
A cobertura especial d’A Feira do Livro, que acontece de 14 a 22 de junho, é apresentada pelo Ministério da Cultura e pela Petrobras
MINISTÉRIO DA CULTURA E PETROBRAS APRESENTAM

A FEIRA DO LIVRO 2025,
Marilena Chaui: ‘o neoliberalismo é totalitário’
Para uma plateia lotada, filósofa criticou diferentes formas de autoritarismo que produzem a figura do ‘empresário de si mesmo’
15jun2025Vivemos numa sociedade autoritária, cindida entre o privilégio e a carência, na qual todas as relações se estabelecem entre alguém que manda e alguém que tem que obedecer. O diagnóstico foi um dos muitos feitos pela filósofa Marilena Chaui numa verdadeira aula para uma plateia lotada no Palco Petrobras d’A Feira do Livro neste sábado (14). “O ‘sabe com quem está falando?’ é a forma canônica de autoritarismo da sociedade brasileira, de onde derivam o racismo, o machismo, a homofobia e tudo o que somos”, disse, muito aplaudida pela plateia.
Em conversa com o jornalista Fernando de Barros e Silva, apresentador do podcast Foro de Teresina, Chaui falou sobre O que é ideologia, seu volume da clássica coleção Primeiros Passos, relançado este ano pela Boitempo com o título Ideologia: uma introdução. Em dois capítulos acrescentados à nova edição, a filósofa disserta sobre seu conceito de “discurso competente” e sobre o neoliberalismo, assunto sobre o qual se disse “ansiosa para falar”, provocando risadas no público.

“Considero que o neoliberalismo é totalitário”, disse. A professora explicou que a marca do totalitarismo é tornar indiferenciadas todas as esferas da existência humana – a casa, a escola, a igreja, o Estado passam a ser pensados como organizações, e em vez de governantes, fala-se em gestores. “Tudo assume uma forma e uma organização idênticas, que são da empresa, e isso culmina na ideia do empresário de si mesmo”, explicou. “Por isso se fala em gestor, não em governante.”
A professora da Universidade de São Paulo recorreu aos primórdios da criação do capitalismo e do surgimento do calvinismo para traçar seu retrato do neoliberalismo. Para Chaui, essa relação remete ao neoliberalismo e ao recente crescimento do neopentecostalismo no Brasil. “Essa é a base da figura neoliberal do indivíduo como empresário de si mesmo, e o resultado é o desespero ao ficar desempregado, ao não vencer. Isso gera depressão e o sentimento de uma miséria generalizada. Para isso, você precisa da igreja”, disse, ressaltando que o catolicismo também desempenhou esse papel durante séculos.
Para a filósofa, outra fonte da epidemia de depressão da atualidade, principalmente entre os mais jovens, é o celular, que ela define como “a forma máxima do narcisismo”. “Freud explicou que o narcisismo é inseparável da depressão, o que explica os números que temos hoje. Eu queria terminar [a apresentação] para cima, mas no neoliberalismo não dá”, disse, novamente aplaudida pelo público.
Filósofa popular
Marilena Chaui também relembrou o contexto em que publicou a primeira edição de O que é ideologia, lançada pela extinta editora Brasiliense em 1980. Um dos maiores nomes da filosofia do país hoje, ela recordou que à época do lançamento era uma professora ingressante no Departamento de Filosofia da USP, e que havia apenas concluído o mestrado.
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“Eu nunca tinha publicado nada. Venho de um departamento de filosofia criado por uma missão francesa com alguns professores que se achavam a aristocracia do pensamento. Só se publicava algo depois da defesa do doutorado e com muita cautela”, brincou. O livro, como lembrou o mediador, tornou-se um fenômeno de vendas, com mais de cinquenta edições. Depois disso, contou a professora, havia fila de filósofos da USP querendo publicar seus livros pela mesma editora.
Após a apresentação no Palco Petrobras, Chaui provocou umas das maiores filas para autógrafos do primeiro dia do evento, que se estendia por vários metros.
A quarta edição d’A Feira do Livro 2025 acontece de 14 a 22 de junho, na praça Charles Miller, no Pacaembu. Realizado pela Associação Quatro Cinco Um, pela Maré Produções e pelo Ministério da Cultura, o festival literário paulistano, a céu aberto e gratuito, reúne mais de duzentos autores e autoras do Brasil e do exterior em uma programação com mais de 250 atividades, entre debates, oficinas, contações de histórias e encontros literários. Confira a programação e outras notícias do festival.
A Feira do Livro
14 a 22 de junho de 2025
Praça Charles Miller – Pacaembu – São Paulo/SP
Entrada gratuita
A Feira do Livro 2025 · 14 — 22 jun. Praça Charles Miller, Pacaembu
A Feira do Livro é uma realização do Ministério da Cultura, por meio da Lei Rouanet – Incentivo a Projetos Culturais, Associação Quatro Cinco Um, organização sem fins lucrativos dedicada à difusão do livro e da leitura no Brasil, Maré Produções, empresa especializada em exposições e feiras culturais, e em parceria com a Prefeitura de São Paulo.
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