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A cobertura especial d’A Feira do Livro, que acontece de 14 a 22 de junho, é apresentada pelo Ministério da Cultura e pela Petrobras

MINISTÉRIO DA CULTURA E PETROBRAS APRESENTAM

(Flávio Florido)

A FEIRA DO LIVRO 2025,

‘Precisamos ser antirracistas todos os dias’, diz Iza Cortada

A educadora conversou com o artista Moacir Simplicio e a jornalista Raquel Santos sobre a urgência e os desafios de projetos pedagógicos antirracistas

17jun2025

O fim de tarde no terceiro dia d’A Feira começava a esfriar, mas a mesa Racismo e antirracismo nas escolas reaqueceu o clima com um debate essencial. A educadora Iza Cortada, o artista e educador Moacir Simplicio e a jornalista Raquel Santos, mediados pela escritora Tati Bernardi, falaram sobre a importância da luta antirracista dentro dos muros das escolas — das salas de aula ao pátio, passando pelo corpo docente e pelo projeto pedagógico.

“Quando você entra na universidade, vê livros muito conhecidos que falam de uma arte que existe na Europa, e quase nada da Oceania, da Índia e muito menos do continente africano”, contou Simplicio, que é doutor em artes pela Unesp. “Aí a pessoa fala de ‘arte na África’. Opa, corrigindo: artes, no plural, nos países do continente africano. Precisamos mudar o vocabulário, pensar os processos artísticos sem esse olhar eurocêntrico.”

Moacir Simplicio, Raquel Santos, Iza Cortada e Tati Bernardi (Flávio Florido)

O antirracismo nas escolas demanda também atenção em outros espaços, principalmente dentro de casa, onde começa o letramento racial, segundo Santos. “Se eu não tenho vivência com pessoas pretas, na escola vai ser mero enriquecimento de currículo. Ser antirracista é um estilo de vida, não uma matéria da escola.”

Cortada reforçou a função reparadora dos projetos políticos pedagógicos nas instituições de ensino, mas disse que a educação antirracista começa bem antes, dentro de casa, realizando os própriso afazeres domésticos: “A gente não lava nossa roupa íntima nem nosso vaso sanitário. Esse é o primeiro passo”.

Estereótipos

Os três frisaram o peso dos estereótipos, sobretudo em uma mente infantil, ainda em formação. “A subjetividade das crianças é calcada em cima dessas imagens que vemos nas aulas de história: pretos como escravos, brancos como reis”, disse Santos.

“Os estereótipos caem em cima das nossas crianças, são formativos. Precisamos nos despir desse olhar eurocentrado”, completou Simplicio.

Moacir Simplicio (Flávio Florido)

Ao final da mesa, Cortada falou sobre casos de racismo nas escolas e a melhor maneira de agir. “As crianças reproduzem o que veem na sociedade. Elas não são racistas, elas cometem atos racistas.” De acordo com a educadora, a escola precisa orientá-las, não puni-las. “Quando compreendem a gravidade do que fizeram, elas mesmas não aprovam. Uma advertência não vai resolver. A criança precisa entender e refletir.” O público não economizou nas palmas, e a mesa terminou em uma cantoria dos convidados com o público. 

A quarta edição d’A Feira do Livro 2025 acontece de 14 a 22 de junho, na praça Charles Miller, no Pacaembu. Realizado pela Associação Quatro Cinco Um, pela Maré Produções e pelo Ministério da Cultura, o festival literário paulistano, a céu aberto e gratuito, reúne mais de duzentos autores e autoras do Brasil e do exterior em uma programação com mais de 250 atividades, entre debates, oficinas, contações de histórias e encontros literários. Confira a programação e outras notícias do festival.

A Feira do Livro 2025 · 14 — 22 jun. Praça Charles Miller, Pacaembu

A Feira do Livro é uma realização do Ministério da Cultura, por meio da Lei Rouanet – Incentivo a Projetos Culturais, Associação Quatro Cinco Um, organização sem fins lucrativos dedicada à difusão do livro e da leitura no Brasil, Maré Produções, empresa especializada em exposições e feiras culturais, e em parceria com a Prefeitura de São Paulo.

Quem escreveu esse texto

Manuela Stelzer