Listão da Semana,

Betina González; a autodefesa de Abdias Nascimento; ‘Nostalgias canibais’ de Odorico Leal e mais 16 lançamentos

Convidada d'A Feira do Livro 2024, a argentina Betina González questiona os caminhos para escritoras serem reconhecidas

24maio2024 - 18h54

Para a mulher, só a genialidade permite o seu reconhecimento como escritora? Essa é uma das questões que a argentina Betina González coloca em A obrigação de ser genial, que chega esta semana às livrarias. E essa e outras perguntas poderão ser feitas em breve para a própria autora, nome confirmado d’A Feira do Livro 2024, que acontece de 29 de junho a 7 de julho na praça Charles Miller, em São Paulo.

Também na seleção de semana, um manual de colapsologia para leigos, dos franceses Raphaël Stevens e Pablo Servigne; a estreia na ficção de Odorico Leal, também convidado d’A Feira do Livro; a perseguição sofrida por Abdias Nascimento na época da ditadura; um épico histórico do Nobel Orhan Pamuk; um ensaio sobre a cultura do cancelamento, de Pedro Tourinho; o poema que Amanda Gorman recitou na posse de Joe Biden; o romance vencedor do Gouncourt, de Jean-Baptiste Andrea; a luta de um casal assassinado por defender a Amazônia; histórias assustadoras de Hirokatsu Kihara; e mais novidades quentinhas.

Viva o livro brasileiro!

Veja os lançamentos de semanas anteriores.


A obrigação de ser genial. Betina González.
Trad. Silvia Massimini Felix • Pref. Andrea del Fuego • Bazar do Tempo • 240 pp • R$ 74

Primeira mulher a ganhar o Premio Tusquets de Novela, em 2012, por Las poseídas, e vencedora do Premio Clarín por Arte menor (2006), a a escritora argentina, convidada para A Feira do Livro 2024, reúne ensaios inspirados pelas oficinas de escrita que ministra, explorando temas como o lugar de genialidade em que são colocadas determinadas autoras, separando-as da produção de suas pares, e a diferença entre sentimento e sentimentalismo, rótulo muitas vezes colocado na literatura de mulheres.

“González, como a maioria das escritoras, demorou a se reconhecer como tal e comenta que elas, em geral, são separadas em duas categorias: a do duplo padrão e a da anomalia. A primeira diz respeito às mulheres serem relegadas a esferas particulares, como a ‘literatura feminina’ , uma vez que seus escritos não teriam nada a contribuir com a condição humana — é o fenômeno da ‘guetização’, que recai não só sobre a escrita feita por mulheres, mas por qualquer grupo que esteja fora do padrão do homem-cis-hétero-branco, tido como o universal. A segunda vê a obra de determinada autora como uma exceção à regra, no sentido de não parecer uma literatura feita por uma mulher, podendo ser considerada ‘excêntrica, anômala, ‘não feminina’ e, portanto, interessante’”, escreve Paula Carvalho em resenha para a Quatro Cinco Um. Leia o texto na íntegra.

Leia maisMais treze autores são confirmados n’A Feira do Livro — Adelaide Ivánova, Christian Dunker, Lilia Guerra e Marcelo Rubens Paiva estão em nova leva de nomes do festival literário, que começa em 29 de junho

Assinantes da Quatro Cinco Um têm 20% de desconto no site da Bazar do TempoConheça o nosso clube de benefícios, que dá descontos em livros, eventos e mais.


Como tudo pode desmoronar: pequeno manual de colapsologia para uso das gerações presentes. Raphaël Stevens e Pablo Servigne.
Trad. e apres. Newton Cunha • Perspectiva • 256 pp • R$ 89,90

Os autores discutem o provável colapso do planeta e se algo ainda pode ser feito, com “um vocabulário que vem principalmente da economia, mas também de outras disciplinas — como os estudos de sistemas complexos e não lineares — para descrever os diversos pontos frágeis que sustentam nossa sociedade global industrializada, apresentando diferentes modelos possíveis para sua futura autodestruição”, escreve Vinícius Portella em resenha para a Quatro Cinco Um, na qual também questiona o tom vago e apolítico dos autores franceses. Leia o texto na íntegra. 


Nostalgias canibais. Odorico Leal.
Âyiné • 110 pp • R$ 79,90

Depois de traduzir nomes importantes da literatura contemporânea, o piauiense, doutor em literatura brasileira, estreia na ficção. A coletânea traz novelas e contos que vão de uma releitura de Macunaíma — em que este é canibal e atravessa os séculos, deixando-se levar pelo espírito de cada época — à história de dois gatos que criticam sua dona e especulam sobre o futuro. Leal é um dos autores que estarão n’A Feira do Livro 2024. 

Leia mais: Acompanhado de vozes de Macunaíma, romance imagina o autor paulista assumindo sua homossexualidade

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Sitiado em Lagos: autodefesa de um negro acossado pelo racismo. Abdias Nascimento.
Apres. Elisa Larkin Nascimento • Prefs. Molefi Kete Asante e Dom José Maria Pires • Posf. Carlos Moore • Perspectiva • 144 pp • R$ 49,90

O professor e artista plástico, autor de O genocídio do negro brasileiro, descreve a guerra declarada contra si pelo governo brasileiro após participar de um colóquio sobre o legado da colonização no Festac 77, festival que celebrava a cultura africana e afrodescendente, em Lagos, Nigéria. Ele narra a pressão diplomática e as calúnias feitas pelo Itamaraty e membros da política e imprensa nigeriana na tentativa de impedi-lo de denunciar a censura, violência e racismo vivenciados pela população negra no Brasil durante a ditadura cívico-militar no Brasil. A apresentação é de Elisa Larkin Nascimento, viúva de Abdias e diretora do Ipeafro (Instituto de Pesquisas e Estudos Afro-Brasileiros)

Leia também: Livro aborda trajetória política de Abdias Nascimento enquanto sua obra artística é exposta em museus


Noites de peste. Orhan Pamuk.
Trad. Débora Landsberg • Companhia das Letras • 672 pp • R$ 169,90

O escritor turco, Nobel de Literatura, constrói um épico histórico com toques de romance policial e paralelos com a realidade recente, ambientado na ilha fictícia de Mingheira, entre Creta e Chipre, há mais de cem anos, durante o domínio do Império Otomano. Em meio a uma pandemia que faz novas vítimas todos os dias, os povos, metade muçulmanos e metade gregos ortodoxos, devem trabalhar juntos para encontrar formas de derrotar a praga — e investigar um assassinato misterioso.

Leia também: Elif Shafak questiona a utilidade do sofrimento em romance intimamente político sobre a divisão do Chipre

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Ensaio sobre o cancelamento. Pedro Tourinho.
Planeta • 144 pp • R$ 46,90

O comunicador baiano explora as origens do cancelamento na internet, desde suas características básicas (acusar, envergonhar, questionar e levar alguém à exclusão social após atitudes ou falas consideradas problemáticas ou erradas) até as consequências para o “cancelado” e a vida depois do fenômeno. Partindo de conceitos históricos, o autor reflete sobre a existência de dinâmicas sociais parecidas em sociedades antigas.

Leia também: Razões do cancelamento — Na dinâmica de quem cancela e é cancelado é leviano desconsiderar a hierarquia das forças


O monte que escalamos. Amanda Gorman.
Trad. Stephanie Borges • Pref. Oprah Winfrey • Intrínseca • 32 pp • R$ 39,90

Reproduz o poema recitado em 2021, quando a jovem poeta e ativista estadunidense chamou a atenção do mundo com sua performance durante a posse do presidente Joe Biden. O poema da “garota negra magricela” — que falava sobre intempéries e esperança, união e propósito — ganha agora versão em português. 

Leia também: O poeta Jericho Brown sonha futuros ainda melhores do que os sonhados pelos nossos ancestrais


Velar por ela. Jean-Baptiste Andrea.
Trad. Julia da Rosa Simões • Vestígio • 416 pp • R$ 79,80

Do escritor e cineasta francês, autor de O pianista da estação, este romance vencedor do Prêmio Goncourt 2023 explora a relação amorosa entre dois jovens nascidos em condições sociais opostas. Ambientada na Itália durante a ascensão do fascismo, a história acompanha a jornada de Mimo enquanto se torna um artista de prestígio e a tentativa de Viola de ser uma mulher independente — e os encontros turbulentos que os cercam ao longo dos anos.

Leia também: Diário dos irmãos Edmond e Jules Goncourt evoca o ambiente cultural e social em que nasceu o mais importante prêmio literário francês

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Lutar com a floresta: uma ecologia política do martírio em defesa da Amazônia. Felipe Milanez.
Elefante • 304 pp • R$ 70

O jornalista e sociólogo apresenta a luta de Zé Cláudio e Maria, assassinados em 2011 no Pará por defenderem a reserva agroextrativista em que viviam do interesse de madeireiros, pecuaristas, carvoeiros e outros atores que se apropriam das terras e desmatam para lucrar.

Ouça também: A antropóloga Aparecida Vilaça e o engenheiro florestal Tasso Azevedo falam sobre o cenário trágico da Amazônia em episódio do 451 MHz, o podcast da revista dos livros


Angústia. Hirikatsu Kihara.
Ils. Junji Ito • JBC • 120 pp • R$ 49,90

Ilustradas por Junji Ito, um dos maiores nomes do mangá de horror atual, as dez histórias apresentadas no livro poderiam ser cenas comuns do cotidiano japonês, mas se tornam assustadoras quando acontecimentos misteriosos revelam espíritos e maldições. O volume é composto por nove contos ilustrados e uma história em formato de mangá.

Leia também: Um milênio de mangá — Livro com mais de quatrocentas ilustrações e vasta pesquisa narra a linha do tempo das histórias em quadrinhos japonesas

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+ novidades quentinhas

Poemas de amor no divã. Alexandre Patrício de Almeida e Liana Ferraz. 
OPaidós • 224 pp • R$ 59,90
Com referências a Freud, Lacan, Donald Winnicott e Melanie Klein, une poesia e psicanálise para narrar as experiências e crises existenciais de uma personagem.

Uma hora de fervor. Muriel Barbery.
Trad. Rosa Freire d’Aguiar. Companhia das Letras • 224 pp • R$ 64,90
Da autora de A elegância do ouriço (2008), o romance descreve o enlace entre o japonês Haru Ueno e a francesa Maud, e a tentativa de um pai de se conectar, por meio dos amigos, à uma filha.

Tá todo mundo tentando: histórias para ler na cidade. Gaía Passarelli.
Companhia Editora Nacional • 184 pp • R$ 69,90
Na seleção de crônicas originalmente publicadas na newsletter homônima, lançada em 2021, a jornalista e escritora alterna entre divagações, viagens e reflexões sobre viver na metrópole. Cada seção se encerra com uma história ficcional inédita.

O primeiro passo. Bethanie Deeney Murguia.
Trad. Alexandre Cataldi • Editora 34 • 36 pp • R$ 49
Primeiro livro da ilustradora estadunidense publicado no Brasil. A autora explora o que acontece quando se dá um passo — não importa a direção nem a finalidade.

O lenço de cetim da mamãe. Chimamanda Ngozi Adichie.
Ils. Joelle Avelino • Trad. Nina Rizzi • Companhia das Letrinhas • 32 pp • R$ 59,90
A estreia na literatura infantil da autora de Hibisco roxo (2011) e Sejamos todos feministas (2015) faz uma ode aos pequenos tesouros do dia-a-dia e à construção de memórias de uma vida em família.

A ilha. Ragnar Jónasson.
Trad. Isabela Figueira • Rua do Sabão • 320 pp • R$ 60
Na continuação do romance policial noir A escuridão, o escritor islandês retoma a detetive-inspetora Hulda Hermannsdóttir, que investiga as ligações entre um crime não solucionado no passado e uma morte suspeita no presente envolvendo o mesmo grupo de amigos.

Mais sombrio. Stephen King.
Trad. Regiane Winarski • Suma • 528 pp • R$ 89,90
Nesta coletânea de doze contos ― com cinco deles nunca antes publicados, como “Cascavéis”, sequência do romance Cujo ―, o autor de O iluminado e It: A coisa constrói histórias sobre o destino, o luto e o sobrenatural na vida cotidiana.

A conferência dos pássaros. René Duarte.
Peabiru • 97 pp • R$ 49
No primeiro volume de uma trilogia, o escritor e historiador retoma o poema homônimo do persa Farid ud-Din Attar sobre a migração de pássaros em busca de um líder, enquanto narra histórias sobre política, diversidade e identidade latino-americana.

Tudo bem ficar com raiva do capitalismo. Bernie Sanders e John Nichols.
 Trad. Pedro Maia Soares • Companhia das Letras • 360 pp • R$ 89,90
O senador estadunidense relembra os bastidores de suas duas campanhas presidenciais e faz sua defesa de que o capitalismo deveria acabar, apontando as consequências do sistema para a nova geração.

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Listão da Semana: confira os lançamentos de semanas anteriore

Quem escreveu esse texto

Iara Biderman

Jornalista, , editora da Quatro Cinco Um, está lançando Tantra e a arte de cortar cebolas (34)

Jaqueline Silva

É estudante de Jornalismo na ECA-USP e estagiária editorial na Quatro Cinco Um.