Festival literário,
Flip da Pagu (e das mulheres) aposta em pontes
Edição de 2023 da festa literária de Paraty coloca autoras brasileiras e estrangeiras em diálogo; veja a programação
15nov2023 | Edição #75A 21ª Festa Literária Internacional de Paraty, que começa na próxima quarta (22) e vai até domingo (26), não tem como principal chamariz uma grande estrela estrangeira, mas promete ser marcante pelo predomínio de convidadas. Dos 44 autores desta Flip — que terá almanaque, cobertura e uma programação paralela especial com curadoria da Quatro Cinco Um —, 32 são mulheres.
A presença feminina tem um significado inequívoco num ano em que a festa homenageia Patrícia Rehder Galvão (1910-62), a Pagu, escritora, jornalista, tradutora, militante política e feminista e uma das principais vozes da cena cultural brasileira no século 20.
As mulheres também sobressaem em meio ao grande número de poetas (doze ao todo) que integram a programação principal. Essa lista inclui tanto autoras brasileiras, como Angélica Freitas, Bruna Beber, Lubi Prates, Luiza Romão, Maria Dolores Rodriguez, Marília Garcia, Tatiana Pequeno e Eliane Marques, quanto poetas estrangeiras, caso de Dionne Brand (nascida em Trinidad e Tobago e radicada no Canadá) e Laura Wittner (Argentina). De fora do Brasil, a Flip ainda tem como destaques Akwaeke Emezi (Nigéria), Alana S. Portero (Espanha), Christina Sharpe (Estados Unidos), Colombe Schneck (França), Mónica Ojeda (Equador) e Nora Krug (Alemanha).
Alguns desses nomes vêm se tornando mais conhecidos no cenário internacional, como Emezi, Schneck e Ojeda, e espelham bem o espírito da festa literária em 2023: são mais familiares em círculos de especialistas ou em “bolhas”, como definiu a professora de literatura da UFBA Milena Britto, que divide a curadoria desta edição com a editora Fernanda Bastos. Devem soar, portanto, como novidades para o público em geral, o que pode ser uma boa notícia para leitores ávidos por conhecer novas vozes.
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Entre os autores mais conhecidos desta edição estão alguns brasileiros: Itamar Vieira Junior, que deve concluir em breve sua trilogia sobre o legado colonial no Brasil dos invisibilizados, da qual já fazem parte Torto arado (2019) e Salvar o fogo (2023), ambos pela Todavia; Natalia Timerman, autora do romance Copo vazio (2021) e que chega à Flip com seu novo livro, As pequenas chances, também pela Todavia; José Henrique Bortoluci, que estreou na literatura com O que é meu, lançado pela Fósforo e entre os mais vendidos do ano; e Manuela d’Ávila, escritora e jornalista, mais conhecida por sua carreira política.
Conexões internacionais
Nesta edição, a curadoria incentiva diálogos entre convidados brasileiros e estrangeiros (dezesseis ao todo). Das vinte mesas da programação principal, três têm apenas autores de fora do Brasil e seis têm só brasileiros.
A mescla cultural começa já na mesa de abertura, na quarta-feira (22). O pesquisador americano David Jackson, grande especialista na vida e obra de Pagu, conversa com a autora Adriana Armony, do romance Pagu no metrô (Nós, 2022), sobre o legado da autora homenageada da Flip.
As dobradinhas explorando conexões literárias entre brasileiros e estrangeiros prosseguem na quinta-feira (23), quando o moçambicano Manuel Mutimucuio, de Moçambique com z de zarolho (Dublinense, 2023), fala com Tatiana Pequeno sobre encontros e desencontros proporcionados pela língua. No mesmo dia, Dionne Brand e Angélica Freitas debatem a força do olhar feminino na poesia contemporânea. E a escritora irlandesa Sinéad Gleeson conversa com Timerman sobre intimidade e relações pessoais no ensaísmo e na ficção.
Na sexta-feira (24), é a vez do escritor cubano Marcial Gala, de Me chama de Cassandra (Biblioteca Azul, 2023), conversar com a poeta Luiza Romão, de Também guardamos pedras aqui (lançado pela Nós e vencedor do Prêmio Jabuti de 2022), sobre suas releituras de mitos gregos. E do encontro entre o autor ucraniano Ilya Kaminsky, de República surda (Companhia das Letras, 2023), Bruna Beber e o poeta Jorge Augusto, do recém-lançado O mapa de casa (Círculo de Poemas).
Festa Literária Internacional de Paraty [Reprodução]
Outras mesas reunirão Emezi e a pesquisadora Carla Akotirene, que vão compartilhar suas perspectivas sobre pertencimento e o diálogo com tradições afrodiaspóricas; a alemã Krug e Bortoluci, que falam sobre suas narrativas escritas a partir do reencontro com suas raízes familiares; e as pensadoras da cultura negra Leda Maria Martins e Christina Sharpe, que cruzam suas reflexões sobre o tempo e mudanças históricas.
Os encontros que não reúnem brasileiros com autores de outros países também devem ser marcantes. Entre eles, a mesa dedicada à discussão sobre a influência e importância de Augusto de Campos, artista em destaque desta edição, com os poetas André Vallias e Ricardo Aleixo e a tradutora Simone Homem de Mello. O bate-papo com Kelefa Sanneh, crítico musical da revista The New Yorker, sobre a relação entre música, afetos e memórias. E a conversa entre a francesa Schneck, autora de Dezessete anos (Relicário, 2023), e a britânica nascida na ilha de Trinidad Monique Roffey, que está lançando A sereia de concha negra (DarkSide), sobre memórias, história e conflitos sociais.
Programação Flip 2023
22 a 26 de novembro, em Paraty (RJ)
Quarta, 22 de novembro
Mesa 1 (19h)
A mulher do povo, com David Jackson e Adriana Armony.
Mediação: Eneida Leal Cunha
Quinta, dia 23
Mesa 2 (10h)
Um teatro, um precipício, com Flora Süssekind e Marion Aubert.
Mediação: Natalia Brizuela
Mesa 3 (12h)
Já não agia por minha conta, com Socorro Acioli, Felipe Charbel e Leda Cartum.
Mediação: Rita Palmeira
Mesa 4 (15h)
Um quarto meio escuro, com Mónica Ojeda e Alana Portero.
Mediação: Stephanie Borges
Mesa 5 (17h)
Digamos que seja a lua nova, com Manuel Mutimucuio e Tatiana Pequeno.
Mediação: Nanni Rios
Mesa 6 (19h)
Às suas nebulosidades, com Dionne Brand e Angélica Freitas.
Mediação: Jamille Pinheiro Dias
Mesa 7 (20h45)
Lembranças de todas as coisas ocorridas, com Sinéad Gleeson e Natalia Timerman.
Mediação: Rita Palmeira
Sexta, 24 de novembro
Mesa 8 (10h)
Uma prisão mortal, com Joice Berth, Denise Carrascosa e Manuela D’Ávila. Mediação: Adriana Ferreira Silva
Mesa 9 (12h)
Bate ainda o coração da cidade devastada, com Marcial Gala e Luiza Romão.
Mediação: Pedro Meira Monteiro
Mesa 10 (15h)
Terra de fumaça descoberta pela guerra de nossos dias, com Ilya Kaminsky, Bruna Beber e Jorge Augusto.
Mediação: Patrícia Lino
Mesa 11 (17h)
Contra a mentalidade decadente, com Akwaeke Emezi e Carla Akotirene.
Mediação: Maria Carolina Casati
Mesa 12 (19h)
As suas nervuras, com Laura Wittner, Eliane Marques e Lubi Prates.
Mediação: Patrícia Lino
Mesa 13 (20h45)
Venha com um nome de família, com Nora Krug e José Henrique Bortoluci.
Mediação: Gabriela Mayer
Sábado, 25 de novembro
Mesa 14 (10h)
Alguém telegrafa para o mundo pedindo atenção, com Gustavo Caboco, Marília Garcia e Maria Dolores Rodriguez.
Mediação: Natalia Brizuela
Mesa 15 (12h)
Sou um canal (Artista em destaque: Augusto de Campos), com André Vallias, Ricardo Aleixo e Simone Homem de Mello.
Mediação: Marina Wisnik
Mesa 16 (15h)
O meu primeiro amor que acabou com o segundo, com Kelefa Sanneh.
Mediação: Adriana Couto
Mesa 17 (17h)
Os passarinhos se escondem dos homens, com Monique Roffey e Colombe Schneck.
Mediação: Anabela Mota Ribeiro
Mesa 18 (19h)
Vocês servirão de lenha para a fogueira transformadora, com Christina Sharpe e Leda Maria Martins.
Mediação: Jamille Pinheiro Dias
Domingo, 26 de novembro
Mesa 19 (10h)
Só então pude falar (Zé Kleber), com Itamar Vieira Jr., Miriam Esposito e Glicéria Tupinambá.
Mediação: Adriana Ferreira Silva
Mesa 20 (12h)
Livro de cabeceira (autoras e autores do programa principal leem trechos de suas obras preferidas)
Matéria publicada na edição impressa #75 em outubro de 2023.
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