Na mesa Humano, demasiado humano, os escritores Andréa Del Fuego e Caetano Romão discutiram os desafios da escrita e o que significa produzir uma literatura profundamente humana. A conversa, mediada por Gabriela Naigeborin, aconteceu no Espaço Motiva Tablado Literário, no final da tarde de sábado (21).
Del Fuego definiu o ato de escrever como um vício, uma busca constante por concentração e por aquele raro estado de imersão total no texto. “É muito viciante começar a escrever, é um processo sem fim. É uma espécie de concentração que você alcança depois em outros momentos, mesmo nos momentos menos favoráveis”, contou.
Autora de A pediatra (Companhia das Letras, 2021), ela afirmou que ler e escrever dividem a mesma lógica de busca constante. “Às vezes, entre aquele livro apaixonante e um próximo, pode levar alguns anos, todo mundo sabe disso. Você nunca mais encontrou aquele impacto, mas você vai buscar, e eu acho o processo de escrita viciante.”
Del Fuego também falou sobre as dificuldades de manter uma rotina de escrita em meio às demandas do cotidiano. “Não é factível você ter um preparo todos os dias de um lugar certo para escrever, de um ambiente mental para escrever, de uma aceitação da sua mulher, do seu companheiro, da sua companheira, do seu filho, da sua sogra, do seu cachorro, do seu trabalho. Tudo está ali para que nenhum cérebro consiga sustentar essa imaginação, esse momento de escrita, então tudo isso exige de nós um esforço imenso”, disse.
Processo
Ela compartilhou que muitas vezes seu processo envolve longos períodos de maturação e recomeços. “Eu fiquei, entre As miniaturas e A pediatra, dez anos sem escrever, e isso me deu uma ansiedade absurda. Escrever como se ninguém fosse ler, eu ainda acho que é a melhor oficina de escrita possível”, contou.
Atualmente, a autora trabalha em seu novo romance, ainda procurando a voz certa para sustentar a narrativa. “Fico alguns meses refazendo os mesmos primeiros parágrafos, até que eu instale o software que vai me convencer de que eu vou sustentar aquela voz até o final”, explicou.
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Caetano Romão, que lança seu segundo livro, Escrevo seu nome no arroz (Fósforo, 2025), compartilhou uma inquietação recorrente: a sensação de estar sempre lidando com o mesmo tema, ainda que por caminhos diferentes. “Cada livro é um ambiente muito único. Eu ainda sou muito novo, é só meu segundo livro, mas eu ainda sinto que, desde quando percebi que escrevia, estava escrevendo sempre a mesma coisa, de um jeito diferente, e foi muito frustrante para mim”, afirmou.
Para ele, a escrita é uma tentativa constante de se olhar por outros ângulos. “Para mim, a escrita sempre veio num lugar de perseguição de mim mesmo, dessa coisa de tentar lançar um olhar que eu não tinha sobre um mesmo objeto.”
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A Feira do Livro 2025 · 14 — 22 jun. Praça Charles Miller, Pacaembu
A Feira do Livro é uma realização do Ministério da Cultura, por meio da Lei Rouanet – Incentivo a Projetos Culturais, Associação Quatro Cinco Um, organização sem fins lucrativos dedicada à difusão do livro e da leitura no Brasil, Maré Produções, empresa especializada em exposições e feiras culturais, e em parceria com a Prefeitura de São Paulo.
