90

O escritor portenho desenha o futuro da humanidade no ano de 2272, quando a crise climática atinge o ponto culminante. Nesta ficção científica "cyberpunk", as zonas polares derreteram por completo, a temperatura média global é de 90°C e cidades como Nova York e Buenos Aires ficaram submersas. No extremo sul do continente, os Arquipélagos Patagônicos formam o Caribe Pampiano: de um lado, um balneário com belíssimas praias artificiais; de outro, uma miserável e tépida orla. É nesse cenário devastado que cresce o dengue boy, uma criança que não possui mãos e é alvo de zombarias na escola. 

Leia também: No podcast 451 MHz, o historiador Hilário Franco Júnior e a escritora Luisa Geisler conversam se ainda há espaço para sociedades utópicas na atualidade

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Madona dos Páramos. Ricardo Guilherme Dicke.
Record • 518 pp • R$ 59,90

Publicado originalmente em 1982, o romance – objeto de muitas teses de doutorado – conta a história de foragidos da Justiça que partem em busca de uma terra prometida nos sertões do Centro-Oeste. Esse sertão peculiar de Dicke (nascido na Chapada dos Guimarães) é a terra da Figueira-Mãe, um paraíso no qual não existem preconceitos e onde reinam o bem-estar e a justiça. Em uma das ações do bando eles sequestram uma mulher, a moça sem nome, arrebatada de sua família à força, que se torna objeto do desejo geral. 

Leia também: Mostrando tragédia da seca, trabalho escravo e concentração de terras, Os sertões ainda reflete o Brasil atual

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Vapt-vupt
+ novidades quentinhas

Guerra e política em psicanálise. Joel Birman.
Civilização Brasileira • 160 pp • R$ 59,90

Professor titular da UFRJ reconstitui os argumentos de Freud para explicar por que razão sociedades supostamente “evoluídas” promoveram um banho de sangue na Primeira Guerra Mundial e o que levou as massas populares a aceitar com tanta facilidade essas atrocidades.

Cartografias dos encontros: literatura, silêncio e mediação. Cecilia Bajour.
Trad. Cícero Oliveira • Selo Emília/Solisluna • 184 pp • R$ 55

Autora de Ouvir nas entrelinhas (Pulo do Gato, 2012), a crítica literária argentina, especialista em livros para crianças e jovens, reflete sobre os desafios dos mediadores de leitura e a importância dos silêncios e do não dito na construção do sentido.

O suicídio: estudo de sociologia. Émile Durkheim.
Trad. Marco Antonio Casanova • Martin Claret • 400 pp • R$ 109,90

Lançado em 1897, este clássico da sociologia mostrou que mesmo um ato atribuído ao arbítrio pessoal tinha causas sociais. Seu uso da análise estatística para revelar a importância da religião e do gênero na predisposição suicida abriram novos caminhos para as ciências sociais.

Corpo, escuta e escrita: pistas para ativar múltiplas linguagens em saúde. Liliane Oraggio.
Summus • 200 pp • R$ 85,90

Inspirada na psicologia formativa de Stanley Keleman, a terapeuta expõe práticas corporais que ajudam os profissionais da saúde a entender melhor seus próprios sentimentos e a melhorar a qualidade de sua comunicação com os pacientes e seus familiares.

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Listão da Semana: confira os lançamentos de semanas anteriores

Quem escreveu esse texto

Iara Biderman

Jornalista, , editora da Quatro Cinco Um, está lançando Tantra e a arte de cortar cebolas (34)

Mauricio Puls

É autor de Arquitetura e filosofia (Annablume) e O significado da pintura abstrata (Perspectiva), e editor-assistente da Quatro Cinco Um.

Matéria publicada na edição impressa em .