Flip,
Quatro Cinco Um lança a Granta em Língua Portuguesa #3 durante a Flip
Evento de lançamento aconteceu no Centro Histórico de Paraty com conversa sobre o futuro, tema da nova edição da revista
13jul2019Frequentemente pensada em um contexto distópico, de ficção científica, a literatura futurista ganha contornos frescos na nova edição da Granta em Língua Portuguesa, que traz o tema Futuro. A revista foi lançada pela Quatro Cinco Um e pela editora Tinta da China durante a Flip, na Livraria das Marés, no centro histórico de Paraty, nesta sábado (13).
O evento contou com uma conversa entre Gustavo Pacheco, coeditor da Granta em Língua Portuguesa (juntamente com Pedro Mexia, baseado em Portugal) e Julia Wahmann, escritora que assina o conto “Lua em Vertigem” na edição #3, mediada por Paulo Werneck, editor da Quatro Cinco Um.
“Ao pensar em futuro, automaticamente pensamos em algo grandioso, em previsões globais. Fiz uma tentativa de entender para onde o mundo vai, se a gente vai realmente derreter ou não, mas, em geral, minha escrita é o oposto disso. É mais intimista, de narrativas do dia a dia”, contou Wahmann, cujo texto narra, entre outras coisas, uma consulta a um tarólogo. “Parti dessa curiosidade que a gente tem do que vai acontecer na nossa vida, se vamos casar, ganhar na loteria ou mudar de país”
“Nenhum dos autores brasileiros escreveu um texto de ficção científica propriamente. A graça não é bem essa. É dar a oportunidade de pessoas tratarem o tema de forma completamente diferente. Quando você pensa no futuro, pensa necessariamente em nave espacial, em distopia. Por quê?”, questionou Pacheco.
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Os brasileiros tampouco tiveram um tom otimista. No prefácio da Granta em Língua Portuguesa #3, ele escreve: “todos os textos brasileiros desta edição carregam em si certa aura de incômodo e de desencanto”. Segundo ele, os textos dos brasileiros tampouco tiveram tom otimista, “mas faz parte do espírito da época”.
“Nas últimas décadas, o Brasil não andava com a rapidez que a gente desejava, mas estava indo numa direção. Devagar e sempre. Até outro dia… agora, foi-se essa ideia de futuro”, disse o editor. Para ele, quem não viveu os anos 80 e o fim da ditadura talvez não tenha a mesma visão de futuro, mas, de qualquer modo, ela acabou — e é justamente esse zeitgeist que a nova edição da revista reflete.
Chamado para assumir a codireção da publicação no ano passado, Pacheco — que é colaborador da Quatro Cinco Um — falou também sobre seu papel como editor. “Não sei se para os autores é bom mas, para mim, a parte boa é dar o retorno aos escritores. Gostaria de que tivessem feito isso comigo quando eu estava começando. Agora que me deram a bazuca, vou usar!”, disse, observando que não é todo escritor que está aberto a esse diálogo. “Tem gente que acha uma intromissão. Mas, até agora, todos a quem propus isso toparam. Fizemos umas cinco versões, não é, Julia?”, indagou a Wahmann, que prontamente respondeu, entre risos: “Sete!”.
Ricardo Domeneck, Claudia Jaguaribe, Joca Reiners Terron a Antônio Xerxenesky são alguns dos escritores que também assinam artigos na revista #3. Fundada na Inglaterra em 1889 por estudantes da Universidade de Cambridge como um periódico de política, humor e iniciativa literária estudantil, a Granta original publicou, entre outros, os primeiros trabalhos de Sylvia Plath e de Ted Hughes. Hoje, conta com edições em doze países: Brasil, Bulgária, China, Espanha, Finlândia, Israel, Itália, Japão, Noruega, Portugal, Suécia e Turquia.