A cobertura especial d’A Feira do Livro, que acontece de 14 a 22 de junho, é apresentada pelo Ministério da Cultura e pela Petrobras
MINISTÉRIO DA CULTURA E PETROBRAS APRESENTAM

A FEIRA DO LIVRO 2025, Editora 451,
De Cazuza à inteligência artificial: os encontros do feriado nos Tablados Literários
Programação paralela d’A Feira do Livro também teve, na quinta (19), debates sobre a arquitetura, direitos da população LGBTQIA+ e oficinas de desenhos para crianças
20jun2025O feriado de Corpus Christi, nesta quinta-feira (19), começou com sol e diversas atividades na programação paralela d’A Feira do Livro que acontece nos Tablados Literários. Da poesia de Cazuza à literatura feita com inteligência artificial, passando pela literatura infantojuvenil, oficina de desenho, debates sobre o Nordeste, arquitetura, narrativas indígenas e disputas em torno do prazer e do corpo, os encontros movimentaram os tablados.
No Espaço Motiva Tablado Literário, a largada da programação foi um bate-papo com a roteirista e escritora Bia Crespo sobre romances dignos de cinema. “Eu venho do audiovisual, que é muito coletivo. Fui para a literatura justamente para contar as histórias que não consegui convencer as pessoas a contarem no audiovisual”, disse, arrancando risos da plateia.
Ela também refletiu sobre o desafio de fazer literatura para uma geração acostumada a consumir vídeos curtos nas redes sociais. “Percebo uma tendência: como resposta aos vídeos rápidos, as pessoas estão buscando se engajar em conteúdos mais longos, como os livros.”
Já na mesa Computador, meu amor, no Tablado Literário das Bancadas, a conversa foi sobre a tecnologia como aliada. Ian Uviedo falou sobre Computer Love (Lote 42, 2022), escrito a quatro mãos com inteligência artificial, enquanto Susy Freitas comentou o clima distópico de seu Madnaus (Reformatório, 2024), gestado na segunda onda de Covid‑19 em Manaus. A mediação foi de Paula Alzugaray, editora da revista Celeste.
Música e poesia
Mais Lidas
A mesa Cazuza: da poesia ao palco trouxe o poeta e escritor Ramon Nunes Mello para falar, no Espaço Motiva, de Cazuza: meu lance é poesia, que reúne todos os poemas escritos pelo cantor, e Cazuza: protegi teu nome por amor, fotobiografia com mais de setecentas imagens feita com Lucinha Araújo, mãe de cantor — ambos os livros saíram em 2024, pela WMF Martins Fontes.
Os poemas também estiveram presentes na programação do Tablado Literário das Bancadas, onde o poeta Aramyz participou, ao lado do professor de filosofia Alan dos Santos, da mesa A poesia e resistência. “Escrever veio de uma necessidade minha de gritar”, disse o semifinalista do Jabuti em 2024.
Do Nordeste ao Norte
Com plateia lotada, o escritor Octávio Santiago, que já tinha participado d’A Feira na segunda (16), falou no Espaço Motiva Tablado Literário sobre seu Só sei que foi assim: a trama do preconceito contra o povo do Nordeste (Autêntica, 2025). Ele comentou estereótipos e falsos elogios que já ouviu, como “você não tem cara de nordestino” e “você é muito competente, apesar de ser do Nordeste”.
No meio da tarde, na mesa Lina Bo Bardi: arquitetura para todos, Marcelo Ferraz, Isabel Diegues e Marcelo Suzuki falaram sobre Lina por Aldo (Cobogó, 2024), que traz fotografias tiradas por Aldo van Eyck em viagem ao Brasil para visitar as obras de Bo Bardi. “O livro partiu da ideia de tentar entender o que será que havia em Lina que fez Aldo ficar tão obcecado por ela”, disse Diegues.
Já no Tablado Literário Espaço Motiva, o público que lotou o espaço para a mesa Crimes reais, causos literários: adaptações e fronteiras do romance policial, com Edyr Augusto, Xico Sá e mediação de Bárbara Krauss, pôde fazer uma viagem pela ficção policial do autor paraense, que se passa sobretudo em Belém. Eles falaram especialmente de Pssica (Boitempo, 2015), romance de Augusto que em breve estreia como série na Netflix. Xico Sá destacou a velocidade do texto do escritor, que explicou: “A ideia é que a cada capítulo você não consiga desligar e termine ofegante. Uma leitura que te provoque impulsos e emoções”.
Memória e cultura oral
O apagamento de narrativas contadas por mulheres movimentou a mesa Memórias, diários e escrita de si, que reuniu as escritoras Ana Kiffer e Ingrid Fagundez no Tablado Literário Mário de Andrade. “Narrar a si hoje é narrar o outro também. Não há cura através da literatura, mas sim uma restituição, colocar algo que antes não era possível estar ali”, afirmou Kiffer.
No mesmo tablado, a programação teve um bate-papo animado envolvendo memória e acessibilidade. O livro Um menino chamado Vlado (Autêntica e Instituto Vladimir Herzog) foi lançado em múltiplos formatos na data que marca os cinquenta anos do assassinato do jornalista Vladimir Herzog. A versão acessível foi organizada pela Mais Diferenças, que desenvolve projetos relacionados à educação e cultura inclusivas. Carla Mauch, co-fundadora da organização, defendeu que ampliar a acessibilidade para livros clássicos ajuda na formação de novos leitores.
No encontro Pyxai: literatura e artivismo na luta guarani mbya, que reuniu o representante guarani Roberto Wherá e a antropóloga Maria Inês Ladeira, o bate-papo foi sobre a figura do xeramõi José Fernandes, liderança guarani em São Paulo que morreu em 2021 e foi importante na preservação da cultura oral indígena.
Já na mesa Futuros possíveis: direitos e narrativas LGBTQIA+, a conversa entre os autores Kael Vitorelo e Renan Quinalha, mediada por Schneider Carpeggiani, discutiu o direito ao prazer. Os convidados afirmaram que a pauta, tão intrínseca à comunidade LGBTQIA+, pode ser levada para as “bolhas” cis-héteros também.
Acervos que contam reuniu a editora Márcia Leite e a pesquisadora e curadora Luisa Setton em um debate sobre como a literatura pode ser uma ferramenta de construção identitária. “Vejo que é um desejo inclusive dos leitores: de se ver nos livros”, resumiu Setton.
Matemática e desenho
Na temática educacional, o matemático Marcelo Viana e o cientista de projetos Lucas Nissenbaum explicaram no Tablado Literário Mário de Andrade um pouco do funcionamento do Instituto de Matemática Pura e Aplicada (IMPA), do qual fazem parte. Desde 2024, a instituição sediada no Rio de Janeiro conta com um curso de graduação em que 80% dos alunos são selecionados a partir de seus desempenhos em olimpíadas de conhecimento.
A programação paralela ainda teve a Oficina para crianças: desenhando dinossauros e outros animais, com Edson Aran, no Tablado Literário das Bancadas. Autor de Aninha e o unicórnio (Musa, 2024), ele propôs às crianças desenhar bichos diversos, como um crocodilo (“só precisa enchê-lo de dentes”, sugeriu Aran) e um leão (“é um gato com juba”). A tenda tinha uma mesa grande, com papéis e canetas coloridas, e as crianças puderam desenhar sem limites para a imaginação.
A quarta edição d’A Feira do Livro 2025 acontece de 14 a 22 de junho, na praça Charles Miller, no Pacaembu. Realizado pela Associação Quatro Cinco Um, pela Maré Produções e pelo Ministério da Cultura, o festival literário paulistano, a céu aberto e gratuito, reúne mais de duzentos autores e autoras do Brasil e do exterior em uma programação com mais de 250 atividades, entre debates, oficinas, contações de histórias e encontros literários. Confira a programação e outras notícias do festival.
A Feira do Livro 2025 · 14 — 22 jun. Praça Charles Miller, Pacaembu
A Feira do Livro é uma realização do Ministério da Cultura, por meio da Lei Rouanet – Incentivo a Projetos Culturais, Associação Quatro Cinco Um, organização sem fins lucrativos dedicada à difusão do livro e da leitura no Brasil, Maré Produções, empresa especializada em exposições e feiras culturais, e em parceria com a Prefeitura de São Paulo.
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