A cobertura especial d’A Feira do Livro, que acontece de 14 a 22 de junho, é apresentada pelo Ministério da Cultura e pela Petrobras
MINISTÉRIO DA CULTURA E PETROBRAS APRESENTAM


A FEIRA DO LIVRO 2025,
Ryane Leão: ‘Nós glorificamos a coragem, mas não o processo que foi chegar a ela’
Em conversa com Daniela Arrais, autoras falaram de suas trajetórias para se tornarem escritoras na mesa Mulheres ventania
18jun2025Uma conversa sobre a coragem, principalmente sobre a coragem de escrever, mas também sobre conviver com os momentos em que essa força falta, animou o público da mesa Mulheres ventania, que reuniu as escritoras Ryane Leão e Daniela Arrais nesta terça (17), no Palco Petrobras, com mediação da também escritora e jornalista Petria Chaves.
O poder da literatura de encorajar uma transformação pessoal, principalmente nas mulheres, é um tema que une os lançamentos recentes das autoras. Poeta cuiabana que compartilha seus escritos há dez anos na internet, Ryane acaba de publicar pela Planeta a coletânea de poemas Ninguém pode parar uma mulher ventania. Já Daniela lançou pelo selo Best-Seller, da editora Record, Para todas as mulheres que não têm coragem, em que compartilha sua trajetória até a estreia na literatura.
“Nós glorificamos a coragem, mas não o processo que foi chegar a ela”, disse Ryane. A poeta, que vive em São Paulo, contou da importância que foi para sua escrita conhecer a obra de outras autoras negras, nos desafios de poesia e slams.
“Meu primeiro livro, Tudo nela brilha e queima (Planeta, 2017), é sobre a mulher que eu queria ser”, contou. “Sempre tem uma mulher aí, nos becos, calçadas, encruzilhadas, se contando, especialmente uma mulher negra.”
Mais Lidas
A pernambucana Daniela Arrais é fundadora da Contente, produtora de conteúdo que busca impulsionar conversas contemporâneas, e contou que escreve desde a infância. Durante muito tempo, no entanto, disfarçou a vontade de ser escritora atuando como jornalista.
“O jornalista fala do outro. Eu escrevia de uma forma mais isenta, protegida, mas tinha algo muito forte em mim que eu entendia que precisava dividir”, contou. “Todo mundo que escreve não quer ficar na gaveta, a gente é impulsionada por um desejo de tocar o outro.”
Questionadas pela jornalista Petria Chaves, da rádio CBN, as autoras falaram sobre como foi a travessia até se autorizarem a publicar. A morte precoce de um irmão, no caso de Daniela, foi um dos fatores decisivos. “Meu irmão era uma pessoa brilhante, poderia ter escrito uns trinta livros e morreu cedo. Isso me deu um senso de urgência”, disse.
Ryane Leão, que escreve há dezessete anos, disse que a mãe “quase desmaiou” quando ela contou que queria se tornar escritora. A poeta, que estava bastante gripada, brincou sobre ter se forçado a estar na tarde de terça n’A Feira do Livro para encontrar seus leitores e que passou — e ainda passa — por muitos momentos em que precisa encontrar de novo a coragem.
“Seu compromisso com sua escrita é mais importante do que seu medo da exposição. Meu compromisso com a escrita foi o que me trouxe até aqui. Não só a minha [escrita] como a de outras mulheres que me nutriram”, disse ela, aplaudida pelo público.
Redes e ChatGPT
Ativas na internet, onde têm milhares de seguidores, as autoras também comentaram sobre como navegam numa realidade dominada pelas redes sociais e pela inteligência artificial. Daniela comentou que tem se indignado com o fato de livros para colorir estarem sempre nas listas de títulos mais vendidos — um efeito, acredita, de um esgotamento provocado por um mundo de “crises múltiplas” e cada vez mais acelerado.
“A gente está tão cansado que parece que só resta energia para colorir. Se nos querem robôs e máquinas, é preciso recuperar a capacidade de sonhar e imaginar outros mundo possíveis”, disse.
Ryane contou que era completamente contrária ao ChatGPT até três meses atrás, quando precisou organizar um documento e a ferramenta de inteligência artificial ajudou. Desconfiada, ela conta que pediu, então, que a plataforma criasse um poema de Ryane Leão e “ficou horrível”.
“A inspiração que a natureza entrega, de ver o sorriso de uma criança, de chamar os amigos para cozinhar, do cheiro bom de bolo no forno, não tem na internet nem no ChatGPT. A poesia não vai até a gente, é a gente que tem que fazer o caminho até ela”, disse. “A IA está ajudando a trabalhar mais, a fazer mais. A gente precisa contemplar mais. Deixa a IA lavar os pratos”, brincou Daniela.
A quarta edição d’A Feira do Livro 2025 acontece de 14 a 22 de junho, na praça Charles Miller, no Pacaembu. Realizado pela Associação Quatro Cinco Um, pela Maré Produções e pelo Ministério da Cultura, o festival literário paulistano, a céu aberto e gratuito, reúne mais de duzentos autores e autoras do Brasil e do exterior em uma programação com mais de 250 atividades, entre debates, oficinas, contações de histórias e encontros literários. Confira a programação e outras notícias do festival.
A Feira do Livro 2025 · 14 — 22 jun. Praça Charles Miller, Pacaembu
A Feira do Livro é uma realização do Ministério da Cultura, por meio da Lei Rouanet – Incentivo a Projetos Culturais, Associação Quatro Cinco Um, organização sem fins lucrativos dedicada à difusão do livro e da leitura no Brasil, Maré Produções, empresa especializada em exposições e feiras culturais, e em parceria com a Prefeitura de São Paulo.