A cobertura especial d’A Feira do Livro, que acontece de 14 a 22 de junho, é apresentada pelo Ministério da Cultura e pela Petrobras
MINISTÉRIO DA CULTURA E PETROBRAS APRESENTAM

A FEIRA DO LIVRO 2025,
Homenagem a Dom Phillips emociona no quinto dia d’A Feira do Livro
Evento marcou o lançamento do livro póstumo do jornalista nesta quarta, que também reuniu Raphael Montes e Edyr Augusto falando de literatura policial e teve Ignácio de Loyola Brandão lendo romance inédito
19jun2025O quinto dia d’A Feira do Livro recebeu discussões em torno da literatura policial com os escritores Raphael Montes e Edyr Augusto; um encontro com Ignácio de Loyola Brandão, que tratou das distopias da ficção e da vida real; o lançamento do livro póstumo do jornalista Dom Phillips, Como salvar a Amazônia: uma busca mortal por respostas (Companhia das Letras); e uma celebração ao clássico Mrs Dalloway, de Virginia Woolf.
Na mesa Homenagem a Dom Phillips, mediada pelo cineasta Otavio Cury, Alessandra Sampaio e Tom Phillips emocionaram o Auditório Armando Nogueira ao celebrarem o legado do jornalista britânico assassinado em 2022 no Vale do Javari junto do indigenista Bruno Pereira. “Esse livro é muito além de um livro”, afirmou a viúva de Dom sobre Como salvar a Amazônia, obra póstuma que reúne trechos escritos por Dom e foi completada por colegas jornalistas.
“Esse livro, a última mensagem do Dom, ele colocou o coração nesse projeto, e é uma mensagem muito bonita, coletiva, de que a gente tem que participar de alguma forma”, afirmou Sampaio, que ainda emendou com uma nota de esperança: “A semente, por mais que eles tenham tentado calar o Dom e o Bruno, a semente está plantada e espalhada”.
Ao comentar a atmosfera de ameaça que ainda paira sobre defensores do meio ambiente na Amazônia e os retrocessos patrocinados pelo Congresso e pelo próprio governo Lula, Tom fez referência a uma frase de Beto Marubo, liderança do Vale do Javari. “O Beto tem falado muito isso nos últimos três anos, se o Dom e o Bruno voltassem para o Javari hoje, eles seriam assassinados de novo. Infelizmente é a mais pura verdade.”
Distopias e romance policial
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O diálogo entre literatura e audiovisual, que remonta aos primórdios do cinema, até hoje provoca debates em torno das adaptações de livros para as telas. N’A Feira do Livro, essa discussão reuniu no último encontro desta quarta (18) os escritores Raphael Montes, de Uma família feliz (Companhia das Letras, 2024) e Jantar secreto (Companhia das Letras, 2016), e Edyr Augusto, autor de Pssica (Boitempo, 2015).
Os dois conversaram na mesa Na cena do crime, que teve mediação de Roberta Martinelli, sobre o lugar do romance policial e de suspense no Brasil de hoje e as recentes adaptações televisivas e cinematográficas de livros que escreveram. “O filme é uma leitura possível do livro”, disse Montes, para quem “falar de literatura policial é falar de violência, e falar de violência é falar da sociedade”. O escritor e também roteirista e autor de telenovelas carioca recebeu uma das maiores filas de autógrafos do festival literário paulistano.
Nem bem começou sua participação n’A Feira do Livro, na tarde desta quarta (18), Ignácio de Loyola Brandão anunciou que faria algo inédito na carreira: “Nunca ninguém, nem minha mulher, leu nada meu antes de publicar, mas hoje vou ler aqui”, anunciou. Disposto e bem-humorado, o escritor de 89 anos celebrou os sessenta anos de literatura relembrando o início da carreira, refletindo sobre presente e futuro e fazendo aquilo que mais sabe: contar histórias.
Durante mais de uma hora, o imortal da Academia Brasileira de Letras desfiou casos, da infância em Araraquara (SP) aos muitos projetos que diz ainda querer realizar. Mediadora da mesa, a editora da Quatro Cinco Um Iara Biderman abriu a conversa lendo um trecho de Não verás país nenhum (1981), em que o cenário distópico descrito pelo autor era de um futuro de isolamento, mortes e máscaras. “Portanto, eu previ a Covid. Pura imaginação e loucura”, brincou o autor, que, cumprindo a promessa, ao final leu um trecho de Risco de queda, romance que está escrevendo sobre a velhice.
Virginia Woolf
Assim como o dia narrado em Mrs Dalloway, o debate n’A Feira do Livro 2025 sobre esse romance clássico de Virginia Woolf aconteceu em uma quarta-feira no meio de junho. Pesquisadora e tradutora de diversos escritos da autora britânica, entre os quais quatro diários e o próprio Mrs Dalloway, publicados pela editora Nós, Ana Carolina Mesquita conversou com a jornalista e mediadora de clubes de leitura Beth Leites, no Auditório Armando Nogueira, sobre a vasta produção literária da escritora, que ainda se mantém atual.
Publicado há exatos cem anos, Mrs Dalloway abarca várias das críticas de Virginia Woolf à sociedade vitoriana, como as restrições impostas pelos papéis sociais, analisou Mesquita. Por meio de Clarissa, protagonista do romance, a autora celebra a relativa liberdade da mulher na época, explica: “Ela [Clarissa] é um epítome de uma mulher que depois de muitos séculos pôde sair sem um acompanhante. A própria Virginia, quando era criança, não pôde fazer isso”.
Ambiente
A discussão sobre meio ambiente continuou na mesa A quem interessa o ambientalismo mainstream?, na qual os pesquisadores João Telésforo e Guilherme Moura Fagundes defenderam que qualquer solução para a crise ecológica atual é incompatível com o capitalismo. A mediação coube à antropóloga Joana Cabral e ocorreu no Tablado Literário Mário de Andrade, no início da tarde.
Tanto Telésforo quanto Fagundes assinam ensaios no livro Tempo fechado: capitalismo e colapso ecológico, recém-publicado pela Boitempo. Enquanto o primeiro trata de ESG, conjunto de princípios que avaliam o desempenho de uma empresa em relação a questões ambientais, sociais e de governança corporativa; o segundo discorre sobre como, no sistema capitalista, as ideias de exploração e preservação da natureza andam juntas, num aparente paradoxo.
Outra mesa que tratou de ambientalismo foi Educação baseada na natureza, com Dayana Araújo, diretora-executiva do Instituto Alana, dedicado à promoção de impacto socioambiental, e José Bueno, fundador da Rios e Ruas, iniciativa que busca chamar a atenção para os rios escondidos em várias cidades brasileiras. A mediação ficou a cargo da arquiteta e urbanista Marieta Colucci, no Espaço Motiva Tablado Literário.
Diversidade
Ao receber mais de vinte alunos de uma escola municipal de São Paulo para ouvir a escritora e professora Lavínia Rocha, autora de O que você pensa quando eu falo África? (Yellowfante, 2025), o Espaço Rebentos, palco voltado à literatura infantojuvenil, tratou de temas como diversidade e quebra de estereótipos. O que era para ser um bate-papo entre Rocha e a pesquisadora e documentarista Gabriela Romeu, transformou-se em uma grande sala de aula, com discussões em torno de identidade racial, as heranças africanas presentes no Brasil e a pedagogia do entusiasmo, método de ensino da professora que viralizou nas redes sociais.
A diversidade também foi o tema da mesa Canoa no Pacaembu, que aconteceu no Espaço Motiva Tablado Literário. Ela foi abordada pela jornalista e escritora Bianca Santana e pelo ilustrador Rodrigo Andrade, em uma conversa em torno da literatura infantil, que foi mediada pela editora Debora Alves no final da tarde. Os dois autores tiveram seus livros — Quem limpa?, de Santana, e Números, formas e cores, de Andrade — publicados pelo projeto Canoa, da Companhia das Letrinhas, e custam apenas R$ 12,90.
Na mesa, eles falaram sobre a importância de apresentar às crianças a realidade em toda a sua multiplicidade. “Temos que dar chance para elas poderem enxergar novas possibilidades nesse momento em que estão construindo um repertório visual”, afirmou Andrade, mencionando os diferentes corpos e famílias que aparecem nos livros em debate como exemplos dessa diversidade. “Temos o desafio de mostrar o que é, mas também o que pode ser”, ecoou Santana.
Outra conversa importante em torno do tema foi a realizada entre as escritoras Isabel Malzoni e Ananda Luz, organizadoras de Eu devia estar na escola (Caixote, 2024). As convidadas discutiram a realidade retratada no livro, realizado a partir de cartas escritas por crianças da favela da Maré que viram a violência policial bater na porta de suas casas.
O assunto foi tratado na mesa Mediação de temas sensíveis, que reuniu a coordenadora pedagógica da Redelê, Maria Alice Junqueira de Almeida, e a professora da rede pública Juliana Marques. O bate-papo tocou em pontos sensíveis como racismo e estereótipos, além de discutir o desafio de formar leitores, o papel da literatura em sala de aula e a principal característica para realizar uma mediação sensível: uma escuta ativa. “Não falar desses temas não vai fazer com que eles sumam. Precisamos falar sobre eles. A literatura dá palavras para explicar o que a gente sente”, afirmou Marques.
Arte, arquitetura e desenho
A arte também assumiu alguns dos palcos d’A Feira nesta quarta (18). A produtora e sócia da Madá Editora, Carmen Negrão, e o artista visual André Penteado estiveram no Tablado Literário das Bancadas para a mesa O livro é um lugar livre, na qual conversaram sobre fotolivros, acervo de fotografias e narrativas. “Um livro não é só para vender, pode contar a história da sua família, de uma viagem”, comentou Negrão. “É um instrumento importante não só para o autor.” Penteado complementou, depois de falar um pouco sobre seu trabalho com livros que misturam textos e imagens: “É um lugar livre, porque ensina a pensar”.
No mesmo espaço, o arquiteto Guilherme Wisnik apresentou seu livro 2016 Bolívia, publicado pela editora portuguesa Circo de Ideias, em 2017. É um registro de viagens que Wisnik realizou pelo país sul-americano para conhecer a chamada arquitetura neoandina. O livro é acompanhado de fotografias de Tatewaki Nio.
E para descontrair, a Oficina de desenhos estimulou a criatividade de pessoas de diversas idades no Espaço Rebentos. Na atividade coordenada por Jorge Franco, foi construído um mural de obras horripilantes: artes nomeadas como “O monstro de muitos olhares”, “Bafo Bafudo” e “Meu irmão quando fica bravo” divertiram quem passava ao redor. No final, mais de vinte e cinco folhas com desenhos criativos foram expostas no espaço.
A quarta edição d’A Feira do Livro 2025 acontece de 14 a 22 de junho, na praça Charles Miller, no Pacaembu. Realizado pela Associação Quatro Cinco Um, pela Maré Produções e pelo Ministério da Cultura, o festival literário paulistano, a céu aberto e gratuito, reúne mais de duzentos autores e autoras do Brasil e do exterior em uma programação com mais de 250 atividades, entre debates, oficinas, contações de histórias e encontros literários. Confira a programação e outras notícias do festival.
A Feira do Livro 2025 · 14 — 22 jun. Praça Charles Miller, Pacaembu
A Feira do Livro é uma realização do Ministério da Cultura, por meio da Lei Rouanet – Incentivo a Projetos Culturais, Associação Quatro Cinco Um, organização sem fins lucrativos dedicada à difusão do livro e da leitura no Brasil, Maré Produções, empresa especializada em exposições e feiras culturais, e em parceria com a Prefeitura de São Paulo.
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JUNHO, 2025