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A cobertura especial d’A Feira do Livro, que acontece de 14 a 22 de junho, é apresentada pelo Ministério da Cultura e pela Petrobras

MINISTÉRIO DA CULTURA E PETROBRAS APRESENTAM

Fabrício Corsaletti, Ricardo Terto e Luana Chnaiderman de Almeida na mesa Um milhão de ruas, neste sábado (14), n’A Feira do Livro

451, A FEIRA DO LIVRO 2025,

‘Se o Brasil se levasse mais a sério, cronistas seriam super bem-editados’, diz Fabrício Corsaletti

Em conversa sobre a crônica, Ricardo Terto ainda destacou capacidade desse gênero tão brasileiro de se intrometer na vida do leitor

14jun2025

“Se o Brasil fosse um país que se levasse mais a sério, cronistas seriam super bem-editados, em todas as boas editoras, sempre”, afirmou Fabrício Corsaletti ao fazer uma enfática defesa desse gênero tão saboroso e tão brasileiro na mesa Um milhão de ruas, que teve mediação de Luana Chnaiderman de Almeida e aconteceu neste sábado (14), no Palco Petrobras d’A Feira do Livro. “Sinceramente, 90% dos romancistas brasileiros não chegam aos pés dos melhores cronistas brasileiros”, completou.

“Carlos Drummond de Andrade, Clarice Lispector, Cecilia Meireles, Paulo Mendes Campos, Fernando Sabino, Carlinhos Oliveira, Rubem Braga, Antônio Maria, Nelson Rodrigues, eles transformaram esse gênero, que era folhetim de jornal do século 19, em literatura”, disse Corsaletti, que acaba de lançar a coletânea Um milhão de ruas (Editora 34).

Ricardo Terto destacou a bonita capacidade da crônica de “se intrometer na vida da pessoa”, fazendo com que o leitor perca a parada do ônibus ou a estação do metrô, por exemplo. “Ainda mais agora que a gente vive num momento em que o nosso tempo está dominado por outras coisas, você poder escrever algo que de certa forma vence o tempo capturado, acho que a distração é uma forma de autonomia.”

O escritor, roteirista e produtor Ricardo Terto

Terto lembrou que começou a escrever em seu perfil no Facebook, em 2016. À época, ele trabalhava como vendedor em um shopping na avenida Paulista, palco das manifestações pelo impeachment de Dilma Rousseff. “Eu atravessava um mar de pessoas com camisa da CBF para trabalhar, ficava olhando pelo vidro, dobrando roupas e refletindo sobre muitas coisas. Quando comecei a escrever crônicas, eu nem chamava de crônica, chamava de textão.”

Brincadeira

Em seu livro mais recente, Brincadeira sem futuro (Todavia), Terto busca fazer “uma defesa do lúdico em qualquer experiência de vida”. “Quando eu deixo o geladinho derreter no texto, é também um comentário sobre o trabalho. Claro que eu vivi num lugar que tinha violência, tinha outras coisas acontecendo, mas eu quero contar o que está ao redor dessa violência. Pode vir com beleza, sem tirar o peso de toda a realidade que acontece ali.”

O título da obra vem de uma expressão que o pai, cearense, costumava falar quando via o filho brincando no quintal. Terto explicou que o livro é fruto de uma consolidação de vários temas da infância. Na visão dele, passamos o resto da vida brigando com a criança que fomos. “Parece que o papel da arte em certo sentido é que a gente tenta produzir algum tipo de coisa que evite que a nossa mente engula a nossa própria mente o tempo todo.”

O poeta e cronista Fabrício Corsaletti

Para Corsaletti, que é poeta e começou a escrever crônicas para a antiga revista dominical da Folha de S.Paulo, muito se fala da busca pelo comum na crônica, mas não é exatamente esse comum que o interessa. “O comum é quando você já se acostumou. A ideia da crônica que me interessa — o Rubem Braga é o exemplo máximo disso — é encontrar o incomum, o singular no comum, e revelar alguma coisa ali.”

Relembrando o que ouviu ao publicar seu primeiro livro, Marmitas frias, em 2017 — “É um bom começo” —, Terto afirmou que o gênero não se limita a isso. “A crônica é um bom começo, um meio incrível e um final sensacional. Experimentem e cuidado com a próxima estação.”

A quarta edição d’A Feira do Livro 2025 acontece de 14 a 22 de junho, na praça Charles Miller, no Pacaembu. Realizado pela Associação Quatro Cinco Um, pela Maré Produções e pelo Ministério da Cultura, o festival literário paulistano, a céu aberto e gratuito, reúne mais de duzentos autores e autoras do Brasil e do exterior em uma programação com mais de 250 atividades, entre debates, oficinas, contações de histórias e encontros literários. Confira a programação e outras notícias do festival.

A Feira do Livro
14 a 22 de junho de 2025
Praça Charles Miller – Pacaembu – São Paulo/SP
Entrada gratuita

A Feira do Livro 2025 · 14 — 22 jun. Praça Charles Miller, Pacaembu

A Feira do Livro é uma realização do Ministério da Cultura, por meio da Lei Rouanet – Incentivo a Projetos Culturais, Associação Quatro Cinco Um, organização sem fins lucrativos dedicada à difusão do livro e da leitura no Brasil, Maré Produções, empresa especializada em exposições e feiras culturais, e em parceria com a Prefeitura de São Paulo.

Quem escreveu esse texto

Guilherme Magalhães

Jornalista e mestrando em literatura brasileira na USP.